Utilize o conteúdo da aula, designado por "Subsídio para o Evangelizador", para desenvolver palestras espíritas para jovens e adultos.

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Aula 126 - Parábola do filho pródigo

Ciclo 1 - História:  O fujão ou Parábola do filho pródigo (para os pequenos) - Atividade: Dobradura - Cachorro ou LE - L4- Cap. 2 - 6 . Expiação e arrependimento.

Ciclo 2 - História: Parábola do filho pródigo - Atividade: PH - Os doze apóstolos - 8. O arrependimento ou/e PH - Jesus - 85. Parábola do filho pródigo.

Ciclo 3 - História: Parábola do filho pródigo ou/e O ensino da sementeira  - Atividade: PH - Jesus - 86. Passos para a regeneração.

Mocidade - História: Parábola do filho pródigo ou/e Gratidão como caminho para a individuação  -  Atividade:  2 - Dinâmica de grupo:  Arrependimento, expiação e reparação.

 

Dinâmicas:  ArrependimentoParábola do filho pródigoDesperdício.

Mensagens espíritas: Parábola do filho pródigo.

Sugestão de vídeo: - História: A Parábola do filho pródigo - Editora Bicho Esperto  (Dica: pesquise no Youtube)

Sugestão de livro infantil: - Coleção:Parábolas e ensinamentos de Jesus - O Filho Pródigo .Guilherme M. dos Santos. Editora Bicho Esperto.

 

Leitura da Bíblia: Lucas - Capítulo 15


15.10 "Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.”


15.11 Disse também: “Um homem tinha dois filhos.


15.12 O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres.


15.13 Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente.


15.14 Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria.


15.15 Foi pôr-se a serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos.


15.16 Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.


15.17 Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância... e eu, aqui, estou a morrer de fome!


15.18 Vou me levantar e irei a meu pai, e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti;


15.19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.


15.20 Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, o abraçou e o beijou.


15.21 O filho lhe disse, então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.


15. 22 Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés.


15.23 Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa.


 15.24 Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa.


15.25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.


15.26 Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia.


15.27 Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo.


15.28 Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele.


15.29 Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos.


15.30 E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!


15.31 Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.


15.32 Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado.


Mateus - Capítulo 3


3.2 Jesus disse: Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo.


 

Tópicos a serem abordados:

- A parábola do Filho Pródigo, talvez seja, entre todas as histórias contadas por Jesus, a mais conhecida. Ela contém três personagens: um pai amoroso e dois filhos, sendo um pródigo  (gastador) e o outro egoísta. O Pai de família simboliza Deus e os filhos representam  a humanidade. No entanto, na parábola só se comenta o procedimento de um dos filhos, o mais moço, o pródigo, e nada se diz sobre o outro filho, o mais velho, o egoísta, o maior pecador. Então, para compreendermos melhor esta história, vamos estudá-la com mais detalhes.

 - Vemos nesta parábola que  o filho mais novo, após receber toda a herança  que lhe cabia,   afasta-se de seu pai para uma terra distante, esquecendo-o. E depois entregua-se a uma vida de desregramentos (gastando tudo o que tinha), caindo na miséria. Se fizermos uma reflexão, isto também, às vezes,  acontece conosco , em relação a Deus: afastamo-nos Dele ,não pela distância, porque Deus está em toda a parte, mas pelo coração; esquecendo-Lhe as leis, entregamos nossa alma a todo tipo de vícios, perdendo o bom senso e a noção do bem e do mal.

- Mas, felizmente, logo após, cansado de tanto sofrimento e da solidão, o filho pródigo também  cai em si e  resolve voltar para casa de seu pai. Ou seja, em outras palavras, significa que o homem  insensato, tocado pelo arrependimento, volta-se para Deus e diz: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho...” E Deus, nosso amoroso Criador,  que jamais condena uma falta cometida ao sofrimento eterno,  recebe-nos de braços abertos, pois sempre se alegra quando um filho perdido encontra o caminho de volta para a luz. Deus, na sua infinita misericórdia, dá sempre novas oportunidades para que o filho arrependido repare os seus erros, através de uma nova existência. O Nosso Pai Celestial jamais nos abandona.

- Todos nós erramos com frequência e não há na face da Terra quem esteja livre de tropeços .O que mais importa é a nossa capacidade de recuperação diante do erro praticado. Deus não quer choros, lamentações, dramas de consciência. A vida coopera para a nossa reabilitação, não para que fiquemos aprisionados no sentimento de culpa. Por isso, diante do erro, busquemos reparar o dano causado através do amor. Esse é o remédio sagrado para nossas feridas. Entretanto, Allan Kardec disse que " o arrependimento, embora seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só"; são necessárias também  a expiação e a reparação, isto é,  precisamos passar pelo sofrimento que  causamos ao outro e devolver a vítima o que lhe é devido ,para apagar os traços de uma falta e suas consequências. Todavia, o Espírito pode prolongar os sofrimentos pela persistência no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem.

 - Enfim , continuando a analisar a história, percebemos que o irmão mais velho, apesar da aparência de filho obediente, é pior que o outro . Ou seja, embora, o pródigo tenha alguns defeitos, ele também possuia qualidades , pois ao reconhecer seus erros foi sincero e humilde . Já o filho mais velho não possuia nada de bom, ele enterrou todos os talentos que recebeu, assim como o avarento que esconde todas as suas moedas. Ele vivia à custa do Pai,  e, com a chegada do irmão, ao ver a festa com que aquele foi recebido, entristeceu-se: cheio de egoísmo e ciúme, revoltou-se contra o Pai! Agiu deste modo, pois se considera o único herdeiro das coisas espirituais , pelo fato de ter evitado  o mal . Entretanto, pessoas assim costumam ser orgulhosas, exclusivistas, e  afastam-se dos demais para não se contaminarem, como faziam os fariseus hipócritas. Não matam, porém  são  incapazes de arriscar um fio de cabelo para salvar alguém. Não roubam, mas também não praticam a caridade. Não fazem acusações falsas, mas não se esforçam  para defender um inocente. Seus atos e atitudes são totamente negativos.

- Por isso o Filho pródigo é uma figura tão simpática apesar da sua vida pecaminosa e o seu irmão é um ser tão repulsivo. E, como já disse antes,  parece ser ainda pior que aquele. Entretanto, vale lembrar que niguém se perde totalmente, pois não há culpas irreparáveis! Cedo ou tarde, virão depois, os efeitos dolorosos, e com eles o arrependimento e a vontade de se tornar melhor. No entanto, o ideal seria que todos se mantivessem no bom caminho.

 

Perguntas para fixação:

1. Quais são os personagens da parábola do filho pródigo?

2. Quem simboliza o pai na parábola?

3. Quem representa os filhos na parábola?

4. Qual é o significado da palavra "pródigo”?

5. Por que o filho pródigo se arrependeu do que fez?

6. Como o pai recebeu o filho pródigo após ter se arrependido?

7. Existem castigos eternos?

8. Após o arrependimento, o que é necessário fazer para apagar os nossos erros?

9. De que modo Deus dá oportunidade para que possamos reparar a nossa falta?

10. Como o filho mais velho reagiu quando soube que o seu pai iria preparar uma festa para o pródigo?

11. Por que o filho mais velho pode ser considerado pior que o filho pródigo?

 

Subsídio para o Evangelizador:

            A parábola acima é, dentre todas as imaginadas pelo Divino Mestre, a mais conhecida e que mais tem sido comentada. Realmente, trata-se de página tocante, que fala à nossa alma e nos sensibiliza o coração. É geralmente debaixo do aspecto sentimental que a parábola, ora em apreço, é vista e esplanada, tendo, mesmo, fornecido elemento a vasta literatura em torno do seu enredo. Mas não é somente sob tal prisma que devemos vê-la. Cumpre aprofundá-la, tirando de sua estrutura as grandes verdades que encerra. No estudo, embora ligeiro, que vamos fazer desta edificante historieta, começaremos chamando a atenção para o título que lhe deram os tradutores e os exegetas das Escrituras: "Parábola do filho pródigo". Seria mais acertado, a nosso ver, que a denominassem: Parábola do pródigo e do egoísta — de vez que o seu entrecho gira, principalmente, em torno de duas personagens que encarnam aquelas duas expressões da imperfeição humana. Apenas três pessoas figuram neste conto evangélico: o pai e os dois filhos. No entanto, só se comenta o procedimento de um dos filhos, o mais moço, o pródigo, e nada se diz sobre o outro filho, o mais velho, o egoísta, o maior pecador. Vamos, pois, trazê-lo à baila, pois é protagonista importante cujo proceder deve ser devidamente estudado. (Na Seara do Mestre. Cap. 34. Vinicius)

            Ambas as individualidades que representam o Filho Obediente e o Filho Desobediente simbolizam a Humanidade Terrestre.

            O Pai de ambos aqueles filhos, simboliza Deus. (Parábolas e Ensinos de Jesus. Parábola do Filho Pródigo. Cairbar Schutel)

            Após receber todos os haveres que lhe couberam em partilha, o moço afasta-se de seu pai para uma terra distante, esquece-o, e, entregue a uma vida de desregramentos, afunda-se na miséria.
            É o que acontece também a nós outros, em relação a Deus: apartamo-nos d’Ele, não pela distância, porque Deus está em toda a parte, mas pelo coração, e, olvidando-Lhe as leis, entregamos nossa alma a toda a sorte de desatinos, perdendo a retidão do juízo, a. candura do sentimento, a sensibilidade da consciência e o discernimento justo do bem e do mal.
            Vendo-se arruinado, o pródigo coloca-se, então, sob a dependência de um dos moradores da tal terra e é mandado a guardar o gado imundo. Ali, quer saciar-se com aquilo que édado como alimento aos animais de seu amo, mas o que lhe dão deixa-o a desfalecer de fome.
            O que a parábola aqui nos ensina é que as vaidades mundanas, as sensualidades grosseiras e suínas, com as quais muitos se comprazem, tal qual as cascas sem substâncias (repasto dos porcos), que só enchem e pesam, mas não alimentam, ao cabo de algum tempo conduzem fatalmente à fome de espírito e de coração, como a sentiu afinal o nosso estróina.
            Nessa situação aflitiva, cai em si, recorda-se do pai e resolve voltar a penates, certo de que ele lhe há-de perdoar.
            Isto nos faz compreender a missão providencial da dor. Quando na terra tudo nos corre às mil maravilhas, nem sequer cogitamos se Deus existe ou deixa de existir. Visite-nos a desgraça, porém, e nossa alma, quebrantada, logo se volta para o céu, porque só de lá nos podem vir as consolações e o refrigério de que necessitamos.
            Põe-se então a caminho — continua a historieta — e “quando ainda vinha longe, viu-o seu pai”. Não se contém, não espera que o filho se aproxime, que lhe fale e se humilhe. Corre-lhe ao encontro, abraça-o e beija-o enternecidamente.
            — “Pai — exclama o pródigo —, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.”
            O pai não lhe dá tempo de acrescentar as palavras que pensava dizer:
            “Trata-me como um de teus jornaleiros.”
            Tal é o arrebatamento de seu amor paterno, que, antes mesmo que o filho lhe fizesse uma só confissão do seu passado de prevaricações, vergonhas e dores, já ele o havia acolhido com sua demência.
            E exclama aos seus servos: “Tirai-lhe esses andrajos e vesti-lhe o seu antigo traje”, pois assim me apraz ver restituido o meu filho, em sua primitiva dignidade. “E enfiai-lhe um anel no dedo”, símbolo de autoridade senhorial, pois fica reintegrado em seu lugar de filho e herdeiro dos bens paternos: “calçai-o”, para que seus pés não se firam pelo chão; “matai um vitelo gordo, e comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho que me morrera, aqui o tenho de novo em meu regaço.
            É exatamente assim que Deus procede conosco.
            A carga de nossos erros impede-nos que nos cheguemos à Sua presença, mas Ele desce até nós, acerca-se de nossas almas penitentes, toma-nos em  Seus braços, dá-nos o ósculo de perdão, e, todo ternura, acolhe-nos em Seus domínios. Pai amantíssimo que é, “não quer a morte do filho mau e ingrato, mas sim que ele se converta, que abandone o mau caminho, e viva”.(Parábolas Evangélicas. Cap.21. Rodolfo Calligaris)
            O filho mais velho, porém, não estava em casa.
            Achava-se trabalhando no campo. Quando voltou e viu aquela grande movimentação no interior da casa e ouviu as belas canções que os músicos acompanhavam com seus instrumentos, chamou um dos servos e perguntou o que era aquilo.
            O servo respondeu:
            — Foi teu irmão que chegou. Teu pai, de tão alegre e feliz, mandou que preparássemos uma ceia e uma festa, porque o jovem voltou são e salvo.
            O filho mais velho, cheio de ciúme, revoltou-se contra a bondade de seu pai e não quis entrar em casa. (Histórias que Jesus contou. Cap. 3. Clóvis Tavares)
            O Pródigo é a fiel imagem dos pecadores cujas faltas transparecem, ressaltam logo à primeira vista. Semelhantes transviados deixam-se arrastar ao sabor das voluptuosidades, como barcos que vogam à mercê das ondas, sem leme e sem bússola. Sabem que são pecadores, estão cônscios das imperfeições próprias e, comumente, ostentam para os que têm olhos de ver, de permeio com as graves falhas de seus caracteres, apreciáveis virtudes. E assim permanecem, até que o aguilhão da dor os desperte.

            O filho mais velho, o Egoísta é a perfeita encarnação dos pecadores que se julgam isentos de culpa, protótipos de virtudes, únicos herdeiros das bem-aventuranças eternas, pelo fato de se haverem abstido do mal. São os orgulhosos, os exclusivistas, os sectários que se apartam dos demais para não se contaminarem, como faziam os fariseus. A soberba não lhes permite conceber a unidade do destino. O Pródigo, a seu ver, deve ser excluído do lar. Não vêem ligação alguma de solidariedade entre os membros da família humana. Quando se referem ao Pródigo, dizem: "Esse teu filho." Descrêem da reabilitação dos culpados. Só podem ver a sociedade sob seus aspectos de camadas diversas, camadas inconfundíveis. Imaginam-se no alto, e os demais em baixo.

            O mal do Egoísta é muito mais profundo, está muito mais radicado que o do Pródigo. Este tem qualidades ao lado dos defeitos. Aquele não tem vícios, mas igualmente não tem virtudes. É o Ladrão da cruz, e o Moço de qualidade: aquele penetra os arcanos celestiais, este fica excluído. O Egoísta não esbanja os dons: esconde-os, como o avarento esconde as moedas. Não mata, porém é incapaz de arriscar um fio de cabelo para salvar alguém. Não rouba, mas também não dá. Não jura falso, mas não se abalança ao mais ligeiro incômodo na defesa dum inocente. Seus atos e atitudes são invariavelmente negativos.

            Tais pecadores acham-se, por isso, mais longe de Deus que os demais, apesar das aparências denunciarem o contrário. E a prova está em que as íntimas simpatias, de todos que lêem a Parábola, se inclinam para o Pródigo, num movimento natural e espontâneo. (Nas pegadas do Mestre. O Pródigo e o Egoísta. Vinicius)

            Em resumo: esta simples alegoria, capaz de ser compreendida por uma criança, demonstra o amparo e a proteção que Deus sempre reserva a todos os seus filhos. Nenhum deles é abandonado pelo Pai Celestial, tenha os pecados que tiver, pratique as faltas que praticar, porque se é verdade que o filho chega a perder a condição de filho, o Pai nunca perde a condição de Pai para com todos, porque todos somos criaturas suas. Estejam eles onde estiverem, quer no Mundo, quer no Espaço; quer neste planeta, quer em país longínquo, ou seja noutro planeta, com um corpo de carne ou com um corpo espiritual, o Pai a nenhum despreza, a nenhum abandona, porque nos criou para gozarmos da sua Luz, da sua Glória, do seu Amor!

            O Pai Celestial não é o pai da carne e do sangue, pois como disse o Apóstolo: “a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus”; a carne e o sangue são corruptíveis, só o Espírito é incorruptível, só o Espírito permanece eternamente. O Pai Celestial é Espírito, é Deus de Verdade, Deus Vivo, por isso seus filhos também são Espíritos que permanecem na Imortalidade.

            A Luz, a Verdade, o Amor não foram criados para os corpos, mas sim para as almas.

            Como poderia Deus criar um “filho pródigo”, a não ser para que ele, depois de passar pela experiência dura do mal que praticou, voltar para o seu Criador, e, arrependido, propor o não mais ser perdulário, mas adaptar-se à Vontade Divina, e caminhar para os destinos felizes que lhe estão reservados!

            Como poderia Deus criar uma alma ao lado de um Inferno Eterno!

            Que pai é esse que produz filhos para mandá-los atormentar para sempre?

            A Parábola do Filho Pródigo é a magnificência de Deus e ao mesmo tempo o solene e categórico protesto de Jesus contra a doutrina blasfema, caduca, irracional das penas eternas do Inferno, inventada pelos homens.

            Não há sofrimentos eternos, não há dores infindáveis, não há castigos sem fim, porque se os mesmos fossem eternos, Deus não seria justo, sábio e misericordioso.

            (...) A Lei de Deus é igual para todos: não poderia ser boa para o bom e má para o mau; porque tanto o que é bom quanto o que é mau estão sob as vistas do Supremo Criador, que faz do mau bom, e do bom melhor: pois tudo é criado para glorificar o seu Imaculado Nome!

            Não há privilégios nem exclusões para Deus; para todos Ele faz nascer o seu Sol, para todos faz brilhar suas estrelas, para todos deu o dia e a noite; para todos faz descer a chuva!

            Quando a criatura humana, num momento de irreflexão se afasta de Deus, e, dissipando os bens que o Criador a todos doou, se entrega a toda sorte de dissoluções, a dor e a miséria, esses terríveis aguilhões do Progresso Espiritual ferem rijo a sua alma orgulhosa até que, num momento supremo de angústia, ela possa elevar-se para Deus e deliberar reentrar no caminho da perfectibilidade. É então que, como o Filho Pródigo, o homem transviado, tocado pelo arrependimento, volta-se para o Pai carinhoso e diz: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho...” E Deus, nosso amoroso Criador, que já o havia visto em caminho para dEle se aproximar e rogar, abre àquele filho as portas da regeneração e lhe faculta todas as dádivas, todos os dons necessários para esse grandioso trabalho da perfeição espiritual.

            Está escrito no Evangelho que houve um banquete com música e festa à chegada do Filho Pródigo à Casa Paterna. Está escrito mais, que o Pai mandou ver a melhor roupa para vestir o filho que voltou, as melhores sandálias para lhes resguardar os pés e, ainda lhe colocou no dedo um belo anel, tal foi a alegria que teve, e tal é a alegria nos Céus, quando uma alma transviada, para os Céus se volta.

            O Pai está sempre pronto a receber o Filho Pródigo, e os Céus estão sempre abertos à sua chegada.

            Não há falta, por maior que seja, que não se possa reparar; assim como não há nódoa, por mais fixa que pareça, que não se possa apagar.

            Tudo se retempera, tudo se corrige, tudo se transforma, do pequeno para o grande, do mau para o bom, das trevas para a luz, do erro para a verdade! Tudo limpa, tudo alveja, tudo reluz ao atrito do fogo sagrado do Progresso, tudo se aperfeiçoa, tudo evolui, todas as almas caminham para Deus!

            Eis o que diz o Evangelho, mas o Evangelho de Jesus Cristo, o Evangelho do Amor a Deus e ao próximo.

            Completando a Parábola, vemos que o Filho Pródigo recebeu os bens, saiu de casa, esbanjou-os dissolutamente numa vida desregrada. E o que não foi Pródigo, o Filho Obediente, por seu turno, enterrou seus bens, como aquele que enterrou o talento da Parábola.

            O que diz o Evangelho que o Filho Obediente fez dos bens que possuía?

            Ele vivia à custa do Pai, participava de todos os bens que havia em casa, e, com a chegada do irmão, ao ver a festa com que aquele foi recebido, entristeceu-se: cheio de egoísmo, de avareza, revoltou-se contra o Pai!

            Infelizmente, é assim esta atrasada Humanidade! Ela se compõe de Filhos Pródigos e de Filhos Obedientes, mas estes parecem ser ainda piores que aqueles! (Parábolas e Ensinos de Jesus. Parábola do Filho Pródigo. Cairbar Schutel)

            Porque será que o Filho pródigo é uma figura tão simpática apesar da sua vida pecaminosa, enquanto que o irmão é quase repulsivo, a despeito da prudência com que sempre se houve no lar paterno, donde jamais se apartou? Onde o motivo dessa inclinação de todos os corações pelo dissipador da herança, pelo perdulário que desce pela encosta dos vícios até à mais negra miséria ?

            A razão é esta: O Pródigo pecou, sofreu, amou. A dor despertou-lhe os sentimentos, iluminou-lhe a consciência, converteu-o. A humildade, essa virtude que levanta os decaídos e engrandece os pequeninos, exaltou-o, apagando todas as máculas do seu espírito, então redimido. O bem sobrepuja o mal: uma só virtude destrói o efeito de muitos vícios. A caridade, diz Pedro, cobre uma multidão de pecados.

            Depois, nós, pecadores confessos, vemos, na vida do Pródigo, a nossa própria história.

            Sua epopeia é a nossa esperança. Eis porque com ele tanto simpatizamos. E porque nutrimos sentimentos opostos a respeito de seu irmão? Porque é a personificação do egoísmo. O egoísta insula-se de todos pela influência de seus próprios pensamentos. É orgulhoso, é sectário. Separa-se dos demais porque se julga perfeito.

            Jacta-se intimamente em não alimentar vícios, mas nenhuma virtude, além da abstenção do mal, nele se descobre. É um cristalizado: não suporta as conseqüências dos desvarios, mas não goza os prazeres da virtude. Sua conversão é mais difícil que a de qualquer outra espécie de pecadores. A presunção oblitera-lhe o entendimento, ofusca-lhe as ideias. Imaginando-se às portas do céu, dista ainda dele um abismo.

            Supõe-se um iluminado, e não passa de um cego. A propósito desse gênero de cegueira disse o mesmo autor da parábola, em cuja trama figuram o Pródigo e o Egoísta: "Graças te dou, meu Pai, porque escondeste as tuas verdades dos grandes e prudentes, e as revelaste aos inscientes e pequeninos."

            Finalmente: nós nos inclinamos para o Pródigo, e desdenhamos o seu irmão, porque escrito está: Aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado. Tal é a lei a que nosso coração espontaneamente obedece. (Nas pegadas do Mestre. Por que será? Vinicius)

            Há ainda mais um raio de luz se esparze deste conto: é a relatividade do livre-arbítrio. O Espiritismo esclarece essa controvertida matéria, firmando o preceito de que o livre-arbítrio existe, pois, do contrário, seríamos uns autômatos, joguetes das circunstâncias que nos cercam, não nos cabendo, portanto, responsabilidade alguma pelos nossos atos, bons ou maus. Proscrevendo-se in totum o livre-arbítrio individual, não haveria ação imputável. O homem não passaria de um títere, de um fantoche, movendo-se ao sabor de cordéis estirados por influências mesológicas. Mas, ao considerarmos esse livre-arbítrio, cumpre assinalar a sua relatividade, o que é muito importante. O Espírito, quanto mais atrasado, menor soma de livre-arbítrio, naturalmente, pode desfrutar. À medida que vai progredindo e aperfeiçoando-se moral e intelectualmente — a sua esfera de ação livre dilata-se e amplia-se, até que adquire completa liberdade. Daí o dizer eloquente do sábio Mestre: "Se permanecerdes nas minhas palavras sereis verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". (João, 8:31 e 32.) A ignorância, em seu sentido verdadeiro, significando não só a falta de cultivo da inteligência, mas também, e principalmente, do sentimento, constitui o cárcere do Espírito. Basta vermos a triste condição do analfabeto. É um emparedado que se debate entre as grades da prisão intelectual. Abre um livro e não pode interpretar os seus símbolos; vê os emplacamentos das ruas, a numeração dos edifícios, as tabuletas, os letreiros, mas não sabe traduzi-los. Tem olhos, porém não vê; tem inteligência e não se acha habilitado a servir-se dela, aplicando-a em seu benefício. É um cego, cujos passos estão restritos a um certo âmbito acanhado e estreito. Alfabetiza-se: eis então que um novo mundo se abre diante dele. Seu círculo de ação se alarga prodigiosamente. Independe já de outrem para realizar seus intentos; já pode orientar-se na solução dos problemas que o interessam. Se prossegue na obra cultural iniciada, aprende outros idiomas, lê em outras línguas, entrando em comunicação com indivíduos de nações e raças diversas, inteirando-se da vida e dos costumes de outros irmãos espalhados pela imensa área do globo terráqueo. A liberdade do Espírito mede-se, pois, pela soma de conhecimento e virtudes adquiridas. Assim como o pássaro não logra levantar voo senão com o concurso de ambas as asas, assim também o Espírito jamais se alcandorará às regiões da liberdade perfeita, senão mediante o concurso dos dois fatores evolutivos — o moral e o intelectual. A falta daquele inutiliza os proventos deste, dando lugar, apenas, a aleijões que se arrastam e se debatem sem conseguirem erguer-se acima do pó e da lama. É o que nos mostra claramente a parábola que é objeto das nossas cogitações, neste momento. O pródigo usou do seu relativo livre-arbítrio. Foi onde era possível, dentro dos limites tragados pelo seu grau de evolução. Ele não estava só, entregue somente aos devaneios próprios da mocidade inexperiente e ousada. O olhar benevolente e vigilante do pai o acompanhava, aguardando o momento oportuno em que as reações dos seus atos impensados e atrabiliários se fizessem sentir. Deixou, por isso, que o filho procedesse como lhe aprouvesse, sempre, porém, dentro dos limites compatíveis com a sua idade e insipiência.

            Aí está, portanto, outro princípio que faz parte do corpo doutrinário espírita, perfeitamente confirmado pelo Evangelho: a relatividade do livre-arbítrio. O homem é uma criança, espiritualmente falando. Não pode fazer o que quer, não pode perder-se irremediavelmente, ainda que em  sua ignorância, fraqueza e insânia o quisesse. Deus procede com ele como nós, os pais terrenos, procedemos com os nossos filhos. Em matéria de liberdade, concedemo-la paulatinamente, dosando-a de acordo com o desenvolvimento que vão adquirindo, até se emanciparem. Jamais se viu o pai ou a mãe abandonar os filhos menores, deixando-os entregues aos perigos que lhes poderiam ser fatais. Os filhos são vigiados cautelosamente até que se possam conduzir por si mesmos. O livre-arbítrio, por conseguinte, existe, porém restrito às condições personalíssimas de cada indivíduo. O pródigo foi até à pobreza extrema, até à miséria material e moral; mas não pereceu, não se precipitou no abismo de eterna e irremediável perdição, visto como, de longe, o acompanhava a solicitude paternal daquele que lhe dera o "ser" e lhe traçara o destino. Assim sucede com o homem. Pode chafurdar-se na lama dos vícios, precipitar-se no tremedal do crime, cometer aventuras e insânias de toda espécie; chegará, fatalmente, para ele, aquele dia de cair em si, conforme diz a parábola. Desse despertar de consciência própria resulta o retorno à casa e aos braços amoráveis do Pai celestial.

            Recapitulando o exposto, vamos consignar os postulados espíritas abaixo descritos, confirmados, todos positivamente, neste enredo parabólico.

            1° — Imutabilidade de Deus — princípio sustentado, não teoricamente apenas, mas de modo positivo, condizente com os fatos e testemunhos da vida humana.

            2° — Unidade do destino, isto é, a redenção completa pelo amor e pela dor, abrangendo todos os pecadores.

            3°— A lei da causalidade, ou seja, de ação e reação, causas e efeitos, determinando, em dado tempo, o despertar das consciências adormecidas.

            4 ° — A relatividade do livre-arbítrio, o qual não pode ser absoluto, a ponto de ser dado ao homem alterar os desígnios de Deus.

            5°— Finalmente, a evolução individual dos seres racionais e conscientes, de cujo número o homem faz parte, processada no recesso íntimo das almas, livre e espontaneamente, como lei natural e irrevogável.

            O pródigo faz jus à nossa simpatia, porque é um pecador confesso. Errou, sofreu as consequências do seu erro, reconheceu-se culpado, implorou e obteve a misericórdia divina. Pela sinceridade do seu gesto e pela humildade da sua atitude, ele atrai a nossa indulgência e, mais do que isso, conquista o nosso coração. E como não há de ser assim, se nós nos vemos nele, como num espelho, refletindo o que somos e indicando-nos o caminho a seguir, o exemplo a imitar?

            O delito do pródigo é incontestavelmente menos grave do que o de seu irmão, apesar de ter esbanjado dissolutamente a herança paterna. A sua culpa indica fraqueza, não revela desamor nem maldade. Fez mal, não há dúvida, po- rém, a si próprio. Não envolveu a ruína de terceiros em suas aventuras, não ocasionou dor física ou moral a seu seme- lhante, não ofendeu o seu próximo. Foi insensato, leviano, boêmio, perdulário, prejudicando-se, como já dissemos, a si mesmo. E o egoísta, com sua aparente santidade, jactando-se de jamais haver infringido as ordens e os preconceitos paternos? Na sua impiedade, manifesta e ostensiva, esquivando-se indignado a tomar parte no banquete promovido pelo pai em regozijo ao regresso do seu irmão, ele mostra toda a aridez e secura da sua alma. O pródigo, a despeito de todas as insânias que cometeu, não atendeu tão gravemente contra a lei como ele, não feriu os sentimentos paternos de modo tão desalmado e cruel. Esta personagem é a encarnação viva do egoísmo, pretendendo, como pretendeu, monopolizar a herança e o convívio paterno. (Na Seara do Mestre. Cap. 34. Vinicius)

            Existem, ainda hoje, desses tais. São certos tipos de religiosos, dogmáticos e intransigentes, que desejam a todo transe o céu exclusivamente para eles e se indignam à simples ideia de serem acolhidos por Deus também os profitentes de outras crenças, os quais têm na conta de hereges imundos e desprezíveis.

            Não obstante se reputem muito justos e fiéis observadores dos códigos divinos, revelam-se tremendamente egoístas e descaridosos, porqüanto desejariam monopolizar a herança e o convívio do Pai Celestial e folgariam em ver os outros excluídos, para sempre, dessa felicidade.

            Ressalta, ainda, desse episódio, uma verdade proclamada pelo Espiritismo e que a muitos tem passado despercebida: a de que não basta que nos abstenhamos do mal, nem é suficiente que cultivemos uma fé inoperante para fazermos jus às alegrias do céu. É necessário, é condição indispensável para isso, que tenhamos desenvolvido em nós o amor.

            Haja vista o exemplo do primogênito. Arvora-se em puritano, jacta-se de nunca haver transgredido os mandamentos, mas o seu coração é todo mesquinhez e impiedade, e, devo rado por inveja torpe, não percebe que o seu despeito contra o próprio irmão o impede de compartilhar do regozijo que vai pela casa paterna.

            Acompanhemos atentamente sua objurgatória e notemos quanto azedume dela ressumbra:

            “Há tantos anos que te sirvo — diz ele ao pai —, sem nunca transgredir mandamento algum teu e nunca me deste um cabrito para eu me regalar com meus amigos; mas tanto que veio este teu filho, que gastou tudo quanto tinha com prostitutas, logo lhe mandaste matar um novilho gordo.”

            Essa linguagem faz lembrar a daquele fariseu que, orando no templo, ereto, cheio de soberba, exaltava os próprios méritos, considerando-se superior a todos os outros homens, cuja oração, entretanto, não foi aceita porque, ao mesmo tempo que fazia alarde de suas virtudes, se referia com desdém ao publicano, o que constitui falta de caridade, ou seja, de amor ao próximo.

            E o primogênito, porque não penetrou na casa do Pai, apesar de instado para que o fizesse?

            Também por lhe faltar esse sentimento, eis que não quis ver naquele pródigo o “seu” irmão, cuja volta o devia alegrar, mas apenas um dissoluto, a quem se devesse enxotar. (Parábolas Evangélicas. Cap. 21. Rodolfo Calligaris)

            Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus?

            O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado. (O Livro dos Espíritos. Questão 999 . Allan Kardec)

            Se, diante disto, um criminoso dissesse que, cumprindo-lhe, em todo caso, expiar o seu passado, nenhuma necessidade tem de se arrepender, que é o que daí lhe resultaria?

            Tornar-se mais longa e mais penosa a sua expiação, desde que ele se torne obstinado no mal. (O Livro dos Espíritos. Questão 999-a . Allan Kardec)

            Na lei divina, há perdão sem arrependimento?

            A lei divina é uma só, isto é, a do amor que abrange todas as coisas e todas as criaturas do Universo ilimitado.

            A concessão paternal de Deus, no que se refere à reencarnação para a sagrada oportunidade de uma nova experiência, já significa, em si, o perdão ou a magnanimidade da Lei. Todavia, essa oportunidade só é concedida quando o Espírito deseja regenerar-se e renovar seus valores íntimos pelo esforço nos trabalhos santificantes.

            Eis por que a boa-vontade de cada um é sempre o arrependimento que a Providência Divina aproveita em favor do aperfeiçoamento individual e coletivo, na marcha dos seres para as culminâncias da evolução espiritual. (O Consolador.  Questão 333. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)

            O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas?

            A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em sai mesma, um ato de misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida.

            Entendendo, todavia, a questão à generalidade das provas; devemos concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que “o amor cobre a multidão dos pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo infinito. (O Consolador. Questão 336. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)

            Não há homens que só têm o instinto do mal e são inacessíveis ao arrependimento?

            Já te disse que todo Espírito tem que progredir incessantemente. Aquele que, nesta vida, só tem o instinto do mal, terá noutra o do bem e é para isso que renasce muitas vezes, pois preciso é que todos progridam e atinjam a meta. A diferença está somente em que uns gastam mais tempo do que outros, porque assim o querem. Aquele, que só tem o instinto do bem, já se purificou, visto que talvez tenha tido o do mal em anterior existência. (O Livro dos Espíritos. Questão 993 . Allan Kardec)

            O arrependimento se dá no estado corporal ou no estado espiritual?

            No estado espiritual; mas, também pode ocorrer no estado corporal, quando bem compreendeis a diferença entre o bem e o mal. (O Livro dos Espíritos. Questão 990 . Allan Kardec)

            Qual a conseqüência do arrependimento no estado espiritual?

            Desejar o arrependido uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas. (O Livro dos Espíritos. Questão 991. Allan Kardec)

            Que consequência produz o arrependimento no estado corporal?

            Fazer que, já na vida atual, o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a consciência o exprobra e lhe mostra uma imperfeição, o homem pode sempre melhorar-se.(O Livro dos Espíritos. Questão 992. Allan Kardec)

            Que adjetivo melhor definiria a nossa condição de Espíritos perante o mundo? Virtuosos, trabalhadores, esclarecidos, caridosos?

            A qualidade comum que estimula os passos da grande maioria das criaturas que agasalham a convicção nos princípios espíritas é o arrependimento. Almas arrependidas - essa é condição espiritual que fielmente nos define perante a vida.

            Para muitos, arrependimento seria apenas um estado emocional, todavia, é também um estado mental consolidado, que funciona como uma âncora de segurança e um impulso para a caminhada evolutiva das almas submissas aos grilhões da culpa, adquirida no mau uso da liberdade.

            Muitas vezes, para alcançar semelhante estágio, a criatura precisa padecer longamente até saturar-se no "cansaço espiritual", passando a nutrir algum desejo de melhora e progresso em novas linhas de crescimento para Deus. (Mereça ser feliz. Cap.26 - Traços do arrependimento. Ermance Dufaux. Wanderley S. Oliveira)

            E o remorso? É mais um estado emocional perturbado que decorre do prejuízo ao  próximo, permanecendo longamente. Consiste no retorno constante à lembrança de quadros maléficos, do mal praticado, fazendo o paciente padecer lentamente porque nem  consegue corrigir o erro realizado, nem vislumbrar o fim do sofrimento. O remorso intenso pode gerar no culpado enfermidade psíquica nesta vida mesmo, como o (...) ancião que ficou esquizofrênico de tanto remoer a antiga façanha de apropriar-se dos bens dos irmãos. Todavia, passa para o futuro e o espírito desesperado renasce com predisposição para o desequilíbrio nervoso; facilmente, entre as lutas que é forçado a sustentar no mundo, as provações cármicas, cai na área da moléstia mental. (Evolução para o terceiro Milênio. Cap.5. Carlos Toledo Rizzini)

            Segundo o Espírito  Emmanuel, " O remorso é a força que prepara o arrependimento, como este é a energia que precede o esforço regenerador. Choque espiritual nas suas características profundas, o remorso é o interstício para a luz, através do qual recebe o homem a cooperação indireta de seus amigos do Invisível, a fim de retificar seus desvios e renovar seus valores morais, na jornada para Deus." ( O Consolador. Questão 182. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier)

            Três são os traços que caracterizam o arrependimento: desejo de melhora, sentimento de culpa e esforço de superação. Se tirarmos o esforço de superação dessa sequência teremos o cruel episódio mental do remorso, ou seja, os arrependidos que nada fazem para se melhorar. As tendências mais marcantes dessas experiências interiores podem ser percebidas em algumas manifestações de "dor psíquica corretiva", que se diferencia da "dor psíquica expiatória". O arrependimento impulsiona, o remorso estagna. Esses três traços psicológicos e emocionais que determinam o ato de arrepender-se passam por metamorfoses infinitas, conforme a personalidade que o vivência.

            Destaquemos alguns caminhos mais comuns dessa sua transmutação íntima para facilitar o entendimento de suas manifestações:

            O desejo de melhora no estágio em que nos encontramos está, quase sempre, sob o jugo da vaidade e pode expressar-se por mecanismos psicológicos variados. Desejar melhora é ter que reconhecer a própria penúria moral, assumi-la livremente em razão do idealismo nobre. E doloroso o encontro com as sombras interiores, mesmo quando queremos sinceramente nos ver  libertos delas.

            O impulso para crescer espiritualmente para nós é um desafio de proporções sacrificiais. Chamemos de "neurose de perfeição" ou perfeccionismo a necessidade obsessiva de fazer o bem com exatidão, uma profunda inaceitação de suas falhas e as dos outros, gerando melindre e intolerância, face ao nível de exigência e cobrança para consigo e com o mundo à sua volta. A angústia decorrente do contato com o ego, o homem velho que queremos transformar, leva a ativar mecanismos de defesa para "acobertar" essa inferioridade que detectamos em nós; então entra em ação o orgulho, criando uma falsa imagem, uma imagem idealizada com a qual procuramos nos forrar de ter que olhar e admitir a pequenez da qual somos portadores. Essa luta nos recessos dos sentimentos e do pensamento traz à baila o conflito, a insatisfação e todo tipo de incômodo interior, deixando a vida íntima em estado de intensas comoções e mudanças. Damos o nome de sentimento de culpa a todo esse conjunto de reações emocionais, quase sempre "indefiníveis" para quem os sofre.

            O sentimento de culpa tem camuflagens e nuanças muito versáteis. Deixemos claro que em nosso estágio de aperfeiçoamento podemos tomá-lo como um fator de impulsão para a melhora. Se a criatura arrependida não sentisse culpa, não garantiria a continuidade de seu progresso e desistiria, optando pela loucura ou pela queda moral.

            Digamos que a culpa é uma energia intrusa, porém necessária na sustentação do desejo de melhora. Jamais tomemo-la, no entanto, como essencial, porque é um sentimento aprendido, um resultado de vivências anteriores e não uma virtude com a qual tenhamos sido criados. Suas manifestações podem ser percebidas na autopunição, no sentimento de desmerecimento e desvalor, nas fantasias de carma e dor, nas posturas de vítimas da vida, na inconformação, no azedume sistemático, nas crises de autopiedade ou ainda nos hábitos da lamúria e da queixa.

            É só estudar com atenção e perceberemos as relações entre esses processos de culpa e o orgulho que gerencia os mecanismos de defesa como, por exemplo, a "projeção", que se constitui de transferir para fora aquilo que não estamos suportando em nós mesmos, constatando nos outros o que não queremos ver em nossa intimidade. (Mereça ser feliz. Cap.26 - Traços do arrependimento. Ermance Dufaux. Wanderley S. Oliveira)

            Todos nós erramos com frequência e não há na face da Terra quem esteja livre de tropeços. (...) O que mais importa é a nossa capacidade de recuperação diante do erro praticado. Deus não quer choros, lamentações, dramas de consciência. (...) a vida coopera para a nossa reabilitação, não para que fiquemos em vão na prisão de nossas culpas. Por isso, diante do erro, busquemos sanar o equívoco pelo amor. Esse é o remédio sagrado para nossas feridas. (...) Culpar-se, nunca, mas reabilitar-se, sempre, eis aí um programa de amor que podemos estabelecer em razão das nossas inevitáveis quedas. (Justiça além da vida.. Cap. 14. José Carlos de Lucca)

            O esforço é a ação que promove o equilíbrio no processo do arrependimento. Não existe arrependimento real sem reparação. Querer melhorar, sentir-se culpado e nada fazer é muito doloroso. Eis aqui a importância dos serviços de amor ao próximo que alivia e consola alguém, mas que também estabiliza os níveis energéticos de quem o realiza. É comum verificarmos companheiros de ideal doutrinário orando compungidamente e indagando o que falta para sentirem-se melhor e mais felizes, considerando que estão no esforço educativo e no trabalho do bem. Oram sofregamente e com certa dose de desespero, sem saber as razões de seus sentimentos de culpa, insatisfeitos com a sua realidade inferior diante de tanta luz que possuem no cérebro com os conhecimentos espíritas. Todavia, assinalemos, a quantos vivem esses instantes de angústia e solidão das experiências evolutivas, que esse é o caminho dos arrependidos. A felicidade vem logo a seguir quando se consegue superar as refregas, sem desistir dos ideais. Sem exageros, digamos que esses estados doridos assemelham-se a uma loucura controlada". Especialmente os corações dotados de sensibilidade mediúnica os padecem com larga intensidade de dor. Só existe uma solução: a oração do alívio seguida da perseverança libertadora.

            Sofrem muito as almas arrependidas. Eis as razões dos sofrimentos dos verdadeiros espíritas!

            Temos o desejo da melhora, mas o orgulho afeta a imaginação levando-nos a crer que já estamos redimidos com poucos esforços, cria uma sensação de que já somos o que deveremos ser, gerando a auto suficiência espiritual, ou seja, hábitos milenares de presunção do conhecimento aliado à crença estéril causando-nos agradável sensação de superioridade, uma falsa superioridade...

            Se observarmo-nos, com cuidado, veremos que desejamos o bem, mas ainda não o sentimos. Desejamos esclarecer, mas não sentimos alegria em estudar. Desejamos união, mas não sentimos bem na presença de qualquer pessoa.

            Um ufanismo ronda nossos passos, e nada de especial temos para apresentar ao Pai na nossa condição de Filhos Pródigos senão o arrependimento. Não equivoquemos com virtudes e credenciais.O arrependimento, embora se possa contestar filosoficamente, é uma virtude por se tratar de um estado essencial para o progresso de almas que peregrinaram intensamente pelo mal. (Mereça ser feliz. Cap.26 - Traços do arrependimento. Ermance Dufaux. Wanderley S. Oliveira)

            Segundo  Allan Kardec, "o arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação.

            Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.

            O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo. Até que os últimos vestígios da falta desapareçam, a expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal. "(O céu e o inferno. Código penal da vida futura. Item 16 e 17. Allan Kardec)

            Expiação é o castigo imposto pelo erro praticado; é sofrer o que fez outro sofrer. É proporcional ao nível de adiantamento alcançado pelo Espírito e precisa ser antecedida pelo arrependimento. Enquanto o culpado mostrar-se endurecido, indiferente ou revoltado, permanecerá nas zonas espirituais de sofrimento (umbral, trevas). Quando desponta o primeiro sinal de arrependimento pelo mal praticado, missionários do bem eterno começam a visitar o infeliz, ensinando-o estimulando-o à auto-reforma; depois, levam-no para casas ali mesmo situadas onde ele é atendido e reeducado até o ponto possível para a reencarnação expiatória. Nasce mais um “desgraçado”, dizem. Pra nós, felicitados por uma compreensão algo superior, renasceu um irmão necessitado de reforma drástica e urgente; apenas a evolução está em marcha de modo mais saliente.

            Numa fase posterior, haverá a reparação, isto é, o esforço no reajustamento da vítima ou a devolução do que lhe é devido. (Evolução para o terceiro Milênio. Cap.4 - Item 16 -  Ação da Lei nos desvios de rumo. Carlos Toledo Rizzini)

            Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas?

            Sim, reparando-as. Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes, depois que morrerdes, quando de nada mais precisais. Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com objetivo exclusivamente pessoal.

            Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem no seus interesses materiais. De que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer, os bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o proveito?

            De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades, se permanece integral o dano que causou a outrem?

            De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus, se, perante os homens, conserva o seu orgulho? (O Livro dos Espíritos. Questão 1000. Allan Kardec)

            Que deve fazer aquele que, em artigo de morte, reconhece suas faltas, quando já não tem tempo de as reparar? Basta-lhe nesse caso arrepender-se?

            O arrependimento lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve. Diante dele não se desdobra o futuro, que jamais se lhe tranca? (O Livro dos Espíritos. Questão 1002. Allan Kardec)

            Lição mais consoladora e suave do que esta não há em todo o Evangelho.

            Ninguém se perde, pois não há culpas irreparáveis!

            Em nosso relativo livre arbítrio, podemos dilapidar, na satisfação de  bastardos apetites, as riquezas que nos foram concedidas pelo doador da Vida.

            Virão depois, entretanto, os efeitos dolorosos, e com eles o arrependimento e a resolução de emendar-nos.

            É quando Deus, que lê os nossos mais recônditos pensamentos, vem ao  encontro de nosso esforço individual, e, harmonizando os ditames de Sua justiça com a superabundância de Sua misericórdia, enseja-nos, através das reencarnações, os meios de reabilitar-nos, de redimir-nos e de retornarmos, infalivelmente, à glória inefável de Sua companhia. (Parábolas Evangélicas. Cap. 21. Rodolfo Calligaris)

 

Bibliografia:

- O Livro dos Espíritos. Questões 990, 991, 992, 993, 999, 999-a), 1000 e 1002 .Allan Kardec.

- O céu e o inferno. Código penal da vida futura. Item 16 e 17. Allan Kardec.

- O Consolador. Questões 182, 333 e 336. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.

- Na Seara do Mestre. Cap. 34. Vinicius.

- Nas pegadas do Mestre. O Pródigo e o Egoísta/ Por que será?  Vinicius.

- Parábolas e Ensinos de Jesus. Parábola do Filho Pródigo. Cairbar Schutel.

- Parábolas Evangélicas. Cap. 21. Rodolfo Calligaris.

- Mereça ser feliz. Cap.26 - Traços do arrependimento. Ermance Dufaux. Wanderley S. Oliveira.

- Evolução para o terceiro Milênio. Cap.4 e 5. Carlos Toledo Rizzini .

- Justiça além da vida.. Cap. 14. José Carlos de Lucca.

- Histórias que Jesus contou. Cap. 3. Clóvis Tavares.

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