Certo genitor laborioso e dedicado ao dever tinha um filho que, ao contrário, era fútil, vivendo como parasita explorador do pai.
Aplicava o tempo nos gozos materiais e na consumpção das energias morais, mesmo que escassas.
O pai, maduro e sábio, sempre o advertia e lhe explicava que, pelo fenômeno natural da vida, seria o primeiro a morrer, e que os haveres, por mais abundantes, quando gastos sem renovação, tendiam para o desaparecimento, para a extinção.
Informava-o que os amigos que o cercavam não lhe tinham a menor estima, antes se interessavam pelos recursos de que dispunha e, quando esses escasseassem, também desapareceriam...
Os conselhos soavam como velha balada conhecida e recusada.
Oportunamente, o idoso trabalhador mandou construir nos fundos da propriedade um celeiro, colocando no seu interior uma forca, tendo fixada uma placa informativa com os seguintes dizeres: Eu jamais ouvi os conselhos do meu pai.
Posteriormente, quando tudo estava concluído, chamou o filho, levouo ao celeiro e explicou-lhe:
— Filho, encontro-me velho, cansado e enfermo.
Quando eu falecer, tudo que me pertence passará à sua propriedade.
Caso você fracasse, porque atirará fora todos os bens que lhe transfiro, peço-lhe que me prometa que usará esta forca, como medida de reparação do mal que nos fez a ambos.
O moço, sem entender exatamente o que o pai desejava dizer-lhe, silenciou, a fim de o não contrariar.
O genitor desencarnou tempos depois, e o jovem herdou-lhe os bens, passando a dissipá-los com mais extravagâncias e desperdícios.
Pouco tempo transcorrido, deu-se conta de que havia malbaratado todos os negócios e recursos, e estava reduzido à miséria, à solidão, até mesmo porque os falsos amigos abandonaram-no.
Recordou-se do pai e chorou copiosamente.
No pranto, recordou-se da promessa que lhe fizera, de que se enforcaria após o fracasso.
Trêmulo de emoção desordenada, dirigiu-se ao celeiro e lá encontrou a forca assim como os dizeres terríveis.
Teve uma iluminação, concluindo que essa seria a única vez na sua existência em que poderia agradar ao homem nobre que fora seu pai e sempre vivera decepcionado com a sua conduta.
Subiu então na forca, colocou o laço no pescoço e atirou-se ao ar...
O braço da engenhoca era oco e partiu-se, caindo dele diversas joias: diamantes, rubis, esmeraldas, uma verdadeira fortuna com um bilhete, que informava: Esta é a sua segunda chance.
Eu o amo de verdade. Seu pai...
A partir dali a sua vida tomou novo rumo e ele mudou completamente a maneira de encarar a oportunidade.
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Quando a existência é vã e inútil, sempre surge uma segunda chance, mas o melhor será que cada um cresça com o esforço pessoal e saiba aproveitar o processo de amadurecimento, a fim de que não se veja forçado à mudança após situações desesperadoras.
E inevitável o amadurecimento psicológico do ser humano, mesmo quando se imponha impedimentos momentâneos.
O filho, como é compreensível, poderia ter evitado o período de sofrimento e de amargura, caso houvesse atendido ao pai, agradecido a tudo quanto recebia sem crédito ou mérito e atirava ao desprezo.
Se houvesse cultivado o mínimo de gratidão, compreenderia que o esforço do genitor, cansado e sempre trabalhador, merecia pelo menos respeito de sua parte.
A gratidão pode expressar-se como respeito e consideração pelo que os outros fazem, oferecem e a que se dedicam de enobrecedor.
A sua ausência dá lugar a um tipo de cupim emocional que devora interiormente o ser, qual ocorre com aquele inseto de vida social que se nutre da planta viva ou morta, alimentando-se com voracidade, enquanto a consome.
(Psicologia da gratidão. Cap. 13. Espírito Joanna de ngelis. Psicografado por Divaldo Pereira Franco)