Utilize o conteúdo da aula, designado por "Subsídio para o Evangelizador", para desenvolver palestras espíritas para jovens e adultos.

Aula 107 - A responsabilidade moral*

Ciclo 2 - História: Responsabilidade e amizade . Atividade: ESE - Cap.18 - 5 - Muito se pedirá aquele que muito recebeu ou/ e pedir para o aluno escrever quais responsabilidades ele possui na sua vida ( na escola, no lar, na rua, no centro espírita ). 

Ciclo 3 - História: A lição da enxada - Atividade: ESE - Cap.18 - 6 - Dará àquele que tem ou/e PH - Jesus - 68 - A responsabilidade moral.

Mocidade - História: Consciências  -  Atividade: 2 - Dinâmica de grupo:  Responsabilidade ou/ e  9 - Entrevistas: Os adolescentes deverão entrevistar os trabalhadores voluntários da Casa Espírita e formular perguntas, como por exemplo: Qual é a sua função ? Quais são as suas responsabilidades no Centro Espírita? Por que é importante cumprir o horário e não faltar?

 

Dinâmicas: Quanto mais recebemos, maior será a nossa responsabilidadeResponsabilidade e trabalho.

Mensagens espíritas: Responsabilidade.

Sugestão de vídeos:

- Mensagem: Responsabilidade - Cantar e brincar  (Dica: pesquise no Youtube)

- Música:  Trio R3 - ''Responsabilidade'' (Dica: pesquise no Youtube)

Sugestão de livro infantil:

- Fábulas Clássicas: A Cotovia e o Fazendeiro. Adaptação Milton Berger. Editora DCL.

 

Leitura da Bíblia:  Mateus - Capítulo 13


13.10 Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: Por que lhes falas em parábolas?


13. 11 Respondeu Jesus: Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não.


13.12 Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem.


13.13 Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam.


13. 14 Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis,"


 
Marcos - Capítulo 4


 4.24 Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará.


4.25 Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que tem.


 

Lucas - Capítulo 12


12.47 O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes.


12.48 Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir.


 

 João - Capítulo 9


9.39 Jesus então disse: Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.


9.40.Alguns dos fariseus, que estavam com ele, ouviram-no e perguntaram-lhe: Também nós somos, acaso, cegos?...


9.41.Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora pretendeis ver, e o vosso pecado subsiste."


 

Tópicos a serem abordados:

- Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento.  A responsabilidade de cada um cresce conforme  desenvolve a sua inteligência. Não é, pois, nem após a primeira, nem depois da segunda encarnação que a alma tem consciência bastante clara de si mesma, para ser responsável por seus atos; não é senão após a centésima, talvez após a milésima. Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva dos instintos de conservação; mais tarde, e sempre gradualmente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade. Portanto, se um selvagem comete uma falta grave será menos punido que um homem civilizado, que comete uma pequena injustiça.

- Deus não leva em conta os tempos de ignorância. Não seremos responsáveis por aquilo que não sabemos, não sofreremos um castigo por atos ou atitudes que ignoramos. A nossa responsabilidade é medida pela extensão exata do conhecimento  adquirido.   Conforme a nossa consciência vai se  expandindo , diferenciando o bem do mal,  maiores serão os nossos compromissos perante a existência. Sendo assim,  toda falta praticada com conhecimento de causa  deverá ser paga através do arrependimento, da expiação e da reparação.

- Na época de Jesus , a grande maioria do povo judeu  não compreendia os ensinos do Mestre, pois ainda não possuíam condições intectuais e morais para entender o sentido das  parábolas  e alegorias. Hoje, o Espiritismo,  projeta luz sobre uma imensidade de pontos obscuros,  permitindo esclarecer as palavras do Cristo que foram mal comprendidas. Todos os homens, letrados ou analfabetos, crentes ou incrédulos, cristãos ou não, podem receber estas revelações, pois os Espíritos se comunicam por toda parte. Nenhum dos que as recebam, podem alegar ignorância ou falta de  instrução.  Aquele, portanto, que não aproveita essas máximas para melhorar-se, certamente  será culpado ,porque teve mais oportunidade de conhecer a verdade.

-  Quando Jesus disse: "Se fossem cegos, não teriam pecados", quis ensinar que a culpabilidade está na razão das luzes que a criatura possua. Ou melhor, quis mostrar que os fariseus (melhores intérpretes das escrituras) , sendo os mais esclarecidos da nação judaica , eram mais culposos aos olhos de Deus  do que o povo ignorante. O mesmo acontece, hoje , aos espíritas: "Muito lhes será pedido, porque muito receberam; e aqueles que tiverem aproveitado,  muito será dado"; Ou seja, muito lhes será cobrado pois receberam o conhecimento moral, filosófico e científico; e todos aqueles que cumprem com seus deveres e correspondem à confiança do Senhor, receberāo auxilio e proteção para que possa aumentar as virtudes que já possuem.

- A responsabilidade é estabelecida pelo testemunho da nossa consciência, que  aprova ou censura a natureza dos nossos atos (sejam estes ações, palavras ou pensamentos).  Por isso, devemos sempre interrogar a nossa consciência , e perguntar a nós mesmos, se ninguém tem motivos de se queixar contra nós e se não  deixamos de cumprir algum dever (tais como: a prece diária, as tarefas escolares,  os afazeres domésticos, etc. ). Além disso, precisamos ter coragem para assumir os nossos próprios erros e não colocar a culpa nos outros. É a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade.

- Todos nós somos livres para plantar, porém teremos a obrigação de colhermos tudo aquilo que plantamos. Perante a Justiça Divina cada um  será responsável não só pelo mal que haja feito, direta e pessoalmente, como também pelo mal que tenha ocasionado em decorrência de sua autoridade ou de sua influência sobre outra pessoa.  Deste modo, o indivíduo que influencia alguém a mentir, será mais repreensível pelo dano que ocasionou do que o próprio mentiroso.

- A  responsabilidade é irmã gêmea da solidariedade,  andam sempre juntas.  Sendo assim,  pode-se dizer que aqueles que colocam em prática o Evangelho de Jesus, sem dúvida,  estão cumprindo as obrigações morais que lhes cabem!  Além disso, são mais felizes, pois descobriram seu papel divino no Universo simplesmente pelo fato de que resolveram experimentar não seguir o rumo da maioria, procurando ouvir a voz da consciência, onde se encontram as sublimes Mensagens de Deus para cada um de nós.

 

Perguntas para fixação :

1. Quando começa a responsabilidade do homem após ter sido criado por Deus?

2. Durante o período de ignorância o Espírito é responsável por seus atos?

3. Como deverão ser pagas as faltas que alguém comete com conhecimento de causa?

4. Como a nossa responsabilidade é medida?

5. Por que a maioria do povo judeu não compreendia as parábolas de Jesus?

6. O que Jesus quis ensinar quando disse: "Se fossem cegos, não teriam pecados"?

7. Por que os fariseus eram mais culposos aos olhos de Deus do que o povo ignorante?

8. Por que os espíritas serão mais cobrados pelos seus atos ?

9. O que será dado aqueles que cumprem com os seus deveres?

10. Qual é o nome do pensamento íntimo que nos adverte quando fazemos o bem ou fazemos o mal?

11. Se influenciarmos alguém a fazer algo errado seremos responsáveis por isto?

12. O que é preciso fazer para cumprir nossas obrigações morais?

 

Subsídio para o Evangelizador :

            A razão por que Jesus preferentemente falava por parábolas era evitar que muitos se enchessem de maiores responsabilidades, que lhes acarretariam grandes sofri­mentos no futuro: aqueles que, capazes embora de receber sem véu a sua palavra, não se lhe submeteriam. Por outro lado, para os que estivessem dispostos a avançar, a caminhar para diante, nenhum inconveniente havia em que os ensinos lhes fossem ministrados veladamente, visto que se esforçariam, como o fizeram os discípulos, por lhes descobrir o sentido oculto e o apreenderiam. Os que, ao contrário, assim não procedessem, por considerarem pesada demais para suas naturezas más a reforma que aqueles ensinos impunham, seriam culpados apenas de indiferença, de não procurarem devassar os mistérios que de pronto não compreendiam.

            Dizendo, pois, que não lhes falava senão por parábolas, “para que não se convertessem”, aludia o Mestre aos que, cedendo a um primeiro impulso, tentariam avançar, mas que, detidos bruscamente pelos seus maus instintos, fariam sem demora um recuo, que lhes viria a ser causa de graves expiações, porqüanto, conforme também o disse, “muito será dado ao que já tem; ao passo que àquele que pouco tenha, mesmo esse pouco será tirado”.

            Estas palavras significam que aquele que deseja progredir e se esforça por consegui-lo, de todos os lados receberá amparo; enquanto que o outro, o que tem pouco, indiferente ao que lhe foi dado, negligente em guardar o que recebeu, deixará que as más paixões se apossem do seu coração, que os vícios e males, que o oprimirão durante séculos, tomem o lugar das poucas virtudes de cuja posse já desfrutasse. (Elucidações Evangélicas. Cap. 85. Antônio Luiz Sayāo )

            Aquele que recebeu é o que possui o sentido da palavra divina; recebeu unicamente porque tentou tornar-se digno dela e porque o Senhor, em seu amor misericordioso, anima os esforços que tendem para o bem. Aturados, perseverantes, esses esforços atraem as graças do Senhor; são um ímã que chama a si o que é progressivamente melhor, as graças copiosas que vos fazem fortes para galgar a montanha santa, em cujo cume está o repouso após o labor.

            "Tira-se ao que não tem, ou tem pouco." Tomai isso como uma antítese figurada. Deus não retira das suas criaturas o bem que se haja dignado de fazer-lhes. Homens cegos e surdos! abri as vossas inteligências e os vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e não interpreteis de modo tão grosseiramente injusto as palavras daquele que fez resplandecesse aos vossos olhos a justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que pouco recebera: é o próprio Espírito que, por pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem e aumentar, fecundando-o, o óbolo que lhe caiu no coração.

            Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe granjeou, e que lhe coube em herança, o vê cobrir-se de ervas parasitas. E seu pai quem lhe tira as colheitas que ele não quis preparar? Se, a falta de cuidado, deixou fenecessem as sementes destinadas a produzir nesse campo, é a seu pai que lhe cabe acusar por nada produzirem elas? Não e não. Em vez de acusar aquele que tudo lhe preparara, de criticar as doações que recebera, queixe-se do verdadeiro autor de suas misérias e, arrependido e operoso, meta, corajoso, mãos à obra; arroteie o solo ingrato com o esforço de sua vontade; lavre-o fundo com auxílio do arrependimento e da esperança; lance nele, confiante, a semente que haja separado, por boa, dentre as más; regue-o com o seu amor e a sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já recebera. Verá ele, então, coroados de êxito os seus esforços e um grão produzir cem e outro mil. (O  Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 18. Item  15. Allan Kardec.  Bordéus, 1862.)

            Em assuntos da lei de causa e efeito, é imperioso não olvidar que todos os valores da vida, desde as mais remotas constelações à mais mínima partícula subatômica, pertencem a Deus, cujos inabordáveis desígnios podem alterar e renovar, anular ou reconstruir tudo o que está feito. Assim, pois, somos simples usufrutuários da Natureza que consubstancia os tesouros do Senhor, com responsabilidade em todos os nossos atos, desde  que já possuamos algum discernimento, o Espírito, seja onde for, encarnado ou desencarnado, na Terra ou noutros mundos, gasta, em verdade, o que lhe não pertence, recebendo por empréstimos do Eterno Pai os recursos de que se vale para efetuar a própria sublimação no conhecimento e na virtude. Patrimônios materiais e riquezas da inteligência, processos e veículos de manifestação, tempo e forma, afeições e rótulos honoríficos de qualquer procedência são de propriedade do Todo-Misericordioso, que no-los concede a título precário, a fim de que venhamos a utilizá-los no aprimoramento de nós mesmos, marchando nas largas linhas da experiência, de modo a entrarmos na posse definitiva dos valores eternos, sintetizados no Amor e na Sabedoria com que, em futuro remoto, Lhe retrataremos a Glória Soberana. Desde o elétron aos gigantes astronômicos da Tela Cósmica, tudo constitui reservas das energias de Deus, que usamos, em nosso proveito, por permissão dEle, de sorte a promovermos, com firmeza, nossa própria elevação a Sua Majestade Sublime. Dessa maneira, é fácil perceber que, após conquistarmos a coroa da razão, de tudo se nos pedirá contas no momento oportuno, mesmo porque não há progresso sem justiça na aferição de valores. (Ação e reação. Cap. 7. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier )

            Conquistada a consciência e os valores racionais, todos os Espíritos são  investidos de uma responsabilidade, dentro das suas possibilidades de ação; porém, são raros os que praticam seus legítimos deveres morais, aumentando os seus direitos divinos no patrimônio universal.

            Colocada por Deus no caminho da vida, como discípulo que termina os estudos básicos, a alma nem sempre sabe agir em correlação com os bens recebidos do Criador, caindo pelo orgulho e pela vaidade, pela ambição ou pelo egoísmo, quebrando a harmonia divina pela primeira vez e penetrando em experiências penosas, a fim de restabelecer o equilíbrio de sua existência. ( O Consolador. Questão 248. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier )

            Qual o sentido do ensinamento evangélico: - “Todos os pecados ser-vos-ão perdoados, menos os que cometerdes contra o Espírito Santo?”

            -A aquisição do conhecimento espiritual, com a perfeita noção de nossos deveres, desperta em nosso íntimo a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas.

            Nesse instante, descerra-se à nossa visão profunda o santuário da luz de Deus, dentro de nós mesmos, consolidando e orientando as nossas mais legítimas noções de responsabilidade na vida.

            Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante dessa iluminação, seu erro justifica-se, de alguma sorte, pela ignorância ou pela cegueira. Todavia, a falta cometida com a plena consciência do dever, depois da bênção do conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o “pecado contra o Espírito Santo”, porque a alma humana estará, então, contra si mesma, repudiando as suas divinas possibilidades.

            É lógico, portanto, que esses erros são os mais graves da vida, porque consistem no desprezo dos homens pela expressão de Deus, que habita neles. ( O Consolador. Questão 303. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier )

            Das palavras acima transcritas, outrora dirigidas por Jesus aos fariseus, concluímos que existem duas categorias de pecados: uma que faz jus a perdão, outra que não o faz.Vejamos como distingui-las.

            Que é pecado? — Pecado é toda infração à Lei de Deus. Essa Lei é perfeita, é integral; abrange a verdade em sua plenitude, a suprema razão, a infinita justiça.

            O homem, ser relativo, não é passível de culpa pelas infrações da Lei senão daquela parte que conhece. Sua responsabilidade é medida pela extensão exata do saber adquirido. "A quem muito tem sido dado, muito será pedido."

            Todo pecado, cometido na ignorância da Lei, será, portanto, perdoado ao homem.

            Toda a falta, porém, praticada com conhecimento de causa, constitui pecado sem perdão.

            Estará, então, o pecador irremediavelmente perdido consoante o dogma das penas eternas? De modo algum. Pecado que não tem perdão é pecado que deve ser reparado, é dívida contraída cujo pagamento será exigido. Está visto que, uma vez pago o derradeiro ceitil, o devedor ficará isento de ônus.

            Porque classifica Jesus tal pecado como praticado contra o Espírito Santo? Porque importa em atos reprovados pela consciência. Não nos referimos à consciência na acepção psicológica, porém, no seu sentido moral, esse testemunho íntimo ou julgamento sobre nossas próprias ações e pensamentos por mais secretos que sejam. Através dessa faculdade de nossa alma é que se refletem os raios da soberana justiça. A Lei manifesta-se ali palpitante e viva, dilatando os horizontes de nossa liberdade espiritual, e, ao mesmo tempo, aumentando nossa responsabilidade .

            "Aos Espíritos do Senhor, que são as virtudes do Céu", compete agir sobre as consciências, despertando-as para o conhecimento da verdadeira vida. Toda vez, pois, que o homem recalcitra contra a influência dos mensageiros celestes, peca contra o Espírito Santo, visto como peca contra a luz de sua própria consciência. Semelhante culpa não tem perdão; exige reparação, quer neste mundo, quer no vindouro.

            Criamos, por conseguinte, em nós mesmos, nosso céu ou nosso Hades. Gravamos em nosso astral, em caracteres indeléveis, toda a história de nossa vida através das múltiplas existências transcorridas, aqui ou além. Nossa responsabilidade é rigorosa e escrupulosamente aquilatada pela Lei, segundo o nosso grau de adiantamento intelectual e moral. A Lei é uma força viva que se identifica conosco e vai acompanhando o surto de evolução que ela mesma imprime em nosso espírito. É insofismável em seus juízos, é inalienável em suas conseqüências. ( Nas pegadas do Mestre.  Pecado sem perdão.  Vinícius )

            Como pode o Espírito, que, em sua origem, é simples, ignorante e carecido de experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?

            “Deus lhe supre a inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir, como fazeis com a criancinha. Deixa-o, porém, pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor de proceder à escolha e só então é que muitas vezes lhe acontece extraviar-se, tomando o mau caminho, por desatender os conselhos dos bons Espíritos. A isso é que se pode chamar a queda do homem.” ( O Livro dos Espíritos. Questão 262. Allan Kardec )

            Duas almas, criadas simples e ignorantes, que não conhecem o bem, nem o mal, vêm à Terra. Se, numa primeira existência, uma seguir o caminho do bem, e a outra o do mal, já que, de certo modo, é o acaso que as conduz, elas não merecem castigo nem recompensa. Essa primeira viagem terrestre não deve ter servido senão para dar a cada uma delas a consciência de sua existência, consciência que antes não tinham. Para ser lógico, seria preciso admitir que as punições e as recompensas só começariam a ser infligidas ou concedidas a partir da segunda encarnação, quando os Espíritos já soubessem distinguir entre o bem e o mal, experiência que lhes faltaria por ocasião de sua criação, mas que adquiririam por meio de sua primeira encarnação. Tal opinião tem fundamento?

            (...) Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma; é um desses princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça; o que sabemos ainda é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco e após numerosas evoluções na vida corpórea.

            Não é, pois, nem após a primeira, nem depois da segunda encarnação que a alma tem consciência bastante clara de si mesma, para ser responsável por seus atos; não é senão após a centésima, talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades, nem um, nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos. E, ainda, quando a alma goza do livre-arbítrio, a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência; é assim, por exemplo, que um selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado, que comete uma simples injustiça (Vide : LE. Questão 637. A. K.) .Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós e, no entanto, já se acham bem longe de seu ponto de partida. Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes ou, melhor dizendo, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre gradualmente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade. ( Revista Espírita.  Janeiro de 1864. Questões e problemas. Progresso nas primeiras encarnações. Allan Kardec )

            Lucas relata em Atos dos Apóstolos a seguinte orientação de Paulo de Tarso: ―Deus não leva em conta os tempos da ignorância(Atos 17:30).Em outras oportunidades, confirmou também que ―muito se pedirá àquele que muito recebeu (Lucas 12:48) , quer dizer, o agravamento das faltas é proporcional ao conhecimento que se possui.

             Compreendemos, dessa forma, que somos todos nós protegidos pela nossa ―ignorância, pois somente seremos avaliados pela Divina Providência, de conformidade com as possibilidades do ―saber e ―sentir, isto é, segundo a nossa maneira de ver a nós próprios e o mundo que nos rodeia.

              As leis espirituais que dirigem a vida são sábias e justas e adaptam-se particularmente a cada criatura, levando em conta suas individualidades.

              O eminente psicólogo e pedagogo suíço Jean Piaget, responsável pela teoria de que o desenvolvimento das crianças propicia seu aprendizado, dizia que elas são diferentes entre si, que cada uma tem seu jeito de crescer e de se realizar como indivíduo, e que todos poderíamos ajudá-las nesse crescimento, porém nunca impondo formas generalizadas e semelhantes.

            Piaget ensinava que cada criança pensa e interpreta o mundo com seu peculiar pensamento e com suas possibilidades orgânicas e mentais, quase sempre heterogêneas.

            Encontramos no mundo atual modernos métodos pedagógicos que seguem esse raciocínio, levando em conta que cada indivíduo, para assimilar sua realidade de vida, é portador de um processo psicológico de aprendizagem próprio. Cada um percebe de forma dessemelhante os estímulos da Vida, decodifica-os e em seguida os reelabora, formando assim sua própria individualidade.

            Por outro lado, encontramos também na reencarnação a guarida desses métodos de ensino, pois ela se baseia na multiplicidade de experiências ocorridas nos diversos avatares por onde a alma percorre seus caminhos vivenciais, como um ser individual. As diversidades do nosso tempo de criação, nossas heranças reencarnatórias, experiências emocionais e mentais, ambientes sociais onde ocorrem essas mesmas experiências, estruturas sexuais, masculinas ou femininas, e motivações várias desenvolvidas na atualidade particularizam os seres humanos com vocações, tendências, interesses, grau de raciocínio e discernimento ―sui generis.

            Relativos e não generalizados devem ser os modos de ver as coisas e as pessoas. O próprio direito penal classifica e pune os crimes dentro dos padrões do ―intencional ou ―doloso, ―passional ou ―ocasional. Por que o Poder Inteligente que nos rege iria julgar-nos sem levar em conta nosso ―tempo da ignorância e nossa relatividade?

            Como educar ou avaliar genericamente, usando o mesmo critério, crianças que receberam uma educação cheia de energia e vida, ensinadas a questionar e criar; a ter curiosidade e admiração pela natureza; e outras que só vivenciaram discussões, agressões e comportamentos medíocres por entre odores de bebidas alcoólicas e nicotina, sem uma visão saudável de Deus; ao contrário, temerosa, distorcida, adquirida através da crença de um ser ameaçador e temperamental? O Amor de Deus programou-nos simples inicialmente para permitir que nos desenvolvêssemos, de forma gradativa, até atingir maiores plenitudes e totalidades.

            Temos, pois, que seguir essa programação da Natureza, ou seja, caminhar dentro desse projeto estabelecido pelas leis universais para atingirmos a nossa integração como seres espirituais.

            Esse processo evolucional nos mostra que podemos estar um pouco atrás, ou adiante, das criaturas, embora cada uma delas tenha suas características próprias e certas de acordo com sua idade astral. Nesse decurso evolutivo, todos nós passamos por fases de egoísmo e orgulho até atingirmos mais tarde as grandes virtudes da alma. Consideremos, portanto, que não seremos censurados por estar nessas fases ―primitivas, porque o que chamamos de ―defeito ou ―inferioridade seja, talvez, a passagem por esses ciclos iniciantes onde estagiamos. Lembremos que essas ―fases ou ―ciclos não foram criados por nós, mas pelos desígnios de Deus, que regem a Natureza como um todo.

            Coisas inadequadas que vemos em outras pessoas podem ser naturais nelas, ou mesmo do ―tempo da sua ignorância, e representam características próprias de sua etapa evolucional na estrada por onde todos transitamos, alguns mais avançados e outros na retaguarda.

            A vida moderna nos deu raciocínio e reflexão, maturação intelectual e um desenrolar de novas descobertas, ensinando-nos formulações racionais surpreendentes para que melhor pudéssemos compreender os métodos de evolução e progresso em nós mesmos e no Universo.

            Não somos responsáveis por aquilo que não sabemos, não sofreremos um castigo por atos ou atitudes que ignoramos. Talvez essas idéias de punição, alienatórias, sejam os frutos da incapacidade de nossa reflexão sobre a Bondade Divina, O que chamamos de ―sofrimento é simplesmente ―resultado de nossa falta de habilidade para desenvolver as coisas corretamente, pois na vida não existem ―prêmios nem ―castigos, somente as conseqüências dos nossos atos.

            Vale, porém, considerar que, à medida que nossa consciência se expande e maior lucidez se faz em nossa mente, maiores serão nossos compromissos perante a existência. ―Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós (João 9:41).

            Podemos pretextar ignorância, mas se tivermos consciência de nossos feitos isso sempre será levado em conta. Avaliemos atentamente: os tesouros da alma que já integramos nos obrigarão a prestar maiores ou menores contas perante a Vida Maior. (Renovando atitudes.  Cap. 3. Espírito Hammed. Psicografado por Francisco do Espírito Santo Neto )

            Principalmente ao ensino dos Espíritos é que estas máximas se aplicam. Quem quer que conheça os preceitos do Cristo e não os pratique, é certamente culpado; contudo, além de o Evangelho, que os contém, achar-se espalhado somente no seio das seitas cristãs, mesmo dentro destas quantos há que não o lêem, e, entre os que o lêem, quantos os que o não compreendem! Resulta daí que as próprias palavras de Jesus são perdidas para a maioria dos homens.

            O ensino dos Espíritos, reproduzindo essas máximas sob diferentes formas, desenvolvendo-as e comentando-as, para pô-las ao alcance de todos, tem isto de particular: não é circunscrito: todos, letrados ou iletrados, crentes ou incrédulos, cristãos ou não, o podem receber, pois que os Espíritos se comunicam por toda parte. Nenhum dos que o recebam, diretamente ou por intermédio de outrem, pode pretextar ignorância; não se pode desculpar nem com a falta de instrução, nem com a obscuridade do sentido alegórico. Aquele, portanto, que não aproveita essas máximas para melhorar-se, que as admira como coisas interessantes e curiosas, sem que lhe toquem o coração, que não se torna nem menos vão, nem menos orgulhoso, nem menos egoísta, nem menos apegado aos bens materiais, nem melhor para seu próximo, mais culpado é, porque mais meios tem de conhecer a verdade.

            Os médiuns que obtêm boas comunicações ainda mais censuráveis são, se persistem no mal, porque muitas vezes escrevem sua própria condenação e porque, se não os cegasse o orgulho, reconheceriam que a eles é que se dirigem os Espíritos. Mas, em vez de tomarem para si as lições que escrevem, ou que lêem escritas por outros, têm por única preocupação aplicá-las aos demais, confirmando assim estas palavras de Jesus: "Vedes um argueiro no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso." (ESE. Cap. X, nº 9. A.K.)

            Por esta sentença: "Se fôsseis cegos, não teríeis pecados", quis Jesus significar que a culpabilidade está na razão das luzes que a criatura possua. Ora, os fariseus, que tinham a pretensão de ser, e eram, com efeito, os mais esclarecidos da sua nação, mais culposos se mostravam aos olhos de Deus, do que o povo ignorante. O mesmo se dá hoje. Aos espíritas, pois, muito será pedido, porque muito hão recebido; mas, também, aos que houverem aproveitado, muito será dado. O primeiro cuidado de todo espírita sincero deve ser o de procurar saber se, nos conselhos que os Espíritos dão, alguma coisa não há que lhe diga respeito. O Espiritismo vem multiplicar o número dos chamados. Pela fé que faculta, multiplicará também o número dos escolhidos. ( O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 18. Item 12. Allan Kardec )

            Todo aquele que aceita a Doutrina Espírita assume o grave compromisso de Solidariedade, irmã gêmea da Responsabilidade. Elas andam sempre juntas.O espírita verdadeiro não tem o direito de desconhecer os princípios básicos da Doutrina, porque, se não os conhece, não pode considerar-se propriamente um espírita. É tão grande a responsabilidade do espírita que ele não pode desvencilhar-se da responsabilidade que, mais do que antes, decorre dos seus atos e palavras. ( Revista Reformador. Ano 82. Os deveres dos espíritas. Idalícito Mendes )

            Responsável não é somente aquele que tem boa assiduidade e disciplina.

            Acima disso, é aquele que vive a tarefa de amor para os outros enquanto ela se realiza, e a internaliza para si quando encerra para os demais.

            Somente quando levamos a tarefa espírita no coração para fora dos seus horários de realização é que abrimos nossas experiências para a criação do bem, candidatando-nos a novas e maiores responsabilidades, que ensejarão clima e ocasião para a conquista definitiva da tão sonhada felicidade.

            (...)Comecemos por indagar: o que é o bem? Onde ele está para cada um de nós?

            Verificaremos que o bem não está nessa ou naquela tarefa, porque ele é uma questão interior, consciencial, e essa deve ser a meta de todo aquele que foi bafejado pelas brisas consoladoras da Nova Revelação.

            Não podemos iludir ninguém. Criar o bem, enquanto "missão individual", não é das tarefas mais fáceis na escola da espiritualização humana. Exige o gesto incomum, o risco, a quebra com o padrão, o servir incondicional, a disposição para experimentar o novo sem medo de normas, aprender a respeitar todas as experiências alheias por mais imaturas que sejam. E muita vontade de ser útil à vida na pessoa do próximo e da sociedade.

            O ato de ser responsável significa assumir nossa vida e parar com hábito de colocar no mundo de fora as razões de nossos fracassos; é assumir o "chamado específico" de Deus para conosco; é desvendar quais os sábios Desígnios do Criador para com nosso destino. (Mereça ser feliz. Cap. 27. Os responsáveis são felizes. Emanuel Dufaux. Walderley S. Oliveira )

            Há, no homem, latente, um forte mecanis­mo que o leva a fugir da responsabilidade, transferindo o seu insucesso para outrem, na condi­ção de indivíduo social, ou para os fatores circunstanciais da sorte, do nascimento e até de Deus.

           Quando tal não se dá, na área das suas pro­jeções comportamentais, apega-se ao complexo de culpa, mergulhando nas depressões em que oculta a infantilidade, pouco importando a idade orgânica em que transita. (Jesus e atualidade. Cap. 12. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Franco )

            É muito cômodo atribuir-se o insucesso das realizações a outrem, transferindo responsabilidades.

             Incapaz de encarar o fracasso do verdadeiro ângulo pelo qual deve ser examinado, o homem que faliu acusa os outros e exculpa-se, anestesiando os centros do discernimento, mediante o que espera evadir-se do desastre.

             Há fatores de várias ordens que contribuem poderosamente em todo e qualquer cometimento humano. O homem de ação, porém, graças aos seus valores intrínsecos reais, responderá sempre pela forma como conduz o programa que tem em mãos para executar. Assim, portanto, pelos resultados do empreendimento;

             Pessoas asseveram em face dos desequilíbrios que se permitem: “Não tinha outra alternativa. Fui induzido pelos maus amigos.”

             Outras criaturas afirmam após a queda: “Os Espíritos Infelizes ganharam a batalha, após a insistência e a perseguição que eu não mais agüentava.  Diversos justificam a negligência, sob o amparo do desculpismo piegas e da desfaçatez indébita. (Leis morais da vida.  Cap. 10. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Franco )

            Parece, às vezes, que o mal é uma conseqüência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus?

            “Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende.” ( O Livro dos Espíritos. Questão 638. Allan Kardec )

             Não sucede freqüentemente resultar o mal, que o homem pratica, da posição em que os outros homens o colocam? Quais, nesse caso, os culpados?

            “O mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram. Porque, cada um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.” ( O Livro dos Espíritos. Questão 639. Allan Kardec )

            No trecho a seguir, retirado do Livro " O céu e o inferno " , Allan Kardec relata um caso em que a noiva , responsável pelo suícidio do seu parceiro, sofrerá pena maior por ser causadora do mal:

            Havia sete para oito meses que Luís G., oficial sapateiro, namorava uma jovem, Victorine R., com a qual em breve deveria casar-se, já tendo mesmo corrido os proclamas do casamento.

            Neste pé as coisas, consideravam-se quase definitivamente ligados e, como medida econômica, diariamente vinha o sapateiro almoçar e jantar em casa da noiva.

            Um dia, ao jantar, sobreveio uma controvérsia a propósito de qualquer futilidade, e, obstinando-se os dois nas opiniões, foram as coisas ao ponto de Luís abandonar a mesa, protestando não mais voltar.

            Apesar disso, no dia seguinte veio pedir perdão. A noite é boa conselheira, como se sabe, mas a moça, prejulgando talvez pela cena da véspera o que poderia acontecer quando não mais a tempo de remediar o mal, recusou-se à reconciliação. Nem protestos, nem lágrimas, nem desesperos puderam demovê-la. Muitos dias ainda se passaram, esperando Luís que a sua amada fosse mais razoável, até que resolveu fazer uma última tentativa: Chegando à casa da moça, bateu de modo a ser reconhecido, mas a porta permaneceu fechada, recusaram abrir-lha. Novas súplicas do repelido, novos protestos, não ecoaram no coração da sua pretendida.

            “Adeus, pois, cruel!” — exclamou o pobre moço — “adeus para sempre. Trata de procurar um marido que te estime tanto como eu.” Ao mesmo tempo a moça ouvia um gemido abafado e logo após o baque como que de um corpo escorregando pela porta. Pelo silêncio que se seguiu, a moça julgou que Luís se assentara à soleira da porta, e protestou a si mesma não sair porquanto ele ali se conservasse.

            Decorrido um quarto de hora é que um locatário, passando pela calçada e levando luz, soltou um grito de espanto e pediu socorro.

            Depressa acorre a vizinhança, e Victorine, abrindo então a porta, deu um grito de horror, reconhecendo estendido sobre o lajedo, pálido, inanimado, o seu noivo. Cada qual se apressou em socorrê-lo, mas para logo se percebeu que tudo seria inútil, visto como ele deixara de existir. O desgraçado moço enterrara uma faca na região do coração, e o ferro ficara -lhe cravado na ferida.

            1. (Ao Espírito São Luís.) — A moça, causadora involuntária do suicídio, tem responsabilidade?

            — R. Sim, porque o não amava.

            2. Então para prevenir a desgraça deveria desposá-lo a despeito da repugnância que lhe causava?

            — R. Ela procurava uma ocasião de descartar-se, e assim fez em começo da ligação o que viria a fazer mais tarde.

            3. Neste caso, a sua responsabilidade decorre de haver alimentado sentimentos dos quais não participava e que deram em resultado o suicídio do moço?

            — R. Sim, exatamente.

            4. Mas então essa responsabilidade deve ser proporcional à falta, e não tão grande como se consciente e voluntariamente houvesse provocado o suicídio...

            — R. É evidente.

            5. E o suicídio de Luís tem desculpa pelo desvario que lhe acarretou a obstinação de Victorine?

            — R. Sim, pois o suicídio oriundo do amor é menos criminoso aos olhos de Deus, do que o suicídio de quem procura libertar-se da vida por motivos de covardia.

            Ao Espírito Luís G., evocado mais tarde, foram feitas as seguintes perguntas:

            1. Que julgais da ação que praticastes?

            — R. Victorine era uma ingrata, e eu fiz mal em suicidar-me por sua causa, pois ela não o merecia.

            2. Então não vos amava?

            — R. Não. A princípio iludia-se, mas a desavença que tivemos abriu-lhe os olhos, e ela até se deu por feliz achando um pretexto para se desembaraçar de mim.

            3. E o vosso amor por ela era sincero?

            — R. Paixão somente, creia; pois se o amor fosse puro, eu me teria poupado de lhe causar um desgosto.

            4. E se acaso ela adivinhasse a vossa intenção persistiria na sua recusa?

            — R. Não sei, penso mesmo que não, porque ela não é má. Mas, ainda assim, não seria feliz, e melhor foi para ela que as coisas se passassem de tal forma.

            5. Batendo-lhe à porta, tínheis já a ideia de vos matar, caso se desse a recusa?

            — R. Não, em tal não pensava, porque também não contava com a sua obstinação. Foi somente à vista desta que perdi a razão.

            6. Parece que não deplorais o suicídio senão pelo fato de Victorine o não merecer... É realmente o vosso único pesar?

            — R. Neste momento, sim; estou ainda perturbado, afigura-se-me estar ainda à porta, conquanto também experimente outra sensação que não posso definir.

            7. Chegareis a compreendê-la mais tarde?

            — R. Sim, quando estiver livre desta perturbação. Fiz mal, deveria resignar-me... Fui fraco e sofro as consequências da minha fraqueza. A paixão cega o homem a ponto de praticar loucuras, e infelizmente ele só o compreende bastante tarde.

            8. Dizeis que tendes um desgosto... qual é?

            — R. Fiz mal em abreviar a vida. Não deveria fazê-lo. Era preferível tudo suportar a morrer antes do tempo. Sou portanto infeliz; sofro, e é sempre ela que me faz sofrer, a ingrata. Parece-me estar sempre à sua porta, mas... não falemos nem pensemos mais nisso, que me incomoda muito. Adeus.

            Por isso se vê ainda uma nova confirmação da justiça que preside à distribuição das penas, conforme o grau de responsabilidade dos culpados. É à moça, neste caso, que cabe a maior responsabilidade, por haver entretido em Luís, por brincadeira, um amor que não sentia. Quanto ao moço, este já é de sobejo punido pelo sofrimento que lhe perdura, mas a sua pena é leve, porquanto apenas cedeu a um movimento irrefletido em momento de exaltação, que não à fria premeditação dos suicidas que buscam subtrair-se às provações da vida. ( O céu e o inferno. Segunda parte. Cap. 5. Luís e a pespontadeira de botinas. Allan Kardec )

            A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por erros alheios, salvo se a eles deu origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia fazê-lo.

            Assim, o suicida é sempre punido, mas aquele que por maldade impele outro a cometê-lo, esse sofre ainda maior pena. ( O céu e o inferno. Primeira parte. Cap. 7. Item 21. Allan Kardec )

            Aquele que não pratica o mal, mas que se aproveita do mal praticado por outrem, é tão culpado quanto este?

            “É como se o houvera praticado. Aproveitar do mal é participar dele. Talvez não fosse capaz de praticá-lo; mas, desde que, achando-o feito, dele tira partido, é que o aprova; é que o teria praticado, se pudera, ou se ousara.” (O Livro dos Espíritos. Questão 640. Allan Kardec )

            Se um homem cometeu um crime, e o fez seduzido pelos conselhos perigosos de outro homem que sobre ele exerce muita influência, a justiça humana saberá reconhecê-lo, concedendo-lhe o benefício das circunstâncias atenuantes; irá mais longe: punirá o homem cujos conselhos perniciosos provocaram o crime e, mesmo sem haver contribuído de outra maneira, este homem será mais severamente punido do que o que foi o instrumento, porque foi seu pensamento que concebeu o crime, e sua influência sobre um ser mais fraco que o fez executar. Pois bem! se assim fazem os homens, diminuindo a responsabilidade do criminoso e a partilhando com o infame que o impeliu a cometer o crime, como quereríeis que Deus, que é a justiça mesma, não fizesse o mesmo, já que vossa razão vos diz que é justo agir assim? ( Revista Espírita. Agosto de 1867. Dissertações Espíritas. A responsabilidade moral. Allan Kardec )

             Pode o mal, não raro, ter sido cometido por alguém em circunstancias que o envolveram, independentemente de sua Vontade ou por injunções a que teve de submeter-se .Nessas condições, a culpa maior é dos que hajam determinado tais circunstâncias ou injunções, porque perante a Justiça Divina cada um se faz responsável não só pelo mal que haja feito, direta e pessoalmente, como também pelo mal que tenha ocasionado em decorrência de sua autoridade ou de sua influência sobre outrem.

            Ninguém, todavia, jamais poderá ser violentado em seu foro íntimo. Isto posto, quando compelidos por uma ordem formal, seremos ou não culpáveis, dependendo dos sentimentos que experimentemos e da forma como ajamos ao cumpri-la. Exemplificando: poderemos ser enviados à guerra contra a nossa vontade, não nos cabendo, neste caso, nenhuma responsabilidade pelas mortes e calamidades que dela se originem; se, porém, no cumprimento desse dever cívico, sentirmos prazer em eliminar nossos adversários ou se agirmos com crueldade, seremos tanto ou mais culpados do que os assassinos passionais. ( As leis morais. Cap. 8. Rodolfo Calligaris )

            Será tão repreensível, quanto fazer o mal, o desejá-lo?

            “Conforme. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.” ( O Livro dos Espíritos.  Questão 641. Allan Kardec.)

            Tirarmos vantagem de uma ação má, praticada por outras pessoas, constitui igualmente, para nós, falta grave, qual se fôssemos os próprios delinqüentes, pois isso equivale a aprovar o mal, solidarizando-se com ele. Nas vezes em que desejamos fazer o mal, mas recuamos a tempo, embora oportunidade houvesse de levá-lo a cabo, demonstramos que o Bem já se está desenvolvendo em nossas almas. Se entretanto, deixamos de satisfazer àquele desejo, apenas porque nos faltasse ocasião propícia Para tal, então somos tão repreensíveis como se o houvéramos praticado. ( As leis morais. Cap. 8. Rodolfo Calligaris )

            Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

            “Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” ( O Livro dos Espíritos. Questão 642. Allan Kardec )

            Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das conseqüências que estes tiverem. ( O Livro dos Espíritos. Questão 258 . Allan Kardec )

            A liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade. Sem ela, não seria ele mais do que um autômato, um joguete das forças ambientes: a noção de moralidade é inseparável da de liberdade.

            A responsabilidade é estabelecida pelo testemunho da consciência, que nos aprova ou censura segundo a natureza de nossos atos. A sensação do remorso é uma prova mais demonstrativa que todos os argumentos filosóficos.

            Para todo Espírito, por pequeno que seja o seu grau de evolução, a Lei do dever brilha como um farol, através da névoa das paixões e interesses. Por isso, vemos todos os dias homens nas posições mais humildes e difíceis preferirem aceitar provações duras a se abaixarem a cometer atos indignos. ( O problema do ser, do destino e da dor. Cap.22. León Denis )

            O homem responsável sabe o que fazer, quando e como realizá-lo.

            Não se torna parasita social, nem se hos­peda no triunfo alheio, tampouco oculta-se no desculpismo ridículo.

            A sua lucidez torna-o elemento precioso no grupo social onde se movimenta. Talvez não lhe notem a presença, face à segurança natural que proporciona; todavia, a sua falta sempre se faz percebida por motivos óbvios.

            A responsabilidade do homem leva-o aos ex­tremos do sacrifício, da abnegação, da renúncia, inclusive do bem-estar, e até mesmo da sua vida. (Jesus e atualidade. Cap. 12. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Franco )

            Sem dúvida, os responsáveis são mais felizes, porque descobriram seu papel divino no Universo simplesmente pelo fato de que resolveram experimentar não seguir o rumo da maioria, procurando ouvir a voz da consciência, onde se encontram as Excelsas Mensagens de Deus para cada um de nós. (Mereça ser feliz. Cap. 27. Os responsáveis são felizes. Emanuel Dufaux. Walderley S. Oliveira )

 

Bibliografia:

- O  Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 18- Itens 12 e 15.  Allan Kardec. 

- O Livro dos Espíritos. Questões 258,  262, 638, 639, 640, 641 e 642 . Allan Kardec .

-  O céu e o inferno. Segunda parte. Cap. 5- Luís e a pespontadeira de botinas. Cap. 7- Item 21. Allan Kardec .

-  Revista Espírita.  Janeiro de 1864. Questões e problemas. Progresso nas primeiras encarnações. Allan Kardec .

- Revista Espírita. Agosto de 1867. Dissertações Espíritas. A responsabilidade moral. Allan Kardec .

- Ação e reação. Cap. 7. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier .

-  O Consolador. Questão 248 e 303. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier.

- Nas pegadas do Mestre.  Pecado sem perdão.  Vinícius.

-  Renovando atitudes.  Cap. 3. Espírito Hammed. Psicografado por Francisco do Espírito Santo Neto .

- Revista Reformador. Ano 82. Os deveres dos espíritas. Idalícito Mendes.

- Mereça ser feliz. Cap. 27. Os responsáveis são felizes. Emanuel Dufaux. Walderley S. Oliveira .

- Leis morais da vida.  Cap. 10. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Franco.

- Jesus e atualidade. Cap. 12. Espírito Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Franco .

- As leis morais. Cap. 8. Rodolfo Calligaris.

- O problema do ser, do destino e da dor. Cap.22. León Denis.

- Elucidações Evangélicas. Cap. 85. Antônio Luiz Sayāo .

- Bíblia : Atos 17:30; Lucas 12:48.

Passatempo Espírita © 2013 - 2024. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por Webnode