SERÁ ÚTIL QUE OREMOS PELOS MORTOS, SENDO QUE DEUS NÃO DESAMPARA NINGUÉM?

Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos" fez uma pergunta semelhante aos Espíritos Superiores:

Será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, neste caso, como lhes podem as nossas preces proporcionar alívio e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de abrandar a justiça de Deus?

R. "A PRECE NÃO PODE TER POR EFEITO MUDAR OS DESÍGNIOS DE DEUS, MAS A ALMA POR QUEM SE ORA EXPERIMENTA ALÍVIO, porque recebe assim um testemunho do interesse que inspira àquele que por ela pede e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores. Por outro lado, MEDIANTE A PRECE , AQUELE QUE ORA CONCITA O DESGRAÇADO AO ARREPENDIMENTO o e ao desejo de fazer o que é necessário para ser feliz. Neste sentido é que se lhe pode abreviar a pena, se, por sua parte, ele secunda a prece com a boa vontade. O DESEJO DE MELHORAR-SE, DESPERTADO PELA PRECE, ATRAI PARA JUNTO DO ESPÍRITO SOFREDOR ESPÍRITOS MELHORES, que o vão esclarecer, consolar e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse modo, que culpados vos tornaríeis, se não fizésseis o mesmo pelos que mais necessitam das vossas preces." (O Livro dos Espíritos. Questão 664. Allan Kardec)

No Evangelho está escrito que Jesus costumava orar em lugares isolados e desertos:

"Ele, porém, retirava-se para os desertos, e ali orava." (Lucas 5:16)

Certa vez, "Os discípulos de João vieram, levaram o seu corpo e o sepultaram. Depois foram contar isso a Jesus. Ouvindo o que havia ocorrido, Jesus retirou-se de barco, em particular, para um lugar deserto. As multidões, ao ouvirem falar disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. (...)Tendo despedido a multidão, subiu sozinho a um monte para orar. "  (Mateus 14:12-13;23)

O Divino Mestre recomendava que também fizéssemos a prece no quarto isolado, dizendo:

"Mas, quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará." (Mateus 6:6)

"Os que contestam a eficácia da prece dizem: Os desígnios de Deus são imutáveis e ele não os derroga a pedido do homem.
─ Isto depende do objeto da prece, pois é muito certo que Deus não pode infringir suas leis a fim de satisfazer a todos os pedidos inconsiderados que lhe dirigimos. Encaremo-la apenas do ponto de vista do alívio das almas sofredoras. Para começar, afirmamos que, admitindo que a duração efetiva dos sofrimentos não possa ser abreviada, a comiseração e a simpatia são um abrandamento para aquele que sofre. Se um prisioneiro for condenado a vinte anos de prisão, não sofrerá mil vezes mais estando só, isolado, abandonado? Mas se uma alma caridosa e compassiva vier visitá-lo, consolá-lo, encorajá-lo, não terá o poder de quebrar suas cadeias antes de cumprida a pena? Não as tornará menos pesadas e os anos não parecerão mais curtos? Quem na Terra não encontra na compaixão um alívio às suas misérias, um consolo nas expansões da amizade?
(...) A prece, bem entendido, a prece real, de coração, ditada por uma verdadeira caridade, incita o Espírito ao arrependimento; desenvolve-lhe os bons sentimentos; esclarece-o; faz com que compreenda a felicidade dos que lhe são superiores; anima-o a fazer o bem, a tornar-se útil, porque os Espíritos podem fazer o bem e o mal. De certo modo, liberta-o do desencorajamento em que se entorpece e permite-lhe vislumbrar a luz. Por seus esforços pode, pois, sair do atoleiro em que está preso. É assim que a mão protetora que lhe estendemos pode abreviar-lhe os sofrimentos." (Revista Espírita. Dezembro de 1859. Efeitos da prece. Allan Kardec)

Jesus Cristo afirma: "Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende." ( Lucas 15:10)

No livro "Nosso lar", psicografado por Chico Xavier, o Espírito André Luiz relata que, antes de ser levado para colônia espiritual Nosso Lar, ficou durante oito anos no umbral (zonas inferiores), e só recebeu o amparo do bons Espíritos, quando se recordou que deveria existir um Autor da vida e, resolveu fazer uma prece. Ele descreve a cena da seguinte forma:

"E, quando as energias me faltaram de todo, quando me sentia absolutamente colado ao lodo da Terra, sem forças para reerguer-me, pedi ao Supremo Autor da Natureza me estendesse mãos paternais, em tão amargurosa emergência.

Quanto tempo durou a rogativa? Quantas horas consagrei à súplica, de mãos-postas, imitando a criança aflita? Apenas sei que a chuva das lágrimas me lavou o rosto; que todos os meus sentimentos se concentraram na prece dolorosa. Estaria, então, completamente esquecido? Não era, igualmente, filho de Deus, embora não cogitasse de conhecer-lhe a atividade sublime quando engolfado nas vaidades da experiência humana? Por que não me perdoaria o Eterno Pai, quando providenciava ninho às aves inconscientes e protegia, bondoso, a flor tenra dos campos agrestes? Ah! é preciso haver sofrido muito, para entender todas as misteriosas belezas da oração; é necessário haver conhecido o remorso, a humilhação, a extrema desventura, para tomar com eficácia o sublime elixir de esperança. Foi nesse instante que as neblinas espessas se dissiparam e alguém surgiu, emissário dos Céus. Um velhinho simpático me sorriu paternalmente. Inclinou-se, fixou nos meus os grandes olhos lúcidos, e falou:

- Coragem, meu filho! O SENHOR NÃO TE DESAMPARA.

Amargurado pranto banhava-me a alma toda. Emocionado, quis traduzir meu júbilo, comentar a consolação que me chegava, mas, reunindo todas as forças que me restavam, pude apenas inquirir:

- Quem sois, generoso emissário de Deus?

O inesperado benfeitor sorriu bondoso e respondeu:

- Chama-me Clarêncio, sou apenas teu irmão.

E, percebendo o meu esgotamento, acrescentou:

- Agora, permanece calmo e silencioso. É preciso descansar para reaver energias.

Em seguida, chamou dois companheiros que guardavam atitude de servos desvelados e ordenou:

- Prestemos ao nosso amigo os socorros de emergência." (Nosso Lar. Cap. 2. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

Quando  já estava na colônia espiritual de trasição Nosso Lar, o Espírito André Luiz solicitou esclarecimentos ao visitador dos serviços de saúde, sobre o que havia ocorrido, dizendo:

'"Um dia, não pude conter-me e perguntei ao solícito visitador:

- Meu caro Lísias, acha possível, aqui, o encontro com aqueles que nos antecederam na morte do corpo físico?

- Como não? Pensa que está esquecido?...

- Sim. Por que não me visitam? Na Terra, sempre contei com a abnegação maternal. Minha mãe, entretanto, até agora não deu sinal de vida. Meu pai, igualmente, fez a grande viagem; três anos antes do meu trespasse.

- Pois note - esclareceu Lísias -, sua mãe o tem ajudado dia e noite, desde a crise que antecipou sua vinda. Quando se acamou para abandonar o casulo terrestre, duplicou-se o interesse maternal a seu respeito. Talvez não saiba ainda que sua permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos. Ela jamais desanimou. Intercedeu, muitas vezes, em &Nosso Lar&, a seu favor. Rogou os bons ofícios de Clarêncio, que começou a visitá-lo freqüentemente, até que o médico da Terra, vaidoso, se afastasse um tanto, a fim de surgir o filho dos Céus. Compreendeu?

(...) - No dia em que você orou com tanta alma - prosseguiu o enfermeiro visitador -, quando compreendeu que tudo no Universo pertence ao Pai Sublime, seu pranto era diferente. Não sabe que há chuvas que destroem e chuvas que criam? Lágrimas há também, assim. É lógico que o Senhor não espera por nossas rogativas para nos amar; no entanto, é indispensável nos colocarmos em determinada posição receptiva, a fim de compreender-lhe a infinita bondade. Um espelho enfuscado não reflete a luz. Desse modo, o Pai não precisa de nossas penitências, mas convenhamos que as penitências prestam ótimos serviços a nós mesmos. Entendeu?

CLARÊNCIO NÃO TEVE DIFICULDADE EM LOCALIZÁ-LO, ATENDENDO AOS APELOS DE SUA CARINHOSA GENITORA DA TERRA; VOCÊ, PORÉM, DEMOROU MUITO A ENCONTRAR CLARÊNCIO. E quando sua mãezinha soube que o filho havia rasgado os véus escuros com o auxílio da oração, chorou de alegria, segundo me contaram..."(Nosso Lar. Cap. 7. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

Allan Kardec já havia dito que, "A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado. (...) O Espírito é assim sempre o árbitro de seu próprio destino; pode prolongar seus sofrimentos pela persistência no mal, aliviá-los ou abreviá-los por seus esforços para fazer o bem. " (O Céu e o Inferno. 1ª Parte. Cap. 7. Itens11 à 13.  Allan Kardec) Sendo assim, conclui-se que o Espírito André Luiz poderia ter abreviado seu sofrimento, se tivesse orado antes, solicitando o auxílio a Deus.

Segundo Allan Kardec, "A prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos dirigimos. Ela pode ter objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios; as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus. Quando oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 27. Item 9. Allan Kardec).

"O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito.  Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade. É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos onde quer que eles se encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem a suas inspirações, e que a relações se estabelecem à distância entre os próprios encarnados." (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. 27. Item 10. Allan Kardec).

Com relação a prece feita para os Espíritos sofredores, o Codificador da Doutrina Espírita faz o seguinte esclarecimento: "Os Espíritos sofredores ligam-se aos que oram por eles, como o ser reconhecido àquele que lhe faz bem. (...) O assassino Lemaire, cuja evocação publicamos em nosso número de março de 1858, evocação que, diga-se de passagem, excitou a veia trocista de alguns céticos, esse mesmo assassino, infeliz, abandonado, encontrou em um de nossos leitores um coração compassivo, que teve pena dele. Veio algumas vezes visitá-lo e procurou manifestar-se por todos os meios e modos até que essa pessoa, tendo ocasião de esclarecer-se quanto a essas manifestações, soube que era Lemaire que lhe queria demonstrar o seu reconhecimento. Quando lhe foi possível externar o seu pensamento, disse-lhe: "Obrigado, alma caridosa! Eu me achava só, com os remorsos de minha vida passada e tivestes piedade de mim. Estava abandonado e pensastes em mim. Estava no abismo e estendestes-me a mão. Vossas preces foram para mim como um bálsamo consolador. Compreendi a enormidade dos meus crimes e peço a Deus que me conceda a graça de repará-los numa nova existência, na qual possa fazer tanto bem quanto mal já fiz. Obrigado, mais uma vez! Obrigado!" (Revista Espírita. Dezembro de 1859. Efeitos da prece. Allan Kardec)

No livro "O Céu e o inferno" há registro de um caso em que a prece exerceu um efeito tanto moral, quanto material sobre um espírito sofredor desencarnado (Auguste Michel) que havia solicitado a presença de um médium no cemitério para orar sobre o seu corpo físico (ou seja, aplicar um passe magnético), pois estava com dificuldades de se desprender dele. Diante deste fato, Allan Kardec faz a seguinte explicação: "A INSISTÊNCIA DO ESPÍRITO, PARA QUE SE ORASSE SOBRE O SEU TÚMULO,  É UMA PARTICULARIDADE NOTÁVEL, mas que tinha sua razão de ser se levarmos em conta a tenacidade dos laços que ao corpo o prendiam, à dificuldade do desprendimento, em conseqüência da materialidade da sua existência. COMPREENDE-SE QUE, MAIS PRÓXIMA, A PRECE PUDESSE EXERCER UMA ESPÉCIE DE AÇÃO MAGNÉTICA MAIS PODEROSA NO SENTIDO DE AUXILIAR O DESPRENDIMENTO. O costume quase geral de orar junto aos cadáveres não provirá da intuição inconsciente de um tal efeito? NESSE CASO, A EFICÁCIA DA PRECE ALCANÇARIA UM RESULTADO SIMULTANEAMENTE MORAL E MATERIAL." (O  Céu e o  inferno.  Espíritos  Sofredores.  Allan Kardec)

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