Segundo o dicionário infopédia (Porto Editora), a palavra "acaso" significa um "conjunto de fatos sem causa aparente que determinam um acontecimento; causalidade; ocasião imprevista", ou seja, algo que ocorreu "acidentalmente".
Será, realmente, que nada ocontece por acaso? Se não houvesse "o acaso" em alguns acontecimentos da nossa vida, tudo estaria previamente determinado pelo destino, ou seja, não poderíamos modificar nada, por conseguinte, não existiria o livre-arbítrio e a responsabilidade.
Somos nós que construímos o nosso próprio destino, em decorrência do nosso livre-arbítrio desta vida atual e, devido as consequências das escolhas feitas em existências passadas.
Em outras palavras, podemos nesta existência cumprir a trajetória das escolhas que fizemos antes de reencarnarmos, ou seja, passar pelo gênero de provas , ou modificar o curso da nossa existência, escolhendo um caminho falso, uma vez que ninguém veio a este mundo predestinado a cometer crimes.
Rodolfo Calligaris afirma: "Se todas as coisas estivessem previamente determinadas e nada se pudesse fazer para impedi-las ou modificar-lhes o curso, a criatura humana se reduziria a simples máquina, destituída de liberdade e, pois, inteiramente irresponsável." (As leis morais. Cap. 36. Rodolfo Calligaris)
Acerca deste assunto, Allan Kardec faz a seguinte explicação: "Há, por certo, leis gerais a que o homem está fatalmente submetido, mas é um erro crer que as menores circunstâncias da vida sejam predeterminadas de maneira irrevogável. Se assim fosse, o homem seria uma máquina sem iniciativa e, por consequência, sem responsabilidade. O livre-arbítrio é uma das prerrogativas do homem. Desde o momento que ele é livre de ir para a direita ou para a esquerda, de agir conforme as circunstâncias, seus movimentos não são regulados como os de uma máquina. Conforme faz ou deixa de fazer uma coisa e conforme a faz de uma maneira ou de outra, os acontecimentos que disso dependem seguem um curso diferente. Desde que subordinados à decisão do homem, não são submetidos à fatalidade. São fatais os que não dependem de sua vontade. Mas, todas as vezes que o homem pode reagir em virtude de seu livre-arbítrio, não há fatalidade.
O homem tem, pois, um limite, dentro do qual pode mover-se livremente. Essa liberdade de ação tem por limites as leis da Natureza, que ninguém pode transpor; ou, melhor dizendo, essa liberdade, na esfera da atividade em que se exerce, faz parte dessas leis. Ela é necessária, e é por ela que o homem é chamado a concorrer para a marcha geral das coisas. Como ele o faz livremente, tem o mérito do que faz de bem e o demérito do que faz de mal, de sua despreocupação, de sua negligência, de sua inatividade. As flutuações que sua vontade pode causar aos acontecimentos da vida, de modo algum perturbam a harmonia universal, pois essas flutuações fazem parte das provas que incumbem ao homem na Terra.
No limite das coisas que dependem da vontade do homem, Deus pode, pois, sem derrogar suas leis, aceder a uma prece, quando é justa, e cuja realização pode ser útil; mas acontece muitas vezes que ele julga a sua utilidade e a sua oportunidade diversamente de nós, razão pela qual nem sempre aquiesce. Se lhe aprouver atendê-la, não é modificando seus desígnios soberanos que o faz, mas por meios que não derrogam a ordem legal, se assim se pode dizer. Os Espíritos, executores de sua vontade, são então encarregados de provocar as circunstâncias que devem conduzir ao resultado desejado. Quase sempre esse resultado requer o concurso de algum encarnado. É, pois, esse concurso que os Espíritos preparam, inspirando aos que devem nela cooperar, o pensamento de uma ação; incitando-os a irem a um ponto e não a outro; provocando encontros propícios que parecem devidos ao acaso. Dessa forma, o acaso não mais existe , nem na assistência que se recebe, nem nas desgraças que se experimenta.
Nas aflições, a prece é não apenas uma prova de confiança e de submissão à vontade de Deus, que a escuta, se for pura e desinteressada, mas ainda tem por efeito, como sabeis, estabelecer uma corrente fluídica que leva para longe, no espaço, o pensamento do aflito, como o ar leva o som de sua voz. Esse pensamento repercute nos corações simpáticos ao sofrimento e estes, por um movimento inconsciente e como atraídos por um poder magnético, se dirigem para o lugar onde sua presença pode ser útil. Deus, que quer socorrer aquele que implora, sem dúvida poderia fazê-lo por si mesmo, instantaneamente, mas, como eu já disse, ele não faz milagres, e as coisas devem seguir seu curso natural. Ele quer que os homens pratiquem a caridade, socorrendo-se uns aos outros. Por seus mensageiros, leva o lamento onde pode encontrar eco e lá bons Espíritos sopram um bom pensamento. Embora suscitado, o pensamento, pelo simples fato de ser desconhecida sua fonte, deixa ao homem toda a sua liberdade. Nada o constrange. Ele tem, por conseguinte, todo o mérito da espontaneidade se cede à voz que em seu íntimo apela ao sentimento do dever, e tudo o desmerece se, dominado por uma indiferença egoística, ele resiste.
P. ─ Há casos, como num perigo iminente, em que a assistência deve ser imediata. Como pode ela chegar em tempo hábil, se é preciso esperar a boa vontade de um homem e se essa boa vontade está ausente, por força do livre-arbítrio?
R. ─ Não deveis esquecer que os anjos de guarda, os Espíritos protetores, cuja missão é velar pelos que lhes são confiados, os seguem, por assim dizer, passo a passo. Eles não lhes podem evitar as apreensões dos perigos que fazem parte de suas provações, mas se as consequências do perigo podem ser evitadas, como tudo previram com antecedência, não esperaram o último momento para preparar o socorro. Se por vezes se dirigem a homens de má vontade, é com vistas a procurar despertar neles os bons sentimentos, mas não contam com eles.
Quando, numa situação crítica, uma pessoa aparece, como que a propósito, para vos assistir e exclamais: "É a Providência que a envia", dizeis uma verdade maior do que por vezes supondes." (Revista Espírita. Maio de 1866. Aquiescência à prece. Allan Kardec)
Na Revista Espírita de 1866, Allan Kardec faz interessantes observações referente a uma tentativa de assassinato de que fora vítima o czar Alexandre da Rússia. No momento do atentado, um jovem camponês chamado Joseph Kommissaroff interveio, evitando que o crime fosse consumado, recebendo uma fortuna considerável pelo favor concedido. Eis o que Kardec escreveu sobre o assunto:
"O jovem se dirigia a uma capela, situada do outro lado do Neva, por ocasião de seu aniversário natalício; nesse momento começava o degelo e, porque a circulação estivesse interrompida, ele teve de renunciar ao seu projeto. Em decorrência desse fato, ficou na outra margem do rio e encontrou-se na passagem do imperador, que saía do jardim de verão. Tendo-se misturado à multidão, percebeu um indivíduo que tentava aproximar-se, e cujas atitudes lhe pareceram suspeitas; seguiu-o e, tendo-o visto tirar uma pistola do bolso e apontá-la para o imperador, teve a presença de espírito de lhe bater no braço, o que fez a arma disparar para o ar. Que feliz acaso, dirão certas pessoas, que justo no momento o degelo tenha impedido Kommissaroff de atravessar o Neva! Para nós, que não acreditamos no acaso, mas que tudo está submetido a uma direção inteligente, diremos que estava nas provas do czar correr aquele perigo (Vide: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXV, Prece num perigo iminente), mas, não tendo ainda chegado sua hora, Kommissaroff havia sido escolhido para impedir a consumação do crime, e as coisas, que parecem efeito do acaso, estavam combinadas para levar ao resultado desejado.
Os homens são os instrumentos inconscientes dos desígnios da Providência. É por eles que ela os realiza, sem que haja necessidade de recorrer a prodígios. Basta a mão invisível que os dirige e nada sai da ordem das coisas naturais.
Se é assim, dirão, o homem não passa de uma máquina, e suas ações são fatais. - Absolutamente, porque se for solicitado a fazer uma coisa, a isto não é constrangido; não deixa de conservar o livre-arbítrio, em virtude do qual pode fazê-la ou não, e a mão que o conduz fica invisível, precisamente para lhe deixar mais liberdade. Assim Kommissaroff podia muito bem não ceder ao impulso oculto que o dirigia para a passagem do imperador; podia ficar indiferente, como tantos outros, à vista do homem suspeito; enfim, poderia ter olhado para outro lado no momento em que este último tirava a pistola do bolso. - Mas, então, se tivesse resistido a esse impulso, o imperador teria sido morto? - Também não; os desígnios da Providência não estão à mercê do capricho de um homem. A vida do imperador devia ser preservada; em falta de Kommissaroff, teria sido por outro meio; uma mosca poderia picar a mão do assassino, levando-o a fazer um movimento involuntário; uma corrente fluídica dirigida sobre ele poderia ter-lhe provocado uma ofuscação. Apenas se Kommissaroff não tivesse escutado a voz íntima que o guiava mau grado seu, teria perdido o benefício da ação que estava incumbido de realizar: eis tudo o que teria resultado. Mas se a hora fatal tivesse soado para o czar, nada poderia tê-lo preservado.
(...) Tendo sido a questão apresentada como objeto de estudo, numa reunião espírita realizada em casa de uma família russa que residia em Paris, um Espírito deu a seguinte explicação:
Mesmo na existência do ser mais ínfimo, nada é deixado ao acaso. Os principais acontecimentos de sua vida são determinados por sua provação: os detalhes são influenciados por seu livre-arbítrio; mas o conjunto da situação foi previsto e combinado antecipadamente por ele próprio e por aqueles que Deus escolheu para sua guarda.
No caso que aqui nos ocupa, as coisas se passaram segundo o curso ordinário. Sendo esse moço já avançado e inteligente, escolheu como provação nascer em condição miserável, depois de ter ocupado uma alta posição social; estando já desenvolvidas a sua inteligência e a sua moralidade, pediu uma condição humilde e obscura para destruir as últimas sementes do orgulho que nele havia deixado o espírito de casta. Escolheu livremente, mas Deus e os Espíritos bons se reservaram recompensá-lo na primeira manifestação de devotamento desinteressado e vedes em que consiste sua recompensa.
Resta-lhe agora, em meio às honrarias e à fortuna, conservar intacto o sentimento de humildade, que foi a base de sua nova encarnação; por isso, ainda é uma prova e uma dupla prova, na sua qualidade de homem e na sua qualidade de pai. Como homem, deve resistir ao arrebatamento de uma alta e súbita fortuna; como pai, deve preservar os filhos da arrogância dos novos-ricos. Pode criar-lhes uma posição admirável; pode aproveitar sua posição intermediária para deles fazer homens úteis ao seu país. (...) Para esse jovem, esperamos, em razão de suas excelentes qualidades, que saberá gozar em paz as vantagens que lhe proporcionou sua ação, e evitar as pedras de tropeço que poderiam retardar sua marcha no caminho do progresso." (Revista Espírita. Junho de 1866. Tentativa de Assassinato do Imperador da Rússia. Allan Kardec)
Em conformidade com este assunto, no livro "O que é o Espiritismo" de Allan Kardec, há esclarecimentos detalhados em forma de pergunta e resposta:
Por que nascem alguns na indigência e outros na opulência? Por que vemos tantas pessoas nascerem cegas, surdas, mudas ou afetadas de moléstias incuráveis, quando outras possuem todas as vantagens físicas? Será um efeito do acaso , ou um ato da Providência?
"Se fosse do acaso, a Providência não existiria. Admitida, porém, a Providência, perguntamos: Como se conciliam esses fatos com a sua bondade e justiça? É por falta de compreensão da causa de tais males que muitos se arrojam a acusar Deus.
Compreende-se que quem se torna miserável ou enfermo, por suas imprudências ou por excessos, seja punido por onde pecou; porém, se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, que fez ela para merecer tais aflições, desde o seu nascimento, ou para ficar isenta delas?
Se admitimos a Justiça de Deus, não podemos deixar de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causa não se encontra na vida presente, deve achar-se antes desta, porque em todas as coisas a causa deve preceder ao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido, para que possa merecer uma expiação.
Os estudos espíritas nos mostram, de fato, que mais de um homem, nascido na miséria, foi rico e considerado em uma existência anterior, na qual fez mau uso da fortuna que Deus o encarregara de gerir; que mais de um, nascido na abjeção, foi anteriormente orgulhoso e prepotente, abusou do poder para oprimir os fracos. Esses estudos no-los fazem ver, muitas vezes, sujeitos àqueles a quem trataram com dureza, entregues aos maus-tratos e à humilhação a que submeteram os outros.
Nem sempre uma vida penosa é expiação; muitas vezes é prova escolhida pelo Espírito, que vê um meio de avançar mais rapidamente, conforme a coragem com que saiba suportá-la.
A riqueza é também uma prova, mas muito mais perigosa que a miséria, pelas tentações que dá e pelos abusos que enseja; também o exemplo dos que viveram demonstra ser ela uma prova em que a vitória é mais difícil. A diferença das posições sociais seria a maior das injustiças - quando não seja o resultado da conduta atual -, se ela não tivesse uma compensação. A convicção que dessa verdade adquirimos, pelo Espiritismo, nos dá força para suportarmos as vicissitudes da vida e aceitarmos a nossa sorte, sem invejar a dos outros." (O que é o Espiritismo. Cap. 3. Item 134. Allan Kardec)
De acordo com Allan Kardec, "A prova implica sempre a de uma inferioridade real ou presumível, porque o que chegou ao ponto culminante a que aspira, não mais necessita de provas. Em certos casos, a prova se confunde com a expiação, isto é, a expiação pode servir de prova, e reciprocamente. O candidato que se apresenta para receber uma graduação, passa por uma prova. Se falhar, terá que recomeçar um trabalho penoso. Esse novo trabalho é a punição da negligência no primeiro. A segunda prova se torna, assim, uma expiação." (Revista Espírita. Setembro de 1863. Perguntas e problemas sobre a expiação e a prova. Allan Kardec)
Na Revista Espírita de 1866, Allan Kardec faz outra pergunta aos Espíritos:
"Pergunta. ─ Que pensar das descobertas atribuídas ao acaso? Não há descobertas que não são fruto de nenhuma pesquisa?
Resposta. ─ Bem sabeis que não existe acaso; as coisas que vos parecem as mais fortuitas têm sua razão de ser, pois há que se contar com as inumeráveis inteligências ocultas que presidem a todas as partes do conjunto. Se é chegado o momento de uma descoberta, os elementos são postos à luz por essas mesmas inteligências. Vinte homens, cem homens passarão ao lado sem notá-la; um apenas nela fixará a atenção. O fato insignificante para a multidão é para ele um facho de luz. Encontrá-lo não era tudo; o essencial era saber pô-lo em ação. Não foi o acaso que o pôs sob os olhos, mas os bons Espíritos que lhe disseram: "Olha, observa e aproveita, se quiseres". Depois, ele próprio, nos momentos de liberdade de seu Espírito, durante o sono do corpo, pode ser posto no caminho e, ao despertar, instintivamente, ele se dirige para o lugar onde deve encontrar a coisa que está chamado a fazer frutificar por sua inteligência."
"Não. Não há acaso. Tudo é inteligente na Natureza." (Revista Espírita. Junho de 1866. Um sonho instrutivo. Allan Kardec)
Em "O Livro dos Espíritos" de Allan Kardec, traz outros esclarecimentos sobre este assunto. Vejamos:
Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós?
&Todas, não é bem o termo, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o gênero de provas; os detalhes são consequências da posição escolhida, e frequentemente de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslize se expunha, mas não conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua vontade ou do seu livre arbítrio: O Espírito sabe que, escolhendo esse caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, que influem no destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante prudente. Se ao passar pela rua uma telha te cair na cabeça, não penses que estava escrito, como vulgarmente se diz."(O Livro dos Espíritos. Questão 259. Allan Kardec)
O homem que comete um assassinato sabe, ao escolher a sua existência, que se tornará assassino?
"Não. Sabe apenas que, ao escolher uma vida de lutas terá a probabilidade de matar um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque depende quase sempre dele tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre de a fazer ou não. Se o Espírito soubesse com antecedência que, como homem, devia cometer um assassínio, estaria predestinado a isso. Sabei, então, que não há ninguém predestinado ao crime e que todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre arbítrio. De resto, sempre confundis duas coisas bastante distintas: os acontecimentos materiais da existência e os atos da vida moral. Se há fatalidade, às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa está fora de vós e que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos não existe jamais a fatalidade." (O Livro dos Espíritos. Questão 861. Allan Kardec)
Exercem os Espíritos alguma influência nos acontecimentos da vida?
"Certamente, pois que vos aconselham."(O Livro dos Espíritos. Questão 525. Allan Kardec)
Exercem essa influência por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o cumprimento das coisas?
"Sim, mas nunca atuam fora das leis da Natureza."
"Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles.
Assim é que, provocado, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre-arbítrio." (O Livro dos Espíritos. Questão 525-a. Allan Kardec)
Os encontros, que costumam dar-se, de algumas pessoas, e que comumente se atribuem ao acaso , não serão efeito de uma certa relação de simpatia?
"Entre os seres pensantes há ligações que ainda não conheceis. O magnetismo é o piloto desta ciência, que mais tarde compreendereis melhor." (O Livo dos Espíritos. Questão 388. Allan Kardec)
A simpatia tem sempre por princípio um anterior conhecimento?
"Não. Dois Espíritos, que se ligam bem, naturalmente se procuram um ao outro, sem que se tenham conhecido como homens." (O Livro dos Espíritos. Questão 387. Allan Kardec)
Uma vez que os Espíritos simpáticos são induzidos a unir-se, como é que, entre os encarnados, freqüentemente só de um lado há afeição e que o mais sincero amor se vê acolhido com indiferença e, até, com repulsão? Como é, além disso, que a mais viva afeição de dois seres pode mudar-se em antipatia e mesmo em ódio?
"Não compreendes então que isso constitui uma punição, se bem que passageira? Depois, quantos não são os que acreditam amar perdidamente, porque apenas julgam pelas aparências, e que, obrigados a viver com as pessoas amadas, não tardam a reconhecer que só experimentaram um encantamento material! Não basta uma pessoa estar enamorada de outra que lhe agrada e em quem supõe belas qualidades. Vivendo realmente com ela é que poderá apreciá-la. Tanto assim que, em muitas uniões, que a princípio parecem destinadas a nunca ser simpáticas, acabam os que as constituíram, depois de se haverem estudado bem e de bem se conhecerem, por votar-se, reciprocamente, duradouro e terno amor, porque assente na estima! Cumpre não se esqueça de que é o Espírito quem ama e não o corpo, de sorte que, dissipada a ilusão material, o Espírito vê a realidade."
"Duas espécies há de afeição: a do corpo e a da alma, acontecendo com freqüência tomar-se uma pela outra. Quando pura e simpática, a afeição da alma é duradoura; efêmera a do corpo. Daí vem que, muitas vezes, os que julgavam amar-se com eterno amor passam a odiar-se, desde que a ilusão se desfaça." (O Livro dos Espíritos. Questão 939. Allan Kardec)
Não constitui igualmente fonte de dissabores, tanto mais amargos quanto envenenam toda a existência, a falta de simpatia entre seres destinados a viver juntos?
"Amaríssimos, com efeito. Essa, porém, é uma das infelicidades de que sois, as mais das vezes, a causa principal. Em primeiro lugar, o erro é das vossas leis. Julgas, porventura, que Deus te constranja a permanecer junto dos que te desagradam? Depois, nessas uniões, ordinariamente buscais a satisfação do orgulho e da ambição, mais do que a ventura de uma afeição mútua. Sofreis então as conseqüências dos vossos prejuízos." (O Livro dos Espíritos. Questão 940. Allan Kardec)
Tendo, como têm, ação sobre a matéria, podem os Espíritos provocar certos efeitos, com o objetivo de que se dê um acontecimento? Por exemplo: um homem tem que morrer; sobe uma escada, a escada se quebra e ele morre da queda. Foram os Espíritos que quebraram a escada, para que o destino daquele homem se cumprisse?
"É exato que os Espíritos têm ação sobre a matéria, mas para cumprimento das leis da Natureza, não para as derrogar, fazendo que, em dado momento, ocorra um sucesso inesperado e em contrário àquelas leis. No exemplo que figuraste, a escada se quebrou porque se achava podre, ou por não ser bastante forte para suportar o peso de um homem. Se era destino daquele homem perecer de tal maneira, os Espíritos lhe inspirariam a idéia de subir a escada em questão, que teria de quebrar-se com o seu peso, resultando-lhe daí a morte por um efeito natural e sem que para isso fosse mister a produção de um milagre." (O Livro dos Espíritos. Questão 526. Allan Kardec)
Tomemos outro exemplo, em que não entre a matéria em seu estado natural. Um homem tem que morrer fulminado pelo raio. Refugia-se debaixo de uma árvore. Estala o raio e o mata. Poderá dar-se tenham sido os Espíritos que provocaram a produção do raio e que o dirigiram para o homem?
"Dá-se o mesmo que anteriormente. O raio caiu sobre aquela árvore em tal momento, porque estava nas leis da Natureza que assim acontecesse. Não foi encaminhado para a árvore, por se achar debaixo dela o homem. A este, sim, foi inspirada a idéia de se abrigar debaixo de uma árvore sobre a qual cairia o raio, porquanto a árvore não deixaria de ser atingida, só por não lhe estar debaixo da fronde o homem." (O Livro dos Espíritos. Questões 527. Allan Kardec)
No caso de uma pessoa mal intencionada disparar sobre outra um projetil que apenas lhe passe perto sem a atingir, poderá ter sucedido que um Espírito bondoso haja desviado o projetil?
"Se o indivíduo alvejado não tem que perecer desse modo, o Espírito bondoso lhe inspirará a idéia de se desviar, ou então poderá ofuscar o que empunha a arma, de sorte a fazê-lo apontar mal, porquanto, uma vez disparada a arma, o projetil segue linha que tem de percorrer." (O Livro dos Espíritos. Questão 528. Allan Kardec)
Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?
"Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos." (O Livro dos Espíritos. Questão 853. Allan Kardec)
Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?
"Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos. Mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência." (O Livro dos Espíritos. Questão 853 - a. Allan Kardec)
Não podem os Espíritos levianos e zombeteiros criar pequenos embaraços à realização dos nossos projetos e transtornar as nossas previsões? Serão eles, numa palavra, os causadores do que chamamos pequenas misérias da vida humana?
"Eles se comprazem em vos causar aborrecimentos que representam para vós provas destinadas a exercitar a vossa paciência. Cansam-se, porém, quando vêem que nada conseguem. Entretanto, não seria justo, nem acertado, imputar-lhes todas as decepções que experimentais e de que sois os principais culpados pela vossa irreflexão. Fica certo de que, se a tua louça se quebra, é mais por desazo teu do que por culpa dos Espíritos." (O Livro dos Espíritos. Questão 530. Allan Kardec)
Têm os Espíritos o poder de afastar de certas pessoas os males e de favorecê-las com a prosperidade?
"De todo, não; porquanto, há males que estão nos decretos da Providência. Amenizam-vos, porém, as dores, dando-vos paciência e resignação.
Ficai igualmente sabendo que de vós depende muitas vezes poupar-vos aos males, ou, quando menos, atenuá-los.
A inteligência, Deus vo-la outorgou para que dela vos sirvais e é principalmente por meio da vossa inteligência que os Espíritos vos auxiliam, sugerindo-vos idéias propícias ao vosso bem. Mas, não assistem senão os que sabem assistir-se a si mesmos. Esse o sentido destas palavras: Buscai e achareis, batei e se vos abrirá.
Sabei ainda que nem sempre é um mal o que vos parece sê-lo. Freqüentemente, do que considerais um mal sairá um bem muito maior. Quase nunca compreendeis isso, porque só atentais no momento presente ou na vossa própria pessoa." (O Livro dos Espíritos. Questão 532. Allan Kardec)
Pessoas existem que nunca logram bom êxito em coisa alguma, que parecem perseguidas por um mau gênio em todos os seus empreendimentos. Não se pode chamar a isso fatalidade?
"Será uma fatalidade, se lhe quiseres dar esse nome, mas que decorre do gênero da existência escolhida. É que essas pessoas quiseram ser provadas por uma vida de decepções, a fim de exercitarem a paciência e a resignação. Entretanto, não creias seja absoluta essa fatalidade. Resulta muitas vezes do caminho falso que tais pessoas tomam, em discordância com sua inteligência e suas aptidões. Grande probabilidade tem de se afogar quem pretender atravessar a nado um rio, sem saber nadar. O mesmo se dá relativamente à maioria dos acontecimentos da vida. Quase sempre obteria o homem bom êxito, se só tentasse o que estivesse em relação com as suas faculdades. O que o perde são o seu amor-próprio e a sua ambição, que o desviam da senda que lhe é própria e o fazem considerar vocação o que não passa de desejo de satisfazer a certas paixões. Fracassa por sua culpa. Mas, em vez de culpar-se a si mesmo, prefere queixar-se da sua estrela. Um, por exemplo, que seria bom operário e ganharia honestamente a vida, mete-se a ser mau poeta e morre de fome. Para todos haveria lugar no mundo, desde que cada um soubesse colocar-se no lugar que lhe compete." (O Livro dos Espíritos. Questão 862. Allan Kardec)
Portanto, existe acaso nos acontecimentos da vida, quando algumas pessoas tomam um caminho falso, desviando-se do percurso, ao escolher, por exemplo, um casamento por interesses materiais, uma profissão que está em desacordo com sua vocação por ambição, um esporte radical, onde sofre um grave acidente, um vício em cigarro, que o levará a morte prematura, uma agressão contra o companheiro, que agravará sua dívida, pois a cada nova falta acarretará uma inevitável punição. Se todo destino estivesse previsto, não haveria livre-arbítrio e responsabilidade.
Sendo assim, quando os Espíritos dizem que nada acontece por acaso, significa que nada ocorre sem a permissão de Deus. Se algo deve ocorrer, há inumeráveis Espíritos, executores de sua vontade, encarregados de provocar as circunstâncias que devem conduzir ao resultado desejado. Portanto, ninguém morre antes da hora, pois o momento e forma que o indivíduo irá morrer está nos desígnios do Pai celestial, exceto nos casos de suícidio. Assim como, se um homem não merece sofrer a prova da miséria ou de uma doença incurável, por exemplo, isto não ocorrerá, a não ser que a desgraça seja provocada pelo por ele mesmo, por causa da sua própria imprudência. Além do mais, aqueles que agravam as suas dívidas perante a lei divina, cometendo mais crimes, desviando-se do percurso escolhido, deverão sofrer provas difíceis nesta vida ou numa próxima existência, como forma de expiação.