SERÁ QUE APÓS A MORTE, O ESPÍRITO CONSEGUE VER E CONVERSAR DIRETAMENTE COM DEUS?

Na Bíblia há alguns trechos, que aparentemente, se contradizem sobre este assunto. Vejamos:

No Antigo Testamento está escrito: "Jacó chamou àquele lugar Peniel, pois disse: "Vi a Deus face a face e, todavia, minha vida foi poupada". (Gênesis 32:31)

" E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois tornava-se ao arraial." (Êxodo 33:11)

No Novo Testamento temos as seguintes  informações: "Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor." (1João 4:12 )

"Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido." (João 1:18)

"Ninguém viu o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; somente ele viu o Pai." (João 6:46)

Em resposta a Filipe, Jesus disse: " Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: 'Mostra-nos o Pai'? "(João 14:9)

Diante destes pontos divergentes, Allan Kardec, faz a seguinte explanação: "Considerando-se que Deus está em toda parte, por que não o vemos? Vê-lo-emos ao deixar a Terra? Estas são também perguntas feitas diariamente. A primeira é fácil de resolver: Nossos órgãos materiais têm percepções limitadas, que lhes tornam imprópria a visão de certas coisas, mesmo materiais. É assim que certos fluidos escapam totalmente à nossa visão e aos nossos instrumentos de análise. Vemos os efeitos da peste e não vemos o fluido que a transporta; vemos os corpos a se moverem sob a influência da força da gravitação, mas não vemos essa força.

As coisas de essência espiritual não podem ser percebidas pelos órgãos materiais; só pela visão espiritual é que podemos ver os Espíritos e as coisas do mundo imaterial; assim, só a nossa alma pode ter a percepção de Deus. Ela o vê imediatamente após a morte? É o que só as comunicações de além-túmulo nos podem ensinar. Por elas, sabemos que a visão de Deus só é privilégio das almas mais depuradas e que assim, muito poucas, ao deixar o envoltório terreno, possuem o grau de desmaterialização necessário. Algumas comparações simples nos permitirão compreender isso sem dificuldade.

Aquele que está no fundo de um vale, cercado de espessa bruma, não vê o Sol; contudo, à luz difusa, ele percebe a presença do sol. Se subir a montanha, à medida que ele se eleva, dissipa-se o nevoeiro, a luz se torna cada vez mais viva, mas ainda não o vê. Quando começa a percebê-lo, ele ainda está velado, porque o mínimo de vapor basta para lhe enfraquecer o brilho. Só depois de se haver elevado completamente acima da camada brumosa é que, achando-se num ar perfeitamente puro, ele o vê em todo o seu esplendor.

Dá-se o mesmo com quem tivesse a cabeça envolta por diversos véus. Inicialmente ele não vê absolutamente nada; a cada véu que retira, distingue um clarão cada vez maior; só quando retira o último véu é que vê as coisas nitidamente.
(...)  Assim é com a alma. O envoltório perispiritual, embora invisível e impalpável para nós, é para ela uma verdadeira matéria, ainda muito grosseira para certas percepções. Esse envoltório se espiritualiza à medida que a alma se eleva em moralidade. As imperfeições da alma são como véus que obscurecem sua visão; cada imperfeição de que se desfaz é um véu a menos, mas só depois de se ter depurado completamente é que goza da plenitude de suas faculdades.

Sendo Deus a essência divina por excelência, não pode ser percebido em todo o seu brilho senão pelos Espíritos que atingiram o mais   alto   grau   de  desmaterialização. Se os Espíritos imperfeitos não o vêem, não é porque estejam mais afastados que os outros, porquanto todos os seres da Natureza, assim como eles, estão mergulhados no fluido divino. Assim como nós estamos na luz, os cegos também estão na luz, contudo não a veem. As imperfeições são véus que ocultam Deus à visão dos Espíritos inferiores; quando a cerração se dissipar, eles o verão resplandecer. Para isto não precisarão subir nem de procurá-lo nas profundezas do infinito; estando a vida espiritual desembaraçada das manchas morais que a obscureciam, eles o verão em qualquer lugar onde se encontrarem, ainda que estivessem na Terra, porquanto ele está em toda parte.

O Espírito se depura muito lentamente, e as diversas encarnações são os alambiques, no fundo dos quais deixa, a cada vez, algumas impurezas. Deixando seu envoltório corporal, ele não se despoja instantaneamente de suas imperfeições; é por isso que alguns, após a morte, não veem Deus mais do que em vida. No entanto, à medida que se depuram, dele têm uma intuição mais clara; se não o veem, compreendem-no melhor; a luz é menos difusa. Assim, quando Espíritos dizem que Deus lhes proíbe de responder a determinada pergunta, não é que Deus lhes apareça ou lhes dirija a palavra para prescrever ou interditar isto ou aquilo. Não; mas eles o sentem, recebem os eflúvios de seu pensamento, como nos acontece com relação aos Espíritos que nos envolvem com seu fluido, embora não os vejamos.

Nenhum homem pode, pois, ver Deus com os olhos da carne. Se esse favor fosse concedido a alguns, só o seria no estado de êxtase, quando a alma está tão desprendida dos laços da matéria quanto é possível durante a encarnação.
Um tal privilégio aliás seria apenas das almas de escol, encarnadas em missão e não em expiação. Mas como os Espíritos da mais elevada ordem resplandecem com um brilho deslumbrante, pode ser que Espíritos menos elevados, encarnados ou desencarnados, deslumbrados pelo esplendor que os cerca, julgassem ter visto o próprio Deus. É como alguém que vê um ministro e o toma por seu soberano.

Sob que aparência Deus se apresenta aos que se tornaram dignos desse dom? Sob uma forma qualquer? Sob uma figura humana ou como um foco resplendente de luz? É o que a linguagem humana é incapaz de descrever, porque para nós não existe nenhum ponto de referência que possa dar uma ideia. Somos como cegos a quem em vão procurassem fazer compreender o brilho do Sol. Nosso vocabulário é limitado às nossas necessidades e ao círculo de nossas ideias." (Revista Espírita. Maio de 1866. A vista de Deus)

Na obra "O que é o Espiritismo", temos a seguinte definição sobre Deus:

"Deus está em toda parte, porque Ele irradia por toda parte, podendo dizer-se que o Universo está mergulhado na divindade, como nós o estamos na luz solar." (O que é o Espiritismo. Cap. 3. O homem depois da morte. Questão 147. Allan Kardec).

Entretanto, na Revista Espírita de 1866, há mais detalhes acerca deste assunto:

"A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação, mais própria a dar uma ideia mais justa de Deus que os quadros que o representam sob a figura de um velho de longas barbas, envolto num manto. Não podemos tomar nossos pontos de comparação senão nas coisas que conhecemos; é por isto que dizemos diariamente: o olho de Deus, a mão de Deus, a voz de Deus, o sopro de Deus, a face de Deus. Na infância da Humanidade o homem toma estas comparações ao pé da letra; mais tarde seu espírito, mais apto a apreender as abstrações, espiritualiza as ideias materiais. A de um fluido universal inteligente, penetrando tudo, como seria o fluido luminoso, o fluido calórico, o fluido elétrico ou quaisquer outros, se fossem inteligentes, tem o objetivo de fazer compreender a possibilidade, para Deus, de estar em toda parte, de ocupar-se de tudo, de velar pelo pé de erva como pelos mundos. Entre ele e nós a distância foi suprimida; compreendemos sua presença, e este pensamento, quando a ele nos dirigimos, aumenta a nossa confiança, porque não podemos dizer mais que Deus esteja muito longe e seja muito grande para se ocupar de nós. Mas este pensamento, tão consolador para o humilde, para o homem de bem, é terrível para o mau e para o orgulhoso endurecidos, que a ele esperavam subtrair-se em favor da distância, e que, doravante, sentir-se-ão sob o domínio de seu poder.

Para o princípio da soberana inteligência, nada impede admitir um centro de ação, um foco principal irradiando sem cessar, inundando o Universo com os seus eflúvios, como o Sol com a sua luz. Mas onde está esse foco? É provável que não esteja mais fixado num ponto determinado do que a sua ação. Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, em Deus esta faculdade não deve ter limites. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia admitir, a título de hipótese, que esse foco não necessita transportar-se, e que se forme em todos os pontos onde sua soberana vontade julgue conveniente produzir-se, donde se poderia dizer que está em toda parte e em parte alguma.

Diante desses problemas insondáveis, nossa razão deve humilhar-se. Deus existe: é indubitável; é infinitamente justo e bom: é sua essência; sua solicitude se estende a tudo: nós o compreendemos agora; incessantemente em contato com ele, podemos orar a ele com a certeza de sermos ouvido; ele não pode querer senão o nosso bem, razão por que devemos confiar nele. Eis o essencial; para o resto, esperemos que sejamos dignos de o compreender. "(Revista Espírita. Maio de 1866. Deus está em toda parte. Allan Kardec)

Em "O Livro dos Espíritos",  Allan Kardec faz questionamentos objetivos sobre este assunto e obtemos  os seguintes esclarecimentos dos Espíritos Superiores:

Os Espíritos vêem a Deus?

"Só os Espíritos superiores o vêem e compreendem. Os inferiores o sentem e adivinham." (O Livro dos Espíritos. Questão 244. Allan Kardec)

Quando um Espírito inferior diz que Deus lhe proíbe ou permite uma coisa, como sabe que isso lhe vem dele?

"Ele não vê a Deus, mas sente a sua soberania e, quando não deva ser feita alguma coisa ou dita uma palavra, percebe, como por intuição, a proibição de fazê-la ou dizê-la. Não tendes vós mesmos pressentimentos, que se vos afiguram avisos secretos, para fazerdes, ou não, isto ou aquilo? O mesmo nos acontece, se bem que em grau mais alto, pois compreendes que, sendo mais sutil do que as vossas a essência dos Espíritos, podem estes receber melhor as advertências divinas." (O Livro dos Espíritos. Questão 244-a. Allan Kardec)

Deus transmite diretamente a ordem ao Espírito, ou por intermédio de outros Espíritos?

"Ela não lhe vem direta de Deus. Para se comunicar com Deus, é-lhe necessário ser digno disso. Deus lhe transmite suas ordens por intermédio dos Espíritos imediatamente superiores em perfeição e instrução." (O Livro dos Espíritos. Questão 244-b. Allan Kardec)

Por isso, Jesus Cristo, sendo um Espírito Superior, que alcançou a perfeição, disse: ''Não falei, de nenhum modo, de mim mesmo; mas meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu, por seu poder, o que devo dizer, e como devo falar. E eu sei que o mandamento dele é a vida eterna.'' (João 12:49 e 50)

Em "Obras Póstumas", Allan Kardec afirma:

"Jesus recebeu a palavra diretamente de Deus, com a missão de revelá-la aos homens." (Obras póstumas. Item 8. O verbo se fez carne).

Na obra "A Gênese", temos a seguinte explicação:

"Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus." (A Gênese. Cap. 15. Item 2. Allan Kardec)

Nesta mesma obra, Allan Kardec traz outros esclarecimentos sobre este tema, vejamos:

Haverá revelações diretas de  Deus  aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, mas nada nos dá dele prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto  aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de  Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio  Deus. As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da Divindade ou dos seus mensageiros." (A Gênese. Cap. 1. Item 9. Allan Kardec)

O Espírito Emmanuel afirma: "Moisés trazia consigo as mais elevadas faculdades mediúnicas, apesar de suas características de legislador humano.  É inconcebível que o grande missionário dos judeus e da Humanidade pudesse ouvir o Espírito de Deus.   A Lei ou a base da Lei, nos dez mandamentos, foi-lhe ditada pelos emissários de Jesus , porquanto todos os movimentos de evolução material e espiritual do orbe se processaram, como até hoje se processam, sob o seu augusto e misericordioso patrocínio". (O Consolador. Questão 269. Espírito Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier).

Portanto, conclui-se que Jacó, assim como Moisés, que eram Espíritos imperfeitos, não viram Deus, face à face, e tão menos conversaram diretamente com Ele, conforme está descrito nas antigas escrituras, provavelmente, viram um Espírito Superior e o confundiram com o Nosso Pai Celestial. Por outro lado Jesus Cristo conversava diretamente e podia ver Deus, pois é um Espírito de ordem Superior, que já alcançou a perfeição. 

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