A Doutrina Espírita recomenda que, primeiramente, é necessário analisar se as percepções luminosas, como pontos brilhantes, clarões ou formas difusas podem ter origem no próprio ambiente (por exemplo: reflexos de luzes de fonte natural ou artificial), na disposição orgânica ou mental do indivíduo, antes de considerar um fenômeno espiritual. Não se deve confundir as aparições reais de Espíritos com certas alucinações causadas por ilusões de ótica ou certas enfermidades (tais como por exemplo: doenças oculares, neurológicas ou psiquiátricas, provocadas ou não por substâncias químicas). Algumas pessoas veem pontos luminosos, formas vagas, ou mesmo figuras que não passam de ilusões produzidas por uma condição patológica dos olhos ou do cérebro.
Geralmente, de acordo com "O Livro dos Médiuns", os Espíritos se apresentam da seguinte maneira:
"As aparições propriamente ditas se dão quando o vidente se acha em estado de vigília e no gozo da plena e inteira liberdade das suas faculdades. Apresentam-se, em geral, sob uma forma vaporosa e diáfana, às vezes vaga e imprecisa. A princípio é, quase sempre, uma claridade esbranquiçada, cujos contornos pouco a pouco se vão desenhando. Doutras vezes, as formas se mostram nitidamente acentuadas, distinguindo-se os menores traços da fisionomia, a ponto de se tornar possível fazer-se da aparição uma descrição completa. Os demandes, o aspecto, são semelhantes aos que tinha o Espírito quando vivo." (O Livro dos Médiuns. Cap. 6. Item 102. Allan Kardec)
Em "O Livro dos Espíritos", Allan Kardec faz alguns questionamentos sobre este assunto e os Espíritos Superiores trazem as seguintes respostas:
Os Espíritos têm forma determinada, limitada e constante?
"Para vós, não; para nós, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea."
Essa chama ou centelha tem cor?
"Tem uma coloração que, para vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro." (O Livro dos Espíritos. Questão 88 e 88-a. Allan Kardec)
Na obra "O Céu e o Inferno ", Allan Kardec traz outras considerações:
"O esplendor da luz é proporcional à pureza do Espírito; as menores imperfeições morais a ofuscam e enfraquecem. A luz que irradia de um Espírito é, assim, tanto mais viva quanto mais este é avançado. Sendo o Espírito, de alguma forma, seu porta-luz , ele vê mais ou menos segundo a intensidade da luz que produz; donde resulta que aqueles que não a produzem ficam na obscuridade." (O Céu e o Inferno. Segundo parte. Cap. 4. Espíritos Sofredores. Claire. Allan Kardec)
No Novo Testamento, temos um exemplo real no livro de Atos, do momento em que Jesus Cristo, um Espírito elevado, se apresenta à Saulo sob forma de uma luz resplandecente, que o deixa cego momentaneamente, conforme a descrição do trecho abaixo:
"E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns deste Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou UM RESPLENDOR DE LUZ DO CÉU. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer. E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. " (Atos 9:1-9)
No Evangelho, também há relato de um ponto de luz em movimento, no qual os magos foram guiados misteriosamente para encontrar Jesus, conforme a explicação de Allan Kardec:
"Diz-se que uma estrela apareceu aos magos que foram adorar a Jesus; que ela lhes ia à frente indicando-lhes o caminho e que se deteve quando eles chegaram. (Vide: Mateus 2:1-12)
(...) naquela circunstância, a luz não podia ser uma estrela. Na época em que o fato ocorreu, era possível acreditassem que fosse, porquanto então se cria serem as estrelas pontos luminosos pregados no firmamento e suscetíveis de cair sobre a Terra; não hoje, quando se conhece a natureza das estrelas.
Entretanto, por não ter como causa a que lhe atribuíram, não deixa de ser possível o fato da aparição de uma luz com o aspecto de uma estrela. Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar uma parte do seu fluido perispirítico em foco luminoso. Muitos fatos desse gênero, modernos e perfeitamente autênticos, não procedem de outra causa, que nada apresenta de sobrenatural."(A Gênese. Cap. 15. Item 4. Allan Kardec)
No entanto, na Revista Espírita de 1860, Allan Kardec faz uma observação importante a respeito deste assunto, dizendo:
" O desejo de ver os Espíritos é coisa muito natural e conhecemos poucas pessoas que não desejam ter esta faculdade. Infelizmente é uma das mais raras, sobretudo quando permanente. As aparições espontâneas são bastante frequentes, mas são acidentais e quase sempre motivadas por uma circunstância totalmente individual, baseada nas relações que podem ter existido entre o vidente e o Espírito que lhe aparece. Uma coisa é ver fortuitamente um Espírito, e outra vê-lo habitualmente e nas condições normais ordinárias. Ora, aí está o que constitui, a bem dizer, a faculdade dos médiuns videntes. Ela resulta de uma aptidão especial, cuja causa ainda é desconhecida e que pode desenvolver-se, mas que seria provocada em vão se não existisse a predisposição natural. É necessário, pois, mantermo-nos em guarda contra as ilusões que podem nascer do desejo de possuí-la, e que deram lugar a tantos sistemas estranhos. Tanto combatemos as teorias temerárias, por causa das quais são atacadas as manifestações, principalmente quando tais teorias denotam a ignorância dos fatos, quanto devemos procurar, no interesse da verdade, destruir ideias que provam mais entusiasmo do que reflexão, e que, por isso mesmo, produzem mais o mal do que o bem, expondo-as ao ridículo.
(...)Quando os Espíritos assumem a forma humana, não é possível nos enganarmos. Já não é o mesmo quando tomam outras aparências. Não falaremos de certas imagens terrestres refletidas pela atmosfera, e que alimentaram a superstição de gente ignorante, mas de alguns outros efeitos sobre os quais até homens esclarecidos puderam enganar-se. É sobretudo aí que nos devemos pôr em guarda contra a ilusão, para não nos expormos a tomar como Espíritos, fenômenos puramente físicos.
Nem sempre o ar tem uma limpidez perfeita, e há circunstâncias em que a agitação e as correntes das moléculas aeriformes produzidas pelo calor são perfeitamente visíveis. A aglomeração dessas parcelas forma pequenas massas transparentes que parecem nadar no espaço e que deram lugar ao singular sistema dos Espíritos sob a forma de glóbulos. A causa dessa aparência está no próprio ar, mas também pode estar no olho. O humor aquoso apresenta pontos imperceptíveis que perderam a transparência. Esses pontos são como corpos semiopacos em suspensão no líquido cujos movimentos e ondulações acompanham. Produzem no ar ambiente e à distância, por efeito do aumento e da refração, a aparência de pequenos discos, por vezes irisados, variando de 1 a 10 milímetros de diâmetro. Vimos certas pessoas tomarem esses discos por Espíritos familiares que os seguiam e acompanhavam a toda parte e, em seu entusiasmo, verem figuras nas nuanças da irisação. Uma simples observação fornecida pelas mesmas pessoas vai trazê-las de volta ao terreno da realidade. Esses discos ou medalhões, dizem elas, não só as acompanham más ainda lhes seguem todos movimentos: vão para a direita, para a esquerda, para cima, para baixo, ou param, conforme o movimento da cabeça. Essa coincidência, por si só, prova que a sede da aparência está em nós, e não fora de nós, e o que o demonstra, além disso, é que em seus movimentos ondulatórios, esses discos jamais se afastam de um certo ângulo; como, porém, não seguem bruscamente o movimento da linha visual, parece que têm certa independência. A causa desse efeito é muito simples. Os pontos opacos ou semiopacos do humor aquoso, causa primeira do fenômeno são, como dissemos, mantidos em suspensão, mas têm sempre uma tendência a descer. Quando sobem, é porque foram solicitados pelo movimento do olho, em sentido ascendente; chegados a certa altura, se o olho se fixar, vê-se o disco descer lentamente, depois parar. Sua mobilidade é extrema, pois um movimento imperceptível do olho é suficiente para fazê-lo percorrer, no campo visual, toda a amplitude do ângulo em sua abertura, no espaço onde a imagem se projeta.
O mesmo diremos das centelhas que se produzem às vezes em feixes mais ou menos compactos, pela contração dos músculos do olho, e que, provavelmente, são devidas à fosforescência ou à eletricidade natural da íris, pois em geral são circunscritas à circunferência do disco desse órgão.
Semelhantes ilusões não podem provir senão de uma observação incompleta. Quem tiver estudado seriamente a natureza dos Espíritos por todos os meios dados pela ciência prática, compreenderá tudo quanto há nisso de pueril. Se esses glóbulos aéreos fossem Espíritos, teríamos de convir que estariam reduzidos a um papel puramente mecânico para seres inteligentes e livres, papel sofrivelmente fastidioso para Espíritos inferiores e com mais forte razão incompatível com a ideia que fazemos dos Espíritos superiores.
Os únicos sinais que realmente podem atestar a presença de Espíritos são os sinais inteligentes. Enquanto não ficar provado que as imagens de que acabamos de falar, ainda que dotadas de forma humana, têm movimento próprio, espontâneo, com evidente caráter intencional e acusando vontade livre, nisso veremos apenas fenômenos fisiológicos ou ópticos. A mesma observação se aplica a todos os gêneros de manifestações, sobretudo aos ruídos, às pancadas, aos movimentos insólitos dos corpos inertes, que mil e uma causas físicas podem produzir. Repetimos: enquanto um efeito não for inteligente por si mesmo e independente da inteligência dos homens, devemos examiná-lo duas vezes antes de atribuí-lo aos Espíritos." (Revista Espírita. Fevereiro de 1860. Os Espíritos glóbulos. Allan Kardec)