QUAL É A DIFERENÇA DE CONCEITOS ENTRE AS ENTIDADES DA UMBANDA E OS ESPÍRITOS QUE SE MANIFESTAM NO ESPIRITISMO?

        A Umbanda é uma religião de sincretismo religioso, que mistura conceitos das seitas africanas, dos indígenas, do Catolicismo e do Espiritismo. Acreditam em orixás (deuses das seitas africanas), que são personificações de elementos da natureza e de energia, e em guias espirituais, que podem se incorporar durante certas cerimônias e vir à Terra para ajudar as pessoas que necessitam. Os guias são denominados “entidades” e cada orixá possui uma linha de entidades que o auxilia. (Fonte: https://www.todamateria.com.br/umbanda/)
        Segundo Herculano Pires, "Os negros escravos, catequizados pelos “sinhôs”, sempre à força, e rebelando-se contra isso, misturaram seus deuses e seus cultos africanos com os santos e o culto católico, juntando-se, ainda, a essa mistura as crenças e práticas de nossos indígenas. "(O mistério do bem e do mal. Cap. 37. J. Herculano Pires)
        Com à imposição do catolicismo aos negros, cada orixá foi associado a um santo católico, para manterem os orixás vivos e não perderem seu direito ao culto. (Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Orix%C3%A1)
        De acordo com a Umbanda, apenas certas entidades, tais como, por exemplo, as pombas-giras, os pretos-velhos, os caboclos, os exus, etc., que possuem características de personalidades específicas, podem se manifestar e os médiuns precisam utilizar vestimentas apropriadas, que as representam, e  fazer uso de bebidas alcoólicas e/ou cigarros, segundo suas tradições, para realizar os trabalhos espirituais. Também utilizam-se de talismãs, amuletos, patuás, guias, velas e alimentos (despachos).
        No entanto, o Espiritismo esclarece que qualquer tipo de Espírito, desde que tenha um propósito,  pode se manifestar. Se Deus permitir, um médico, um escritor, um cozinheiro, um escravo, um criminoso, por exemplo, que esteja desencarnado,  poderá se comunicar com os encarnados por meio de um médium (geralmente, através da psicofonia ou psicografia), mas não precisa usar vestimentas especiais e nem fazer uso de cigarro ou álcool, pois não há necessidades destes elementos (que são prejudiciais à saúde) para realizar trabalhos de cura (magnetismo espiritual, misto ou humano), desobsessão ou esclarecimento espiritual. Também não é necessário utilizar objetos, pois segundo Allan Kardec, "Nenhum objeto, medalha ou  talismã  tem a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos; a matéria não tem nenhuma ação sobre eles. Um bom Espírito nunca aconselha semelhantes absurdos."  (O Céu e o inferno. Cap. 10. Item 10. Allan Kardec)
        "Desnecessário dizer que ele também se aplica a outros meios empregados supersticiosamente, como preservativos de doenças e acidentes." (Revista Espírita. Os talismãs. Setembro de 1858. Allan Kardec)
        Segundo a Doutrina Espírita, "Os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias almas dos que viveram na Terra, ou em outras esferas, e que se  despojaram de seus envoltórios materiais. Os Espíritos apresentam todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral. Consequentemente, há Espíritos bons e maus, esclarecidos e ignorantes, levianos e mentirosos, velhacos e hipócritas, que procuram enganar e induzir ao mal, assim como os há em tudo muito superiores, que não procuram senão fazer o bem." (Revista Espírita. Janeiro de 1859.  A S. A. O Príncipe G.  Allan  Kardec)
         "As comunicações tanto podem provir de Espíritos inferiores quanto de  superiores. Como os homens, os  Espíritos  podem ser reconhecidos   por sua linguagem: a dos  Espíritos  superiores  é sempre séria, digna, nobre e cheia de benevolência; toda expressão trivial ou inconveniente, todo pensamento que choca a razão e o bom-senso, que denota orgulho, acrimônia ou malevolência emana necessariamente de um Espírito inferior.
        Os Espíritos  elevados só ensinam boas coisas. Sua moral é a do Evangelho. Só pregam a união e a caridade e jamais enganam. Os Espíritos inferiores dizem absurdos , mentiras e por vezes até grosserias."  (Revista Espírita. Janeiro de 1859.  A S. A. O Príncipe G.  Allan  Kardec)
        Por isso, Allan Kardec recomenda: "É preciso sondar-lhe o íntimo, analisar-lhe as palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Qualquer ofensa à lógica, à razão e à ponderação não pode deixar dúvida sobre a sua procedência, seja qual for o nome com que se ostente o Espírito." (O Livro dos Médiuns. 2ª parte. Cap. 24. Item  267. Allan Kardec)
        Sendo assim, conclui-se que a Umbanda possui vários conceitos diferentes do Espiritismo. Aqueles que seguem esta religião não analisam se a comunicação espiritual é de um Espírito superior ou inferior, pelo tipo de linguagem e ideias deles, conforme orienta Allan Kardec.  De acordo com a Umbanda todas as entidades são espíritos de luz e realizam trabalhos espirituais para o bem. No entanto, em uma entrevista, no programa Pinga Fogo, Chico Xavier contradiz essa hipótese e faz o  seguinte esclarecimento sobre as entidades da Umbanda:
        "Pergunta: Quem são os “pretos-velhos”, “exus” e “pombas-giras” que incorporam na Umbanda? Se são espíritos de luz, por que há necessidade de cigarro, cachaça e sons barulhentos?
        Resposta: Para espíritos de luz, ou seja, espíritos superiores e puros, não existem necessidades materiais. Os espíritos que trabalham nos terreiros, em sua grande maioria, são aqueles que ainda guardam grandes necessidades das sensações terrenas e por isso usam os médiuns para absorvê-las; quando não têm, fazem-no através dos despachos. São, na classificação da Doutrina Espírita, chamados de espíritos mais simples. É claro que existem aqueles outros que, mesmo tendo condição moral mais elevada, manifestam-se nos terreiros de Umbanda, guardando os procedimentos ali adotados. "( Pinga fogo  II.  Espírito Emmanuel/ Chico Xavier)
        De acordo com Herculano Pires, somente alguns pretos-velhos (antigos escravos) e caboclos (índios) possuem condições para auxiliar na Umbanda ou no Centro Espírita, pois segundo o autor, "Negros e índios dotados de humildade, não apegados às suas religiões de origem selvagem, formam na linha humilde dos voluntários de boa-vontade que nada querem para si mesmos e tudo almejam de verdadeiro e bom, de legítimo e puro para toda a Humanidade. Igualam-se na simplicidade natural dos povos primitivos. "(Ciência espírita e suas implicações terapêuticas. Cap. 9. J. Herculano Pires)  
        Chico Xavier deixou bem claro que as entidades da Umbanda, na sua grande maioria, são espíritos simples, ou seja, sem muita evolução, e ainda apegados aos fluidos do cigarro e do álcool (sensações terrenas). Sendo assim, na realidade, estes Espíritos não possuem condições de executar determinados tipos de trabalhos espirituais, que somente podem ser realizados por Espíritos com um certo grau de desenvolvimento moral e intelectual.
        O médium Divaldo Franco afirma isto, dizendo: "No mundo dos espíritos, as Entidades Superiores promovem trabalhos de esclarecimento e de socorro em seu favor. (...) O médium é alguém que se situa entre os dois hemisférios da vida. O membro de um labor de socorro medianímico é alguém que deve estar sempre às ordens dos Espíritos Superiores para os misteres elevados." (Diretrizes de segurança. Questão 31. Divaldo Franco)
        Um exemplo disso, está descrito no livro "Nosso lar" (capítulo 31), psicografado por Chico Xavier: quando uma criminosa profundamente má,  fingiu pedir ajuda para entrar na Colônia Espiritual, o Espírito André Luiz não conseguiu perceber as suas más intenções e visualizar os pontos negros nela, que representavam cinquenta e oito crianças assassinadas ao nascerem,  pois a "sua visão espiritual ainda não está suficientemente educada", explicou a enfermeira Narcisa.  Somente o vigilante-chefe tinha condições para analisar o caso, devido a sua condição moral, e alertar que aquela mulher era um dos mais fortes vampiros que já tinha visto e que deveria entregá-la a própria sorte,  pois sua intenção era apenas perturbar quem trabalha.
        Diante do exposto, os Espíritas devem ter respeito pela crença dos Umbandistas, porém não podem considerar , por exemplo, que o Exu, entidade da Umbanda, que possui indícios de inferioridade moral, pelo seu tipo de linguagem e ideias, possa também ser considerado um Espírito guardião de templos. Se analisarmos o livro "Aruanda", podemos observar várias ideias contrárias aos conceitos espíritas. O autor umbandista afirma, por exemplo, que " o Exu é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas, e também é vaidoso e viril. É o intermediário entre os homens e os deuses, na concepção africana. (...) De um lado, temos os exus superiores, guardiões mais responsáveis, que não se prestam a objetivos frívolos nem compactuam com os chamados despachos ou ebós, recurso compartilhado por ignorantes dos dois planos da vida. De outro, estão os exus menores, aqueles que poderíamos chamar de recrutas, e os guardiões particulares, que, não tendo ainda maiores esclarecimentos, são subordinados ao alto comando. No entanto, todos têm seu livre-arbítrio, e, vez por outra, esses guardiões de vibração inferior entram em sintonia com os homens e médiuns ignorantes, estabelecendo com eles uma ligação energética doentia ou infeliz." (Aruanda. Cap. 9. Espírito Ângelo Inácio. Robson Pinheiro)
         Os Espíritas, portanto, não podem misturar estes conceitos e inserir dentro do Espiritismo, mas pelo contrário, devem analisar os trechos desta obra e fazer a seguinte reflexão: Como um  Espírito Superior, que já adquiriu muitas virtudes, poderia ser vaidoso e viril, ou seja,  ter vícios morais? Como é possível um espírito guardião (protetor) fazer tanto o bem, quanto executar o mal? Por que os Exus Superiores admitem espíritos maus para realizarem trabalhos do bem? Se são realmente superiores, não deveriam saber escolher melhor seus subordinados? Não é contraditório o fato de um Exu Superior permitir que seu subordinado se torne obsessor do encarnado ao invés dele realizar a  tarefa de protegê-lo?  Segundo a Doutrina Espírita,  "O Espírito protetor, pertence a uma ordem elevada.” (O Livro dos Espíritos. Questão 490. Allan Kardec). A sua missão é " A de um pai para com os filhos: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida. " (O Livro dos Espíritos. Questão 491. Allan Kardec).
        Portanto, se analisarmos pelo crivo da razão e pela lógica, conforme Allan Kardec recomenda,  perceberemos que muitos conceitos da Umbanda são contrários aos ensinamentos dos Espíritos Superiores, descritos nas obras espíritas.
        Por isso, Herculano Pires afirma que a Umbanda, "trata de uma forma de sincretismo religioso, ou seja, de mistura de religiões e cultos, com a qual o Espiritismo nada tem a ver. (...)Nós, espíritas, devemos respeitar na Umbanda uma religião nascente, mas não podemos admitir confusões entre as suas práticas sincréticas e as práticas espíritas." (O mistério do bem e do mal. Necessidade do estudo de Kardec para discernimento doutrinário. J. Herculano Pires)

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