O servo insaciável

        Fatigado da imensa luta que sustentava nas esferas inferiores, Belisco Castro rogou ao Senhor a bênção da reencarnação.
        Estava cansado, dizia.
        E porque chorasse, compungidamente, um Mensageiro Celeste arrebatou-o do império das sombras e o trouxe para a Terra.
        Encantado, Belino recebeu honrosa incumbência.
        Renasceria para a obra da fraternidade cristã.
        Além dos serviços naturais que lhe diziam respeito à própria recuperação diante da Lei, seria prestimoso benfeitor doa doentes. Protegeria os enfermos, distribuiria com eles a coragem e a. consolação em nome de Deus.
        – Não precisa impressionar-se demasiado com aquisição de elementos materiais para a execução da tarefa – disse-lhe o emissário divino ; – mantenha as mãos no arado generoso do trabalho e o seu serviço atrairá os recursos de que necessite.
        – Mas – ponderou Belino, preocupado –, e quando surgirem dificuldades imprevistas e especiais?
        – Utilize a prece e, em seguida, canalize suas forças na direção do objetivo. O suprimemto ser-lhe-á, então, entregue por nós, através de circunstâncias aparentemente casuais, para o serviço que lhe compete.
        E Belino tornou ao corpo num lar de excelente fomação evangélica.
        Desde cedo, foi instruído para a verdade e para o bem.
        Moço ainda, recolhia do Alto o apelo incessante ao ministério que lhe cabia e, por essa razão, costumava dizer :
        - Sinto que tenho abençoada missão a realizar, em favor dos enfermos. Muitas vezes, sonho a ver-me ao pé de numerosos doentes, enxugando lágrimas e limpando feridas. Não descansarei, enquanto não puder construir um grande hospital.
Mas Belino condicionava a edificação a certos fatores que considerava essenciais e, por isso, lembrando instintivamente a recomendação do benfeitor divino, movimentava a oração, canalizando as próprias forças.
        – Poderia auxiliar os enfermos – dizia –, mas aguardava um emprego vantajoso.
        E o emprego vantajoso lhe foi concedido.
        – Sim – afirmava –, agora, para adquirir segurança, tenho necessidade de um bom casamento.
        E o bom casamento lhe veio ao encontro.
        – Devo possuir filhos robustos que me auxiliem ponderou.
        E os filhos robustos adornaram-lhe os braços.
        – Tudo prossegue regularmente – reconheceu –, mas uma casa própria é indispensável à minha paz.
        E a casa própria surgiu, confortável e ampla.
        – Para ser útil aos enfermos – ajuntou –, nado posso alhear-me dos bons livros.
        E preciosa biblioteca enriqueceu-lhe o templo familiar.
        – Sem bons negócios, não posso atirar-me à empresa, – considerou.
        E os bons negócios vieram auxiliá-lo.
        – Um automóvel particular resolveria as minha questões de tempo, alegou.
        E, em breve, um carro acolhedor incorporava-se-lhe à propriedade.
        – Agora, é imperioso conquistar bons rendimentos – pediu ao Céu, em comovente rogativa.
        E bons rendimentos rodearam-lhe o nome.
        – Quero mais rendas – insistiu a lamuriar-se,
        E mais rendas vieram.
        Nessa altura, os filhos já estavam crescidos e Castro implorou vantagens materiais para eles e as vantagens solicitadas apareceram. Em seguida, notando que os rapazes lhe afligiam o pensamento, suplicou a chegada de noras dignas para o ambiente familiar. E as noras chegaram.
Belisco, porém, continuou rogando, rogando, rogando...
        Certa feita, quando reclamava favores para os netos, chegou a morte e disse-lhe :
        – Meu amigo, o seu tempo esgotou-se.
        O interpelado, sob forte susto, clamou de si para consigo.
        – Meu Deus! meu Deus!... e a minha tarefa? Não posso deixar a Terra. sem cumpri-la... Ainda não pude sequer visitar um doente!...
        A recém-chegada, contudo, deu-lhe apenas alguns instantes para a benção da oração.
Castro, ansioso, tomou o Testamento do Cristo, e, de mãos trêmulas, abriu-o precipitadamente. De olhos esgazeados, esbarrou com estas palavras constantes no versículo vinte, no capítulo doze das anotações de Lucas :
        - “...esta noite, exigirão tua alma e o que ajuntaste para quem será?”
Mas, antes que Belino pudesse entregar-se a novas e desesperadas petições, a morte apagou-lhe temporariamente a luz do cérebro e o reconduziu à Vida Espiritual.
(Espírito Irmão X. Livro Cartas e Crônicas. Psicografado por Chico Xavier)

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