Um homem de muita fé morava num vale extenso e triste e por que assinalasse amarga solidão, elevou-se em espírito ao Senhor e pediu-lhe, atormentado:
- Benfeitor Eterno, vejo-me vencido pelo desânimo... Que fazer para melhorar o ambiente em que respiro?
- Educa a terra em que foste localizado – aconselhou o Divino Orientador – Usa o alvião e o arado, a enxada e a semente e, em breve, o solo dar-te-á pão e alegria.
O servo regressou e seguiu-lhe o conselho.
Com o aperfeiçoamento da gleba, porém, surgiram colonos variados e as rixas explodiram, na disputa dos terrenos em torno.
Alarmado, o devoto retornou ao Senhor e clamou:
- Inefável Amigo, melhorada a região a que dei minha ajuda, vieram os companheiros da Humanidade e com eles chegaram inquietantes enigmas. Não mais vivo só, entretanto, asferas da posse, os dragões do ciúme, as serpes do despeito e os monstros da inveja bramem ese arrastam junto de mim... Que fazer para o sustento da paz?
- Educa os irmãos que te cercam a experiência – determinou o magnânimo interpelado, e explica-lhes que o sol brilha para justos e injustos, que o trabalho sinceramente respeitado e bem dividido faz a riqueza de todos e que sem a cooperação fraternal o dever é um cárcere insuportável... Usa a escola e o livro, a palavra e a própria virtude! O tempo assegura-te-á harmonia e vitória.
O crente agiu em consonância com o ensinamento recebido e, por que prosperasse o encanto social na colônia, desposou uma jovem que lhe parecia responder ao ideal de ventura,no entanto, com o casamento vieram os filhos e os problemas. A alma da companheira sofria incompreensível divisão entre ele e os rebentos do lar que o crivaram de pezares e preocupações.
Aflito, voltou à Amorosa Presença e solicitou:
- Todo Compassivo, tenho minh’alma sangrando de sofrimento... Como proceder para encontrar o equilíbrio, junto da mulher e dos filhos que me deste?
- Educa-os e alcançaras a bênção merecida, - disse-lhe o Abnegado Condutor.
– Através de teus próprios exemplos, usa a boa vontade e a renúncia e atingirás, um dia, o fruto de preciosa compreensão.
O trabalhador desceu à Terra e atendeu à advertência. Contudo, com o crescimento da família, multiplicada agora em lares diversos, notou que os parentes padeciam, desarvorados,a visitação da enfermidade e da morte.
Agoniado, compareceu diante do Senhor e implorou:
- Protetor Infatigável, estou conturbado, em pavoroso desalento... Os corações que me confiaste tremem de angústia e medo, ante a ventania gelado do túmulo... Que fazer paraconsolá-los e obter-lhes conformação?
- Educa-os para a vida, cujas provas são lições de subido valor – respondeu-lhe o Mentor Celeste. – Ensina-lhes que a doença é um gênio benfazejo e que o sepulcro é passagempara a imortalidade triunfante. Revela-lhes, porém, semelhantes verdades com a tua própria
demonstração de coragem e submissão incessante à Infinita Sabedoria.
O homem tornou ao seu campo de luta e devotou-se à tarefa que lhe cabia com humildade e bom ânimo.
Quando o tempo lhe enrugou a face, alvejando-lhe os cabelos, fatigado ao peso das responsabilidades que trazia no coração, procurou o Senhor e implorou em lágrimas:
- Fiador de meus dias, compadece-te de mim!... Meu corpo agora é um instrumento cansado, sinto frio em meus ossos!... Tenho saudades de ti, Senhor!... Que fazer para transferir-me, em definitivo, para o Céu?
- Educa-te e raiará para teu espírito a luminosa libertação, educa-te e o próprio mundo te elevará à glória suprema da vida espiritual!
- Senhor, - ponderou o fiel devoto – ensinaram-me na Terra que fora da caridade não há salvação e sempre respeitei a caridade, executando-te as ordens divinas... Ter-se-iam enganado os teus mensageiros no mundo?
O Mestre sorriu e obtemperou:
- Os emissários celestiais não se equivocaram na afirmativa. Realmente, fora da caridade não há salvação, mas fora da educação não há caridade bem conduzida...
E por que o crente meditasse em lacrimoso silêncio, o Senhor concluiu:
- A caridade é a chave que abre as portas do Céu, mas a educação é o grande caminho que conduz até ele...
Foi então que o aprendiz leal voltou às obrigações que lhe competiam no mundo e consagrou o resto da existência ao serviço de educar-se, com o que passou a educar os outros com mais segurança.
(Relatos da vida. Irmão x. Psicografado por Chico Xavier )