Todo dia bem cedo
Eu vejo de minha janela
Uma pequena menina
Vinda lá da favela.
Sei que não deve chamar-se
Nem Laura, nem Gabriela
Mas a piazada da rua
Lhe resolveram apelidar de Maria Churumela
Porque é miúda, anda descalça, sujinha e com ramela
Nas latas de lixo cata: lata, papel, papelão
Não tem nome, mas tem fome
É Maria Churumela, é Maria do Lixão .
Em banquete se refestela, quando ganha algum pão
Enquanto ainda aparece fico cheia de intenção
E quando já vai sumindo,
Junto vai minha vontade,
Que não passo pra ação.
Hoje eu não vi passar a Maria Churumela
Meu coração apertou, não sei se por mim ou por ela.
Perdi a oportunidade de resgatar em caridade
Enquanto a minha vida se cruzava com a dela
Minha pequena irmãzinha
A Maria Churumela.
E eu? Continuei na Janela...
(Patricia Karina Saches Bolonha)