Meus filhos, não somos peixes
E a comida não é isca.
Leiamos juntos a história
Do pobre Juca Lambisca.
PRIMEIRA PARTE - A VINDA DE JUCA
I
Rabugento e malcriado,
Esperto como faísca,
Era um menino guloso,
O nosso Juca Lambisca.
II
Toda hora na dispensa,
Pé macio e mão ligeira,
O maroto parecia
Um rato na prateleira.
III
No instante das refeições,
Afligindo os próprios pais,
Ele comia depressa,
Repetindo: Quero mais!
IV
Gritava: Quero mais peixe!
Quero mais leite e mais pão!
Quero mais sopa no prato,
Mais arroz e mais feijão!
V
Dona Nicota falava,
Ao vê-lo sobre o pudim:
- Meu filho, escute! Você
Não deve comer assim!
VI
Mas o Juca respondão
Gritava, erguendo a colher:
- A senhora nada sabe;
Eu como quanto quiser.
VII
Na escola, Juca furtava
Pastéis, bananas, pepinos,
Tomando a força a merenda
Das mãos dos outros meninos.
VIII
A vida de nosso Juca
Era comer e comer...
Mas foi ficando pesado,
E a barriguinha a crescer...
IX
Gabriela a companheira
Da cozinha e do quintal,
Falava triste: - Ah! meu Juca,
A sua vida vai mal!
X
Não valiam bons conselhos
Do papai ou da vovó,
Fugia de todo estudo,
Queria a panela só...
XI
Espíritos benfeitores,
No Lar em prece, ao seu lado,
Preveniam, caridosos:
- Meu filho tenha cuidado.
XII
Mas depois das orações,
O nosso Juca sem fé,
Comia restos do prato
Na terrina e no cuité.
XIII
A todo instante aumentava
A grande comedoria,
Sujava a cozinha e a copa,
Procurando papa fria.
XIV
Um dia, caiu doente,
E o doutor João do Sobrado
Receitou: - Este garoto
Precisa comer regrado.
XV
Mas alta noite ele foge...
E, mais tarde, a Gabriela
Viu que o Juca estava morto,
Debruçado na gamela.
XVI
Muito triste o caso dele...
Coitado! Embora gordinho,
O Juca morreu cansado
De tanto comer toucinho.
SEGUNDA PARTE : A VOLTA DE JUCA
I
Desencarnado, o Lambisca,
Na vida espiritual,
Estava do mesmo jeito
E o barrigão tal e qual.
II
Acorda num campo lindo...
E agora, que não mais dorme,
Vê muita gente a sorrir
Por vê-lo de pança enorme.
III
Tem a impressão de trazer
O peso de um grande bumbo.
Quer levantar-se, porém
A pança cai como chumbo.
IV
Juca xinga nomes feios...
Faz birra, choro e escarcéu
E pede com gritaria:
- Eu quero subir ao Céu!
V
Surge um Espírito amigo,
Carinhoso e benfeitor,
Que o recolhe com bondade
Nos braços cheios de amor.
VI
Deu-lhe as mãos e disse: - Filho,
Levante-se, cale e ande...
Ninguém sobe à Luz Divina
Com barriga assim tão grande...
VII
Mas o Juca, revoltado,
Ergue os punhos pesadões
Contra tudo e contra todos,
A murros e pescoções.
VIII
Depois berra:- Esta barriga
É grandona, mas é minha!
Eu quero comer no tacho,
Quero morar na cozinha!
IX
Multidões surgem a ver
O menino barulhento.
E o Juca, com pontapés,
Aumentava o movimento.
X
Um sábio apareceu e fala:
- O Lambisca não regula,
Enlouqueceu de repente
De tanto cair na gula.
XI
Foi preciso, então prendê-lo...
Amarrado e furioso,
O pequeno parecia
Um cachorrinho raivoso.
XII
Os Protetores, após
Guardá-lo em corda segura,
Oravam, dando-lhe passes,
Com bondade e com docura...
XIII
Viu-se logo o olhar do Juca
Fazer-se brando, e mais brando...
O menino foi dormindo
E a barriguinha murchando...
XIV
Os amigos decidiram,
Assim como um grande povo,
Que o Juca afim de curar-se
Devia nascer de novo.
XV
Lambisca a dormir, coitado,
Ele - tão forte e mandão,
Renasceu muito pequeno,
Um simples bebê chorão.
XVI
E para esquecer a gula
Cresceu doente e magrinho...
Só bebia caldo leve
Sem feijão e sem toucinho.
( Juca Lambisca. Espírito Casimiro Cunha. Psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira)