Jesus e a mulher cananéia

        Saindo daquele lugar, Jesus retirou-se para a região de Tiro e de Sidom.
        Uma mulher cananeia (*), natural dali, veio a ele, gritando: "Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Minha filha está endemoninhada e está sofrendo muito".
        Mas Jesus não lhe respondeu palavra. Então seus discípulos se aproximaram dele e pediram: "Manda-a embora, pois vem gritando atrás de nós".
        Ele respondeu: "Eu fui enviado apenas às ovelhas perdidas de Israel".
        A mulher veio, adorou-o de joelhos e disse: "Senhor, ajuda-me!"
        Ele respondeu: "Não é certo tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos".
        Disse ela, porém: "Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos".
        Jesus respondeu: "Mulher, grande é a sua fé! Seja conforme você deseja". E, naquele mesmo instante, a sua filha foi curada. (Mateus 15:21-28)

EXPLICAÇÕES:
       Jesus tinha consciência de que sua missão na terra não seria em vão. (O Espírito do Cristianismo. Cap. 62. Cairbar Schutel)
       Realmente, o Mestre foi enviado às ovelhas desgarradas de Israel, e não poderia ter sido de outra forma. O povo judeu havia sido adredemente preparado, no decurso de vários séculos, para receber o Grande Missionário. O esforço no sentido de se manter uma estrutura monoteísta no arcabouço religioso do povo hebraico havia custado lágrimas, longos cativeiros, dores e até morte. Graças ao empenho dos antigos profetas e de outros grandes missionários que habitaram a Terra, Israel era a única nação que estava preparada para receber o Messias, para que em seu solo ele desempenhasse sua fulgurante missão de paz e de luz.
       O desempenho de um Messiado no seio de uma nação politeísta teria sido muito mais difícil, demandaria muito maior esforço e lograria menor êxito. O trabalho dos apóstolos teria sido muito mais espinhoso, pois entre os gentios tudo estava por fazer, a começar da necessidade de se implantar a crença num só Deus.
       Haja vista o trabalho gigantesco que Paulo de Tarso, Barnabé e outros missionários tiveram que desenvolver no sentido de proceder à semeadura cristã no coração daqueles povos. (Os padrões Evangélicos. Não vades para os gentios. Paulo Alves Godoy)
       De fato, o Mestre nunca teve a pretensão de converter o mundo. Sabia mesmo que este milagre, por muito boa vontade que ele tivesse, era impossível de se realizar.
       Sendo os habitantes da Terra espíritos de várias categorias e em condições de grande atraso espiritual, moral e científico, a sua Doutrina não poderia ser compreendida e aceita por eles. Só depois de uma evolução mais acentuada pela Lei da Reencarnação, como foi anunciada a Nicodemos, chegariam eles à compreensão da Lei do Amor, que é a síntese dos Ensinos Cristãos.
       (...) A luz é dada para todos, o Sol nasce para todos, as chuvas caem sobre todas as terras, mas há os que fecham os olhos para não verem a luz, há os cegos que não podem ver a luz do Sol e há roçadas e terrenos que não aproveitam as chuvas. (O Espírito do Cristianismo. Cap. 62. Cairbar Schutel)
       A mulher cananéia simboliza todas as nações da terra que um dia acorrerão a abraçar o Evangelho. Jesus pregou o Evangelho aos Israelitas e assim mesmo a uma diminuta parte deles. Ele veio plantar a semente do Evangelho; outros se encarregariam de cuidar dela, até que se tornasse uma árvore generosa, a cuja sombra descansaria a humanidade.
       (...)À primeira vista, parece que Jesus não tinha se apiedado da mulher cananéia, cuja filha estava obsidiada. Tal não era, porém, o pensamento do Mestre, cujo coração pulsava em uníssono com os corações dos sofredores que o clamavam. Com sua palavra, que parece envolver uma recusa, quis Jesus provar se aquela mulher tinha fé suficiente para merecer a graça que pedia. Pela sua resposta, a mulher demonstrou a grande fé que possuía.
       Jesus, então, sentiu-se à vontade para curar-lhe a filha, isto é, para afastar o espírito obsessor que a atormentava.
       É digno de notar-se, mais uma vez, que Jesus procura pacientemente despertar a fé nos corações dos que recorriam a ele; porque a fé e uma prova de regeneração eae obediência às leis divinas. (O Evangelho dos Humildes. A mulher cananéia. Eliseu Rigonatti)
       Para afirmar mais ainda a sua fé, e certamente porque aquela mulher havia cometido a grande falta do "desgarramento" do seu rebanho em anterior encarnação, Jesus propositalmente tratou-a com severidade, pois assim despertaria nela fundas intuições de haver abandonado o Mestre e se firmaria ainda mais no dever de reparar a falta: "Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos."
       Esta frase foi um golpe certeiro para que nela despertasse a falta cometida, golpe esse que, como se vê, fê-la encher-se de verdadeira humildade: "Assim é, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos."
       Já não era somente a cura de sua filha que ela desejava; queria também, embora "como um cachorrinho", comer uma migalha daquele pão da Vida que Jesus estava distribuindo tão fartamente e com tanto amor, para os deserdados da sorte.
       Aberto o espírito para as coisas divinas e publicamente proclamada a fé e a crença resoluta que ela mantinha, Jesus não se fez mais rogado, e, satisfazendo-lhe o desejo, frisou bem: "Por esta palavra, vai-te, faça-se contigo como queres. Ó mulher, grande é a tua fé! E daquela hora em diante a sua filha ficou sã". (O Espírito do Cristianismo. Cap. 62. Cairbar Schutel)


Obs.(*): Os cananeus, o povo de Canaã, tinham sido (...)inimigos dos hebreus. Segundo a tradição bíblica eles descendiam de Cão, o segundo filho de Noé, enquanto o ancestral de Israel foi o seu filho mais velho, Sem (A vida diária nos tempos de Jesus. Cap. 1. Henri Daniel Rops). Quanto à religião, os cananeus eram politeístas, adoradores de vários deuses, sendo os mais conhecidos Baal, Hadade e Dagom, assim como as deusas Aserá, Astarte e Anate (Livro 2 - Estudo aprofundando da Doutrina Espírita. Ensinos e parábolas de Jesus. Roteiro 2. Marta Antunes de Oliveira Moura. FEB.).

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