A bendita doença dos olhos de Chico Xavier

        Certa vez, Chico Xavier foi entrevistado por Elias Barbosa e este lhe fez a seguinte pergunta(*):
        P - Desejará você contar-nos alguma cousa de sua experiência ao contato de Emmanuel, com respeito à atitude que devemos assumir perante as nossas próprias doenças?
        Então, o querido médium  deu a seguinte resposta(*):
        R — Nosso amigo espiritual é de opinião que precisamos guardar calma e paciência perante quaisquer enfermidades de que sejamos acometidos procurando, ao mesmo tempo, atenuá-las ou afastá-las por tratamento adequado. A esse respeito, narrarei um dos primeiros diálogos que tive com ele, Emmanuel, em 1931. Achava-me sob o domínio da doença complexa que trago até hoje em meu olho esquerdo, quando o nosso mentor espiritual me apareceu pela primeira vez. Depois de ouvi-lo em diversas reuniões sobre planos de trabalho que ele nos trazia, certa noite, em dezembro de 1931, roguei a ele orientação para o meu caso. Estava sofrendo muito e queria curar-me.
        — Tenha serenidade — falou ele, bondosamente, — você está sob o cuidado de benfeitores espirituais dedicados e sob a assistência de médicos atenciosos e amigos.
        — Então, devo prosseguir sob a orientação da medicina? perguntei.
        — Sim, como não? A medicina está no mundo em nome da Divina Providência.
        — Quer dizer que preciso tratar-me?
        — Com o máximo cuidado. O corpo é comparável à enxada e o Espírito reencarnado lembra o lavrador. Todo zelo do lavrador é necessário para conservar a enxada em condições de trabalhar com acerto e segurança.
        — O senhor quer dizer que embora eu seja médium e veja o senhor ao meu lado com tanta bondade e cultura, não posso esperar a intervenção do Plano Espiritual, em meu benefício para curar-me?
        — Por que você receberia privilégios por ser médium? A intervenção do Plano Espiritual está operando, em seu favor, sustentando as suas forças, através do magnetismo curativo, e secundando a ação dos oculistas que nos amparam. A condição de médium não exonera você da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício, como acontece às outras criaturas que estão no Plano Físico.
        — O senhor tem dito que pretende escrever por meu intermédio e que, se Deus permitir, fará livros, mas o senhor acredita que posso desempenhar a tarefa mediúnica, assim doente dos olhos como estou?
        — Sem dúvida nenhuma. Se formos esperar pela saúde perfeita a fim de trabalhar, quando aprenderemos a cumprir os nossos deveres? Se você estivesse na Terra com todas as facilidades em mão, no estado de evolução deficitária em que ainda nos achamos, talvez que as dificuldades no serviço espiritual para você fossem muito maiores.
        — Então, como é que o senhor considera a doença do olhos, em meu caso, quando tanto preciso de me esforçar para a tarefa em início?
        — Observamos a sua enfermidade como sendo um abençoado apoio que o Senhor concedeu caridosamente a você para que venhamos a caminhar com menos riscos e perigos, em sua atual romagem na Terra. Confie no Senhor, pois sua doença é arrimo que ele enviou em seu auxílio...
        Ao ouvir estas últimas palavras, indaguei alegremente:
        — Então Jesus vai curar-me?
        Emmanuel me fitou com bondade e mandou que eu abrisse “O Evangelho segundo o Espiritismo” no capitulo VI, intitulado “O Cristo Consolador” e recomendou que eu começasse a leitura do texto. Então comecei a ler em voz alta, as palavras do Cristo: “Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei...” Quando atingi a palavra “aliviarei”, nosso Amigo Espiritual sustou a leitura e disse-me: Compreendeu bem? Jesus não nos promete curar-nos, isto é, retirar-nos da bênção das obrigações que nos cabe cumprir, perante as leis de Deus, mas sim promete aliviar-nos e auxiliar-nos. Confiemos no Mestre Divino e trabalhemos.”
        Entendi a lição que me era dada e resignei-me.
        Hoje, depois de transcorridos trinta e seis anos sobre este diálogo, agradeço ao Senhor a bendita doença que carrego nos olhos, sempre tratada por médicos amigos e por amigos espirituais, pois, ela tem sido em todo esse tempo um agente providencial, induzindo-me à reflexão e ensinando-me a respeitar o sofrimento dos outros. (1)
        Em outra ocasião, Chico Xavier disse (*):  "Do ponto de vista orgânico, recebo minha antiga enfermidade do corpo como sendo débito de outras reencarnações que devo pagar com paciência." (2)
        Em outubro de 1977, o jornalista Alfredo Neto, fez a seguinte pergunta para Chico Xavier (*):
        P - Existem pessoas que têm acorrido à todos os recursos terrenos e espirituais na espera de uma cura para sua enfermidade, que não tendo resolvido seu problema, acabam chegando à descrença. Mesmo sem fé, muitas vezes ainda procuram você como um recurso. Essas pessoas, podem chegar a receber uma cura?
        E o querido médium respondeu (*):
        R — Acredito que, se a pessoa está no merecimento natural da cura, tenha ela fé, ou não tenha fé, a misericórdia divina permite que essa criatura encontre a restauração de suas forças. Isso em qualquer lugar, em qualquer religião, ou em qualquer tempo; agora, os Espíritos nos aconselham um espírito de aceitação. Primeiramente em qualquer caso de doença que possa ocorrer em nós, em nosso mundo orgânico. O espírito de aceitação, torna mais fácil para o médico deste mundo ou para os benfeitores espirituais do outro, atuarem em nosso favor. Agora, a nossa aflição ou a nossa inquietação, apenas perturbam os médicos neste mundo e no outro, dificultando a cura. E podemos ainda acrescentar: que muitas vezes temos conosco determinados tipos de moléstias, que nós mesmos pedimos, antes da nossa reencarnação, para que nossos impulsos negativos ou destrutivos sejam treinados. Muitas frustrações que sofremos neste mundo, são pedidas por nós mesmos, para que não venhamos a cair em faltas mais graves do que aquelas que já caímos em outras vidas. Mas, como estamos num regime de esquecimento — como uma pessoa anestesiada para sofrer uma operação —, então nos desmandamos em rebeldia, em aflição desnecessária, exigindo uma cura, que se tivermos, será para a nossa ruína. Não para o nosso benefício. (3)
(As frases com asteriscos (*) foram acrescentadas.   Textos retirados dos livros: 1 - No mundo de Chico Xavier. Entrevistas. Questão 23. F. C. Xavier/Elias Barbosa; 2 - No mundo de Chico Xavier. Cap. 9. Questão 34 e 35.  Elias Barbosa /Chico Xavier; 3 -  Encontros no tempo. 50 anos de perseverança mediúnica.  Questão 18. Chico Xavier)

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