A aprendizagem

                Aprendizagem é a aquisição de conhecimentos e habilidades que podem interferir em nosso antigo modo de pensar, agir e sentir. Adquirir ou acumular conhecimentos não constitui aprendizagem. Aprender significa aumentar a capacidade de solucionar os problemas  diante do mundo; é dirigir a mente com segurança, ao encontro das soluções mais adequadas a cada caso.

                Na vida humana, a aprendizagem se inicia antes do nascimento, e se prolonga além da morte. A aprendizagem é ininterrupta. Ensinar é dirigir o processo da aprendizagem, tornando possível a manifestação das capacidades latentes do educando. Apesar de não existirem separadamente, classificamos as categorias de aprendizagem e seus produtos:

                - Motora (hábitos e ações): Destreza manual, habilidades manuais, expressões fisionômicas, habilidades verbais, habilidades gráficas, posturas, gestos, etc. Produtos: capacidade profissional e não profissional, atributos de personalidade e caráter.

                - Indutiva (informações) : Conhecimentos (fatos), significados, preceitos, conceitos (reflexão, ideias e pensamentos). Produtos: sistemas de valores, padrões de referências, personalidade e caráter.

                - Afetiva (sentimentos e emoções) - Aprendizagem emocional. Gostos, aversões, preferências e críticas. Distinguir o bem do mal, é diferente de amar o bem e desprezar o mal. No primeiro caso, a aprendizagem  é intelectual. No segundo é afetiva. Produtos: estilo de vida, tendenciosidade e preconceitos. O ''self'' (ego).

                É imprescindível na Evangelização da Infância, a canalização das tendências afetivas e emocionais da criança, para o conhecimento do Bem e de suas práticas, através do ensino do Evangelho de Jesus.

                São três os fatores que condicionam a aprendizagem:

                - Estímulo psicossomático - capaz de solicitar uma resposta do organismo da criança: conhecer a criança e sua capacidade perceptiva.

                - Prontidão - é a soma de características intra-pessoais da criança (maturidade), experiências anteriores e nível de motivação.

                - Fixação - por exercício do conhecimento adquirido e renovação do comportamento.

                Toda aprendizagem que causa prazer ao educando é bem recebida. Criar situações agradáveis às crianças, é uma necessidade do evangelizador, para que as aulas de evangelização lhes causem enlevo espiritual. O evangelizador habilidoso seleciona cuidadosamente as lições a serem dadas, utilizando-se dos recursos disponíveis à altura da capacidade receptiva da criança, de forma que ela entenda perfeitamente o significado e o objetivo desejados.

                A criança aprende com alegria e boa vontade, se o assunto em pauta estiver à sua altura. Todo conhecimento novo deve ser transmitido de acordo com a maturidade do educando. Não podemos versar sobre assuntos acima de sua compreensão. Assimilando os ensinamentos dados, a criança sentir-se-á satisfeita por estar apta a fornecer respostas certas. O exercício fixa a aprendizagem. Deve, então, o evangelizador estimular insistentemente as crianças, à prática das lições dadas, convidando-as a uma participação direta. A simples decoração de princípios evangélicos não muda qualquer comportamento. A sua prática modifica as atitudes da criança, levando-a à reflexão para avaliação dos resultados.

                Entusiasmo, energia e vigor nas exposições trazem dinamismo, ação e interesse por parte das crianças.

                O conjunto de atividades motivadoras na aprendizagem, acrescido da capacidade receptiva da criança e de reações positivas, trazem a dinâmica de grupo.  

 

Formas de aprendizagem

                São quase tão amplas quanto seus resultados. Dividem-se em cinco categorias:

                - Aprendizagem por condicionamento clássico ou simples associação (reflexo condicionado): Ex.: uma criança é mordida ou atemorizada por um cão que late. Daí por diante, ao ver cães, reagirá tendo medo, sejam eles familiares ou não.

                - Aprendizagem por condicionamento instrumental, e ensaio-e-erro (implica resposta e recompensa): . Condicionamento instrumental (estimulo por meio de instrumentos). Ex.: um choque elétrico que atinge o pé de um cão, é precedido por um toque de campainha ou de um feixe de luz; se o animal retirar o  pé a tempo, evitará o choque. A aprendizagem - retirar o pé ao ouvir a campainha ou ao ver o feixe de luz, evitando o choque - é feita rapidamente. Esta aprendizagem é vizinha do condicionamento clássico e do ensaio-e-erro.

                - Ensaio-e-erro - Ex.: um rato solto dentro de uma jaula, aprende a empurrar um dispositivo que liberta uma certa quantidade de alimento que poderá comer. Se a relação entre resposta e consequência for lógica e natural, a situação torna-se mais significativa para o que aprende. Outro exemplo: a criança pequena quando vai comer sozinha pela primeira vez. Existe motivação (fome), dificuldade, tentativas variadas, acerto por acaso, seleção, eliminação de êxitos e fracassos, e integração.

                - Aprendizagem por imitação: A imitação é um produto da aprendizagem, e é também um meio de facilitar outras aprendizagens. A criança aprende a agir, falar, em função dos colegas e do grupo ao qual pertence, havendo uniformidade de uma forma geral. Se agir de forma diversa, poderá ser excluída, e o método mais eficiente e menos desagradável é observar o comportamento dos outros membros do grupo.

                A imitação é seletiva. A dona de casa, por exemplo, que quer atingir um lugar proeminente na sociedade, não vai imitar o modo de vestir ou de pentear-se, de alguém em condições financeiras abaixo das próprias. O rapazinho copia o modo de falar, andar e os movimentos típicos do seu ídolo, não os dos colegas próximos mais numerosos.

                A imitação não é um fim em si mesmo, e nem uma tendência para copiar cegamente a ação dos outros. É um modo mais eficiente de obter segurança, aceitação social e prestígio. Diante disso, percebemos que é grande a tarefa do educador, em provocar situações valorosas, sãs, produtivas, que levem a criança a imitar, procurando desde cedo integrar-se a um grupo com bons objetivos, passando a imitar bons gestos, tornando-os rotina, alicerçando-se na prática do bem.   

                Ao buscar imitações pessoais, o adolescente formado em ambiente cristão procurará imitar um ídolo que tenha valores morais.

                - Aprendizagem por discernimento: Situa-se acima da imitação por ser mais complexa, abstrata e imbuída do próprio sentido.             

                Quando o educando, diante de uma situação que lhe exige novo ajustamento, é capaz de analisá-la, de compreender as exigências do problema e de fazer levantamento de conhecimentos e habilidades necessárias àquele objetivo, de modo a permitir a resposta adequada, evidentemente houve discernimento.

                O discernimento exige organização, dotação intelectual, maturidade e experiência. Ao narrarmos uma estória com um fundo moral a ser fixado, a criança utiliza-se de todos os recursos de análise possíveis,  a fim de tirar conclusões próprias, situar-se diante do problema ocorrido com o personagem principal, destacando o ''fundo '' as partes ou fatos de mais valor.

                É muito importante que o educador ensine a criança a elaborar o processo de discernimento. Qualquer solução ao problema não é discernimento. Convém auxiliar a criança, orientando-a no selecionamento gradativo das situações, até atingir a melhor solução, possibilitando-a  transferir essa aprendizagem a outro tipo de situação.

                - Aprendizagem envolvendo raciocínio - Guiado pela razão, o homem é considerado um ''animal racional''.

                O raciocínio para existir, depende da percepção, da aprendizagem, da memória e da evocação, apoiando-se em todas elas para atuar.

                Pensamento e raciocínio puro não são situações da vida real. Sempre que pensamos, ''alguma coisa se passa em nossa cabeça''.

                Processo do raciocínio - O raciocínio é sempre intencional, motivado por um impulso ou tendência a agir. Diante de uma situação, a tendência da criança é resolver o problema evocando soluções empregadas nas experiências passadas para atingir a solução ideacional.   O raciocínio tem lugar quando o individuo está insatisfeito com a situação presente. A análise da situação é a etapa mais característica do raciocínio, pois é a fase em que a criança tenta, através do condicionamento clássico, ensaio-e-erros, discernimento e raciocínio lógico, formular o problema, para resolvê-lo posteriormente.

                A fase de hipótese é caracterizada pelas sugestões que surgem, para a solução do problema. Quando a sugestão é imediata ao conhecimento do problema, revela experiência anterior, com sucesso.

                Verificação - nem sempre ocorre, desde que o problema foi resolvido com convicção.

                A criança que desde cedo é orientada para resolve fatos do cotidiano, com bom senso, ponderação, fraternidade, respeito ao próximo, perdão adquire segurança e autoconfiança, sentimentos imprescindíveis para agir no futuro.

                A ajuda prestada por pais e educadores não deve consistir em apresentar problemas resolvidos para a criança, mas sim encaminhar seu raciocínio em ordem crescente, para o correto, orientando-a para que também ajude a si mesma. Para isso, deve ser a criança encoraja a fazer perguntas e a apresentar soluções e os porquês das soluções.

 

A repetição na aprendizagem

            ''A prática leva à perfeição'' é uma das máximas que insiste em que aprendemos pela repetição.

            Quando um ensinamento se repete frequentemente, a tendência é fixá-lo cada vez mais, dando lugar mais frequente à sua pratica. Ex.: Caridade - '' Sem a caridade não há salvação''. Percebemos que a caridade é um dos temas a ser largamente fixado em sua prática. Logo, havendo possibilidade de constantemente destacarmos a caridade nos assuntos diversos, a criança alicerçará no próprio espírito a lógica da necessidade de praticar a caridade.

            Repetir um ensinamento, nunca é demais. Acostumada a ouvir que ''não devemos fazer mal aos outros'', diante de uma situação onde possa existir agressividade, a criança se controlará, pois em seu subconsciente essa frase estará bem fixada.   

 

A recompensa na aprendizagem

            A ''lei do efeito'' relaciona-se ao efeito da recompensa e do castigo sobre o comportamento. Toda criança ciente da recompensa a ser ganha ao final da aprendizagem, se interessará mais em aprender a fim obtê-la para si. A recompensa também é um estímulo. Porém, assim como a recompensa constrói, sendo praticada ininterruptamente, tende a destruir, porque a criança condicionará a sua aprendizagem á existência de recompensa. A recompensa deve ocorrer sem o prévio conhecimento da criança, sempre de surpresa. Liderar e receber serviços de destaque, também constitui recompensa.

            O castigo, como a recompensa, constrói quando empregado  com bom senso. Empregado comumente e quase sempre sobre o mesmo indivíduo, tende a destruir. A criança que geralmente apresenta comportamento contrário ao normal do grupo, carrega problemas e deve receber atenção à parte. Será contra-producente fixarmos seus defeitos, fracassos e desatenções perante a classe. Se somente ''o amor constrói'', requer o indivíduo nessas condições, muito amor, compreensão e paciência do evangelizador. Do contrário, sentindo-se diminuída, a criança se afastará, retardando seu progresso.  

 

A transferência na aprendizagem

            É de importância fundamental que o educador oriente a criança no sentido de aplicar o aprendido em outra áreas diferentes da que foi adquirida.

            Se as crianças devem adquirir habilidades, normalmente com intuito de no futuro tornarem-se mestres. A educação é sempre para o futuro, pois é feita a longo prazo. ''A natureza não dá saltos''. São inúmeras as reencarnações do Espírito, às vezes para firmar-se em uma única virtude. Se aprendemos determinada coisa, segue-se necessariamente o que foi aprendido será automaticamente aplicado quando a necessidade surgir. Porém, isso não implica que o conhecimento deve sempre pender por um aspecto. Os aspectos devem ser variados, e quanto mais variados, maiores serão as possibilidades de transferência. A prática da transferência deve ser constante na aprendizagem, pois tudo o que não é praticado é facilmente esquecido.   Ex.: Numa aula em que o assunto tratado é o "Amor aos Pais'', orientar a criança no dever de amar não somente aos pais, mas transferir esse amor aos irmãos, familiares, parentes, vizinhos, aos animais, aos necessitados, etc.

            Recordar sempre a necessidade de ''ser bom para com os semelhantes'', transferindo o sentimento de amor ao próximo à humanidade (somos todos irmãos).

            A transferência, para ter sucesso, exige qualidade e quantidade na aprendizagem, boa motivação, inteligência, técnica e método de ensino.   

 

Métodos e processos da aprendizagem

            Método é palavra de origem grega: meta - para; odos - caminho. É o conjuto de regras sistematizadas que permite alcançar um fim. Há várias espécies de métodos, cada qual com suas vantagens e desvantagens. Os métodos gerais de aprendizagem, são conjuntos de princípios pedagógicos suscetíveis de aplicação em muitas situações. A classificação dos métodos é muito variada, mas destacamos os seguintes:

            - Indutivo:  Consiste em tomar como ponto de partida fatos particulares e progressivamente, pela sua comparação, atingir as leis ou princípios gerais. É a marcha do ensino dirigido da parte para o todo. Ex.: Numa aula, cujo tema é "A gratidão'', iniciamos dirigindo uma pergunta geral à classe: ''quem sabe o que quer dizer gratidão?'', se alguém já foi grato a outro alguém (mandar contar o fato), como se sentiram ao receberem a gratidão de alguém, e assim por diante, até atingir o conteúdo da estória que gira em torno do tema, atingindo o todo através da conversação sobre gratidão entre povos, fatos de gratidão que ficaram na história, etc.

            - Dedutivo: Consiste em tomar como ponto de partida princípios gerais, deles retirando o conhecimento de fatos particulares. É o contrário do método indutivo. Ex.: Numa aula sobre ''o valor do trabalho'' na evolução, partimos de uma conversação sobre o progresso das comunicações, das indústrias, do transporte, fruto do trabalho de muitos, atingindo o conteúdo do tema com uma estória girando em torno da necessidade do trabalho para evoluirmos, passando finalmente a particularidades como: o que devemos fazer para evoluir, se a criança conhece alguém que progrediu pelo trabalho, quem gostaria de evoluir, porque evoluir etc.

            - Global ou globalizado - Como o próprio nome diz, é global: um assunto gera o desenvolvimento de inúmeros temas. Ex.: contando a parábola do Bom Samaritano, encontramos atos dos personagens que nos levam a versar sobre: Desprezo, Fraternidade, Indiferença, Amor, etc.

            O ensino pelo método globalizado é muito interessante, porém necessita de evangelizador com boa didática de grupo, muita imaginação e atividade mental, conversação e recreação, pois destacar na mesma estória seus aspectos, durante diversas aulas, exige grande capacidade de captar ''interesse''. Para aumento da experiência do evangelizador, este método deve ser posto em prática de quando em quando, e avaliados os resultados.

            - Experimental - Consiste em provocar experiências ''vivas'', fazendo surgir fatos que levam o aluno a tirar conclusões próprias, atingindo o tema a ser ensinado e fixado. Exige material, tempo e espaço. São experiências ativas ao vivo, como a dramatização, o teatrinho de fantoches e sombras, etc.

            A análise, a intuição, a exposição, a interrogação, a redescoberta, a regressão, a progressão, a racionalização, e a sintetização, são processos utilizados em todos os métodos.   Processos são os meios especiais de que nos servimos, na prática dos métodos, visto que um método pode ser empregado por processos diversos.

            Os métodos e processos a serem utilizados, dependem da aceitação e receptividade dos alunos. Devem ser empregados de acordo com o critério do evangelizador, pois a rotina cansa e traz desinteresse. As aulas apresentadas cada qual de uma forma, não cansam.

 

 ( Programa para a infância. Federação Espírita do Estado de São Paulo. Área da infância, juventude e mocidade, 1998).

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