História de Katie King

        Os fenômenos de materialização constituem as mais altas e irrefragáveis demonstrações da imortalidade.

        Surgir um ser defunto diante dos espectadores com uma forma corpórea, conversar, caminhar, escrever e desaparecer, quer instantaneamente, quer gradativamente, sob as vistas dos observadores, é decerto o mais empolgante e o mais singular dos espetáculos. Isso, para um incrédulo, ultrapassa os limites da verossimilhança e provas físicas irrefutáveis se fazem necessárias, para que o fenômeno não seja lançado à conta de fraude ou de alucinação.

        (...) Em 1872, contava a Srta. Cook dezesseis anos. Desde a mais tenra idade via Espíritos e ouvia vozes; mas, como somente ela observava esses fatos, seus pais nenhuma confiança depositavam em suas narrativas. Depois de haver ela assistido a algumas sessões espíritas, veio-se a saber que a mocinha era médium e que obteria as mais belas manifestações. A princípio, o Sr. e a Sra. Cook se opuseram. Entretanto, depois de assediados pelos Espíritos, resolveram ceder aos desejos dos atores invisíveis e foi então que se deram fenômenos absolutamente probantes.

        A 21 de abril de 1872, diz o Sr. Harrison, no jornal O Espiritualista, ocorreu um curioso incidente. Ouviram de súbito bater nos vidros de uma janela; aberta esta, ninguém viu coisa alguma. Fez-se, porém, ouvir a voz de um Espírito, dizendo: Senhor Cook, precisa mandar limpar suas calhas, se não quiser que os alicerces de sua casa sejam abalados. As calhas estão entupidas. Muito surpreendido, procedeu ele a uma exame imediato. Era exato! Chovera e o pátio da casa estava cheio da água que transbordara das calhas. Ninguém sabia desse acidente, antes que o Espírito o houvesse revelado daquela forma notável. Acompanhando-se a marcha da mediunidade da Srta. Cook, observa-se o desenvolvimento de uma série de fenômenos, que se produzem sucessivamente, tornando-se cada dia mais espantosos, até chegarem à materialização de Katie. Correu assim a primeira sessão em que ela se mostrou.

        Até então, as sessões se haviam realizado no escuro. Querendo remediar isso, o Sr. Harrison fez muitos ensaios em casa do Sr. Cook com luzes diferentes. Conseguiu uma luz fosforescente, aquecendo uma garrafa revestida interiormente de uma camada de fósforo, misturada com óleo de cravo. Graças a esse engenho, podia-se ver o que se passava durante a sessão às escuras. A 22 de maio de 1872, a Sr.a Cook, seus filhos, uma tia destes e a criada se reuniram e o Espírito Katie King se materializou parcialmente. A Srta. Cook não estava a dormir, como o faz certo uma carta que ela no dia seguinte dirigiu ao Sr. Harrison, nestes termos:

        Ontem à noite, Katie King nos disse que tentaria produzir alguns fenômenos, mas se concordássemos em armar um gabinete escuro com o auxílio de cortinas. Acrescentou que precisava lhe déssemos uma garrafa de óleo fosforescente, visto não lhe ser possível tomar de mim o fósforo necessário, devido ao fraco desenvolvimento da minha mediunidade. Ela quer iluminar a sua figura, para se tornar visível.

        Encantada com a idéia, fiz os preparativos necessários, ficando tudo pronto ontem à noite, às 8 e meia. Minha mãe, minha tia, os meninos e a criada sentaram-se fora, nos degraus da escada. Deixaram-me sozinha na sala de jantar, o que nada me agradou, porque estava com muito medo.

        Katie mostrou-se na abertura das cortinas. Seus lábios se moveram e, por fim, conseguiu falar. Conversou durante alguns minutos com a mamãe. Todos puderam ver-lhe o movimento dos lábios. Como eu, do lugar onde estava, não a visse bem, pedi-lhe que se voltasse para mim. O Espírito me respondeu: Mas, decerto; fa-lo-ei. Vi então que só estava formada a parte superior do seu corpo, o busto, sendo o resto da aparição uma espécie de nuvem, ligeiramente luminosa.

        Após breves instantes de espera, o Espírito Katie começou por trazer algumas folhas frescas de hera, planta que não existe no nosso jardim. Depois, todos vimos aparecer, fora da cortina, um braço cuja mão segurava a garrafa luminosa. Mostrou-se uma figura com a cabeça coberta de uma porção de pano branco. Katie aproximou do seu rosto o frasco e todos a percebemos distintamente. Esteve dois minutos e em seguida desapareceu. O rosto era oval, aquilino o nariz, vivos os olhos e a boca lindíssima.

        Disse Katie à mamãe que a olhasse bem, pois sabia que tinha um ar lúgubre. Eu, pelo que me diz respeito, fiquei muito impressionada quando o Espírito se aproximou de mim. Emocionadíssima, não pude falar, nem mesmo esboçar um gesto. Da íntima vez que se apresentou na junção das cortinas, demorou-se uns bons cinco minutos e incumbiu a mamãe de lhe pedir que venha aqui um dia desta semana... Katie King encerrou a sessão, implorando para nós as bênçãos de Deus. Exprimiu a sua alegria por se ter podido mostrar aos nossos olhares.

(A alma é imortal. Gabriel Delanne)

 

 

Extrato do jornal «The Spiritualist» de 29 de Maio de 1874

 

        Desde o começo da mediunidade da Srta. Cook, o Espírito Katie King ou Annie Morgan, que tinha produzido a maior parte das manifestações físicas, havia anunciado que não tinha o poder de ficar perto da sua médium senão durante três anos, e que depois desse tempo despedir-se-ia para sempre.

        O fim deste período expirou 5 feira última, mas antes de deixar a médium concedeu aos seus amigos ainda três sessões de despedida.

        A última realizou-se 5 feira, 21 de maio de 1874: Katie expressamente fizera observar que não dava esta sessão senão aos poucos amigos convencidos, experimentados, que se achavam ainda. presentes em Londres, os quais, durante muito tempo, pugnaram pela médium contra o público, e, apesar de numerosas e instantes solicitações, só fez uma exceção, convidando os Srs. M. Florence, Marryat e Ross Church. Entre os espectadores estavam o Senhor William Crookes e a criada Maria...

        Às 7 horas e 23 minutos da noite,. o Senhor Crookes conduziu a Srta. Cook à câmara escura, onde ela se estendeu no soalho, apoiando a cabeça num tra­vesseiro. Às 7 horas e 28 minutos, Katie falou pela primeira vez, e, às 7 horas e 30 minutos, mostrou-se fora da cortina e em toda a sua forma; estava ves­tida de branco, com as mangas curtas, e decotada; tinha longos cabelos castanhos claros, de cor dou­rada, caindo-lhe em cachos dos dois lados da cabeça e ao longo das costas, até à cintura; trazia um grande véu branco que não foi abaixado senão uma ou duas vêzes sobre o seu rosto, durante a sessão.

        A médium tinha um vestido azul-claro, de me­rinó. Durante quase toda a sessão Katie ficou em pé diante de nós; a cortina do gabinete estava afas­tada e todos podíamos ver distintamente a médium adormecida com o rosto coberto com um chale en­carnado, para o resguardar da luz. Ela não deixara a sua primitiva posição desde o começo da sessão, durante a qual se derramava viva claridade pelo aposento. Katie falou da sua próxima partida e acei­tou um ramalhete que o Senhor Tapp trouxera, assim como alguns lírios oferecidos pelo Senhor Crookes; convidou, em seguida o Senhor Tapp a desamarrar o rama­lhete e colocar as flores diante dela, sobre o soalho; sentou-se, então, à maneira turca e pediu-nos para fazer a mesma coisa, ao seu derredor. Depois, divi­diu as flores e deu a cada um de nós um pequeno ramo, que amarrou com uma fita azul.

        Escreveu também cartas de despedida a alguns dos seus amigos, assinando-se Ànnie Owen Mor­gan e dizendo que fora este o seu verdadeiro nome durante sua vida terrestre. Escreveu, igualmente, uma carta à médium e escolheu para ela um botão de rosa, como presente de despedida. Pediu, então, a tesoura, cortou pedaços dos seus cabelos e deu a todos nós uma grande parte, e, tomando em seguida o braço do Senhor Crookes, fez uma volta pela sala e apertou a mão de cada um; sentou-se de novo, cor­tou vários pedaços do seu vestido e do véu e nos presenteou com eles.

        Vendo-se-lhe grande orifício no vestido, quando ela se achava sentaria entre o Senhor Crookes e o Se­nhor Tapp, perguntaram-lhe se poderia restaurar o dano, assim como o tinha feito em outras ocasiões. Kátie apresentou a parte cortada à claridade da luz, deu uma pancada em cima, e instantaneamente esta parte ficou tão completa e tão nítida como dantes. As pessoas que se lhe achavam perto lhe examinaram o pano, tocando-o com a sua permissão, e afirma­ram que não existia nem orifício, nem costura, nem nenhum tecido sobreposto, onde instantes antes tinham visto buracos de várias polegadas de diâmetro. Kátie deu em seguida as suas últimas instru­ções ao Senhor Crookes e aos outros amigos, sobre a conduta ,a manter relativamente às manifestações ulteriores, que havia prometido por intermédio da médium. Estas instruções foram anotadas com cuida­do e entregues ao Senhor Crookes. Ela pareceu então fatigada e dizia tristemente que desejava ir-se em­bora, porque a sua fôrça desaparecia; reiterou a todos as suas despedidas da maneira mais afetuosa. Os assistentes agradeceram-lhe as manifestações maravilhosas que lhes tinha concedido.

        Finalmente, dirigiu aos seus amigos um último olhar grave e pensativo, deixou cair à cortina e tor­nou-se invisível. Ouviu-se que a médium acordava e lhe pedia, derramando lágrimas, que ficasse ainda um pouco mais; mas Kátie lhe respondeu: Minha cara, não posso; a, minha missão está cumprida; Deus te abençoe. E ouvimos o som de um beijo de despedida. A médium apresentou-se, então, entre nós, inteiramente desfalecida e profundamente cons­ternada.

        Kátie dizia que não podia, para o futuro, falar nem se tornar visível; que, executando durante três anos essas manifestações físicas, tinha passado uma vida bem penosa, para expiar as suas faltas; que estava resolvida a elevar-se a um grau superior da vida espiritual; que só a longos intervalos poderia corresponder-se, por escrito, com a sua médium, mas que poderia sempre vê-Ia por meio da lucidez mag­nética.

( Fatos Espíritas. William Crookes)

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