Teoria de Heri Wallon

AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

Desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor

        Wallon propõe um estudo integrado do desenvolvimento humano, ou seja, uma psicogênese da pessoa como um todo. Para ele, não é possível analisar separadamente apenas um único aspecto do ser humano, mas é necessário analisar os aspectos afetivo, cognitivo e motor como um todo, pois um aspecto influencia o desenvolvimento do outro.

Aspecto orgânico e sócio-cultural

        Embora reconhecendo o valor do aspecto orgânico do ser, destaca que o desenvolvimento do sistema nervoso não seria suficiente para o pleno desenvolvimento das habilidades cognitivas. As potencialidades psicológicas dependem essencialmente do contexto sócio-cultural. O desenvolvimento humano seria o resultado de influências sociais e fisiológicas. Não se pode desprezar nem um nem outro aspecto do desenvolvimento humano.

        Assim, em síntese, Wallon enfatiza a integração entre o indivíduo, em seus aspectos cognitivo, afetivo e motor, e o meio, predominantemente social.

Campos funcionais

        Wallon denomina de campos funcionais certas categorias de atividades cognitivas específicas que servem de base para a cognição. São eles: o movimento, a afetividade, a inteligência e a pessoa.

Movimentos: os movimentos, base para o desenvolvimento dos demais campos, tem enorme importância na estruturação do pensamento no período anterior à aquisição da linguagem. Os movimentos podem estar em duas categorias:

- Movimentos instrumentais , que correspondem às ações executadas para alcançar um objetivo imediato como andar, pegar objetos, mastigar, mamar, etc.

- Movimentos expressivos, que têm função comunicativa e associados a outros indivíduos como falar, gesticular, etc.

Afetividade: corresponde à primeira forma de interação do indivíduo com o meio ambiente e, segundo Wallon, corresponde à primeira motivação do movimento. O afeto é o elemento mediador das relações sociais , ou seja, o que separa a criança do ambiente. Para Wallon, as emoções são a base do desenvolvimento do terceiro campo funcional: a inteligência.

Inteligência: a inteligência está intimamente relacionada com as duas importantes atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem. Gradualmente, a criança vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença, ampliando seu raciocínio simbólico e desenvolvendo sua capacidade de abstração.

Pessoa (o EU): Para Wallon, pessoa corresponde ao campo funcional que coordena os demais. Integra os demais campos funcionais: inteligência (pensar), afetividade (sentir) e movimento (agir). Seria o campo responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu, onde o pensar, o agir e o sentir deve estar em harmonia.

(Pensar, sentir e agir devem estar em harmonia! O individuo que pensa de um jeito, mas se deixa arrastar pela emoção, agindo contrário à própria razão, pode adquirir uma patologia mental. )

 

AFETIVIDADE: EMOÇÃO, SENTIMENTO E PAIXÃO

        Interessante é a teoria da afetividade de Henri Wallon, que, para ele, envolve três momentos: emoção, sentimento e paixão.

        No campo da emoção, predomina a ativação fisiológica; no sentimento, a ativação representativa, e na paixão, a ativação do autocontrole.

        Wallon sugere que as emoções podem ter uma vinculação recíproca entre o tônus (estado de excitação ou tensão), o movimento e a função postural.

        A cólera vincula-se ao estado de hipertonia, no qual há excesso de excitação sobre as possibilidades de escoamento.

        A alegria é um estado de equilíbrio e de ação recíproca entre o tônus e o movimento, é uma emoção eutônica.

        Na timidez, há hesitação dos movimentos e incerteza de postura, um estado de hipotonia, como em estados depressivos.

        Um tipo de emoção hipertônica, geradora de tônus, é a ansiedade.

        As situações afetivas são prazerosas porque o fluxo tônico se eleva e se escoa imediatamente com movimentos expressivos.

        Um estado de desequilíbrio ou crise emocional tem impacto direto sobre as ações. Sob o efeito de emoções descontroladas, também se perde o comando das ações.

        Wallon também cita que as emoções têm poder de indução ou de contágio nas interações sociais.

        Pode ter, pois, um caráter coletivo, identificado nos jogos, danças e rituais, onde há simetria de gestos, atitudes e movimentos rítmicos, proporcionando uma sintonia afetiva que coloca todos na mesma emoção.

        A afetividade se relaciona com as sensibilidades internas de interocepção (ligada às vísceras) e de propriocepção (ligadas aos músculos) responsáveis pela atividade motora. Essas sensibilidades são reativas às influências externas, chamadas de exterocepção, e que se transformam em sinalizações afetivas caracterizadas como medo, alegria, tranquilidade, raiva, ira, fúria...

        Wallon identifica, então, o processo de alternância na predominância dos conjuntos, em cada estágio de desenvolvimento, como veremos a seguir.

 

ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO

        À semelhança de Piaget, Wallon propõe alguns estágios de desenvolvimento em que um estágio posterior altera e amplia estágios anteriores, num crescendo.

        Nesse processo, a afetividade e a cognição caminham juntas, alternando-se, conforme as situações, podendo surgir estágios predominantemente afetivos sucedidos por momentos predominantemente cognitivos.

        Períodos predominantemente afetivos se relacionam com a construção do eu, enquanto períodos predominantemente cognitivos se relacionam mais com a construção do real e compreensão do mundo físico. Este ciclo perdura por toda a vida, sendo que a emoção tende a sobrepor-se à razão quando o indivíduo se depara com o desconhecido.

        São esses os principais estágios citados por Wallon:

        Estágio impulsivo-emocional: predominantemente afetivo, vai do nascimento até o primeiro ano de vida. As emoções são o principal instrumento de interação com o meio.

        O movimento, como campo funcional, não está totalmente desenvolvido. Gradualmente, os movimentos desorientados, através da contínua resposta do ambiente, permitem que a criança passe “da desordem gestual às emoções diferenciadas”.

        Estágio sensório-motor e projetivo: vai até aproximadamente o terceiro ano de vida. A inteligência predomina e o mundo externo prevalece nos fenômenos cognitivos. A inteligência, nesse período, se divide em inteligência prática, através da interação de objetos com o próprio corpo, e inteligência discursiva, adquirida através da imitação e da apropriação da linguagem. Os pensamentos se projetam em atos motores.

        Estágio do personalismo: com predominância afetiva, este estágio se estende dos três aos seis anos, aproximadamente. Segundo Wallon, trata-se de um período fundamental para a formação da personalidade do indivíduo e da autoconsciência. Por ser uma fase de auto-afirmação, pode ocorrer a crise negativista, em que a criança se opõe sistematicamente ao adulto. Concomitantemente, também ocorre uma fase de imitação motora e social.

        Estágio categorial: predominância da inteligência sobre as emoções. Manifesta-se entre os seis e os onze anos de idade. A criança desenvolve sua capacidade de memória e atenção voluntária. O poder de abstração aumenta consideravelmente.

        Estágio da adolescência: aproximadamente a partir dos onze ou doze anos, quando ocorrem transformações físicas e psicológicas da adolescência.         Estágio predominantemente afetivo em que ocorrem uma série de conflitos internos e externos, a busca de autoafirmação e o desenvolvimento da sexualidade.

        O processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um novo estágio. Assim, os estágios não se encerram com a adolescência, mas ocorre um processo contínuo que jamais se encerra.

(Fonte: Curso Online de Pedagogia Espírita - IDE - Instituto de Difusão Espírita - Araras-SP -  www.ide.org.br   -   www.ideeditora.com.br. Coordenação: Walter Oliveira Alves )

 

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