O grito

    Uma boa palavra auxilia sempre. É lamentável se observar como estamos nos esquecendo de cultivar a boa palavra.

    Nosso atual vocabulário empobreceu-se muito e, face aos dissabores que nos envolvem a vida, primamos por expressar, pela fala, o mau humor e o desânimo que nos assola.

    Basta permaneçamos alguns minutos em uma fila de mercado, de ônibus, de banco, para logo se perceber o início das lamentações, das queixas e o desfilar do rosário da infelicidade.

    Quanta vez, em plena rua, alguém nos aborda, rosto transtornado a solicitar uma informação. Onde fica o Hospital, a Delegacia, o Posto de Saúde?

    De forma mecânica, indicamos a direção correta ou por vezes, alegando pressa, nos escusamos de perder tempo e desviamos da criatura.

    E, no entanto, é um ser que sofre e talvez bastasse uma palavra amiga, a gentileza de explicar em pormenores, de seguir com ele um trecho do caminho, para lhe amenizar a dor.

    Recordamos que, certa vez, um homem ouvia em um templo religioso as advertências do orador: Falar é dom de Deus. Se abrimos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor. É preciso aproveitar todas as oportunidades porque, às vezes, desajudamos quando podíamos ajudar.

    O homem saiu dali e agasalhou a mensagem.

    Alguns dias depois, nas funções de pedreiro-chefe inspecionava um grande recinto, em fase final de construção, junto com o engenheiro.

    O enorme salão estava muito bonito. Acabamento esmerado e pintura, primorosa.

    Vamos experimentar a acústica. - Sugeriu o engenheiro. E, virando-se para o pedreiro, lhe pediu:

    Grite alguma coisa.

    Saulo, esse era o nome do pedreiro, recordou as lições de dias antes a respeito da palavra e enchendo os pulmões, bradou alto:

    Confia em Jesus!

    O som estava muito bem distribuído e agradou a ambos.

    Passados alguns minutos, adentra a sala um homem de cabelos em desalinho, perturbado, revólver à mão.

    Quem gritou? Pergunta. Quem mandou confiar em Jesus?

    Saulo é apontado e o homem a ele se dirige. Percebe-se-lhe no olhar a angústia e o desespero.

    Joga-se nos braços do pedreiro e chora:

    Obrigado, obrigado, amigo.

    E porque ninguém conseguisse entender o que estava acontecendo, explica:

    Eu estava no terreno da construção. Queria morrer. Estava encostando o cano do revólver ao ouvido, quando escutei seu apelo. Sustei o gesto.

    Estou desempregado há muito tempo e sou pai de oito filhos. Confiar em Jesus. Sim. Eu confiarei.

    É sempre importante falarmos o bem. Mesmo quando pensemos que estamos sós, pois em verdade não estamos.

    Feliz foi o poeta que disse que o homem tem na garganta uma flauta mágica que pode emitir as mais doces melodias. É a voz, talento divino que nos foi dado para o nosso progresso e crescimento dos nossos irmãos.

*   *   *

    A guerra nasce da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos.

    A língua guarda a centelha divina do verbo através do qual o homem pode erguer o monumento da paz.

    Assim, podemos utilizar a palavra para consolar e edificar os nossos irmãos.

(Redação Momento Espírita)

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