Evangelizando com música

        O presente trabalho destina-se a prover subsídios que permitam um estudo, ainda que superficial, acerca do uso da Arte e, em especial, da música como instrumentos pedagógicos no esforço evangelizador na seara espírita.

        Sabendo que o ser humano é espírito em evolução, com bagagens multifacetadas e talentos adormecidos, não se desconhece que aqueles que hoje se encontram na posição de evangelizandos (a quem devemos iluminar os caminhos com o exemplo de nossa vivência e as luzes do Evangelho de Jesus e da abençoada Doutrina codificada por Allan Kardec) também possuem dons já aflorados ou ainda adormecidos, à espera de um toque, de uma situação onde o despertar ocorra com naturalidade para seu crescimento e amadurecimento espiritual. O uso da Arte, mais e mais preconizado no meio educacional pelos benefícios inquestionáveis que proporciona ao processo de ensino-aprendizagem, justifica-se no contexto da evangelização ou da educação espírita como fator motivacional, de sensibilização por excelência, de liberação de energia, de elevação do tônus vibratório, de facilitação da absorção de conteúdos educativos e moralizantes. Todas as expressões artísticas passíveis de serem utilizadas nesse contexto – pintura, desenho, dança, teatro, técnicas de modelagem, canto, poesia, dentre outras – só vêm a tornar mais atraentes e ricas, mais dinâmicas e criativas, as aulas sobre temas, algumas vezes, abstratos ou de difícil absorção, a depender do nível de maturidade ou de escolaridade da turma. A música espírita, de cunho educativo e evangelizador, tem sido utilizada com excelentes resultados do ponto de vista dos benefícios para os evangelizandos, sejam crianças, jovens ou adultos, de situação socioeconômica normal ou menos favorecida. A Equipe de evangelizadores/educadores espíritas tem necessidade de melhor embasar a sua ação, estudando o valor e o papel da música a serviço da evangelização / educação espírita, desenvolvendo em si mesma os talentos porventura latentes ou mesmo novos talentos, aprimorando aqueles já desabrochados, tudo isso com o objetivo de melhor se qualificar para a tarefa abraçada, a ser desenvolvida com amor e dedicação.

 

Sobre a prática pedagógica nas diferentes etapas:

1.dos 3 aos 7 anos – Utilizar a música, especialmente o canto e as brincadeiras de roda cantadas.

Durante as atividades de artes plásticas, utilizar, como fundo, música suave, de preferência clássica.

2. dos 7 aos 11/12 anos – Trabalhar intensamente com o sentimento da criança, principalmente através da arte. O elemento musical (ritmo, melodia) pode atuar beneficamente na vida sentimental da criança, auxiliando o seu desenvolvimento psíquico harmonioso.

3. dos 13/14 anos em diante – Propiciar oportunidade de participação nas atividades artísticas como:

Teatro, coral, grupos musicais e de dança.

 

Trabalhando com Crianças de 3 a 6 anos:

Explore o ritmo, músicas com gestos, rodas cantadas

. Utilize a música e a poesia juntas. O resultados será ótimo.

A criança pequena vibra com o ritmo da música. A poesia declamada também tem ritmo. Explore-o. Trabalhando os sons.

– Procure trabalhar com as crianças pequenas com os sons da natureza. Não será difícil gravar: a chuva caindo, pássaros cantando, o som do grilo, da cigarra, os latidos de um cão, etc. Trabalhe a diferença dos sons: sons de metal, madeira, instrumentos musicais. Trabalhe também a diferença entre ruído e música. Música Clássica – Nas atividades de relaxamento, use a música clássica como “fundo musical”. Explore também o silêncio durante o relaxamento:

todos em silêncio, relaxados, poderão ouvir sons longínquos. Também utilize a música clássica ou música suave nas atividades de artes plásticas.

 

Trabalhando com Crianças de 7 a 12 anos:

        Cante com entusiasmo e amor. Coloque sempre muito amor em tudo o que fizer. Procure formar um coral. Não hesite em pedir ajuda a algum músico que frequenta a Casa.

        A música na Evangelização:

        Compreendemos a música como instrumento de educação do Espírito e de sensibilização por excelência. A música de qualidade que toca o sentimento.

        A música, quando revestida de conteúdo edificante e significante nos une a esferas espirituais superiores, fortalecendo nossa vontade direcionada ao Bem, no sentido de nosso auto aprimoramento, nos eleva o padrão vibratório, os pensamentos e os sentimentos, nos liberta de amarras, tensões e atavismos do passado, melhorando a nossa sintonia e nos ilumina o coração e a mente, tornando-nos mais suscetíveis e abertos ao aprendizado de novas atitudes e conhecimentos.

        Nos diz Walter O. Alves que “a música representa elevada interação vertical com as esferas espirituais. Mediante essa vivência, em nível espiritual, o sentir e o querer se harmonizam, aprimorando o sentimento e o lado moral da vida. O elemento melódico da música, em harmonia com o ritmo, embala a própria alma, ativando os movimentos interiores do Espírito. A arte melódica-harmônica-rítmica da música atinge as profundezas da alma, transportando o ser espiritual para as esferas superiores da vida, através da inspiração superior, atingindo as vibrações do mundo espiritual elevado e nobre”.

        Sabemos que quando o Espírito reencarna, até os sete anos, ainda tem adormecidas as suas potencialidades.

        Somente após esse período é que se consolida o seu processo reencarnatório e ele começa a revelar suas tendências. Observando suas tendências e os princípios consagrados da educação, é que os pais direcionam a correção das más inclinações emergentes, bem como a potencialização de suas qualidades intrínsecas desde cedo, com o auxílio da escola convencional - para desenvolvimento do lado social, intelectual e da razão, mais materializado, em sintonia com o mundo de relação em que vive - e da escola de educação moral ou de evangelização - para desenvolvimento do lado espiritual, em suas virtudes e qualidades morais.

        A escola de evangelização tem que se valer de técnicas, processos, métodos, ferramentas e instrumentos, que facilitem o processo de ensino-aprendizagem e também o desabrochar das infinitas potencialidades do Espírito eterno adormecido na criança. Nesse sentido, segundo o mesmo autor, “o valor da Arte na Evangelização é imenso, tanto no que se refere ao conhecimento espírita, quanto ao desenvolvimento de sentimentos superiores” , constituindo-se em “poderoso instrumento de educação do sentimento e de educação dos impulsos da alma, canalizando-os para o Bem e para o Belo”.

        As ferramentas têm por objetivo motivar, melhor fixar conteúdos, sensibilizar, integrar o evangelizando consigo mesmo e com os outros, abrir o campo mental, etc. Segundo o citado autor, “a Arte, em geral, como atividade criadora por excelência, vem ao encontro das necessidades de movimento e ação da criança e do jovem. Não apenas ação motora, física, mas, principalmente, os movimentos intensos da própria alma, do ser espiritual, na expansão do sentir e do querer. (...) A Arte é um dos mais valiosos canais de expressão... Ao evangelizador cabe conduzir essa criatividade para os canais superiores da vida”.

        A música, nesse contexto, é uma das ferramentas facilitadoras. Não a única, nem a principal.

        Para crianças pequenas, é fundamental e seu uso facilita sobremodo a tarefa do evangelizador.

        Aliada a gestos e coreografias, é elemento dinamizador das atividades.

        Sabendo que “as crianças aprendem através de atividades adequadas ao seu nível de desenvolvimento”, pois, nos ensina Pestalozzi, que “o olho quer ver, o ouvido ouvir, o pé quer andar e a mão agarrar! Da mesma forma o coração quer crer e amar e o espírito quer pensar”, devemos procurar ferramentas que propiciem essa ação do evangelizando, o que o motivará mais e mais a frequentar as aulas de evangelização.

        Nos diz o aludido autor que “A criança pequena não aprende por conceitos abstratos que falam ao cérebro, mas está mais aberta ao ritmo e ao sentimento que a música transmite. O ritmo e a harmonia da música auxiliam a sua harmonização interior.

        Assim, letras simples e objetivas, em ritmo harmonioso, alcançarão o coração infantil de forma adequada”; e que “o ritmo está presente na criança a partir de seu próprio organismo: o compasso das batidas do coração, o ritmo compassado do andar, o balançar dos braços, a sequência interminável do dia e da noite, os horários das refeições, do descanso, tudo à sua volta fala que o Universo está envolvido em ritmo harmonioso”.

 

        Como escolher a música:

        A música também é uma forma de evangelizar, quando tem conteúdo e quando este conteúdo traduz a mensagem da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus. Às vezes observa-se a adoção, nas casas espíritas, muitas vezes por falta de opção, de músicas sem conteúdo educativo ou evangelizador e que, pelo seu ritmo animado, agradam aos evangelizandos. Alguns aspectos devem ser considerados pelo evangelizador na escolha de músicas que venham a auxiliar no desenvolvimento da tarefa:

•O ritmo

- a música produz formas-pensamento nobres ou inferiores, conforme seu conteúdo e ritmo, daí o cuidado que teve ter o evangelizador na escolha das peças musicais a serem trabalhadas, de modo que não venham a despertar a violência ou a sensualidade, por exemplo; o ritmo, suave ou mais movimentado, deve ser harmonioso.

•A tonalidade – adequada à região de canto onde as crianças sintam-se mais à vontade, a música deve ser em tons maiores, preferencialmente, por serem os mesmos mais alegres.

•A origem/procedência

– a música 100% espírita traduz mensagens compatíveis com os princípios espíritas, o que pode não ocorrer com músicas adaptadas ou de origem religiosa diversa, que, em alguns casos, podem até entrar em contradição com a Doutrina.

•O conteúdo

– as letras devem ser revestidas de linguagem simples, clara e objetiva, de modo a traduzir com fidelidade o conteúdo pretendido, sem duplo-sentido e sem complexidade exagerada; e devem traduzir com fidelidade o que apregoa a Doutrina.

•A interpretação

– as canções devem ser cantadas com alegria; o evangelizador deve sentir o que canta para poder passar realmente a mensagem; o uso de gestos e coreografias é muito apreciado pelas crianças e até pelos jovens e servem para liberar energia, integrar e animar.

Como usar:

Assim, para momentos diversos, músicas diferenciadas devem ser escolhidas:

•Na preparação para a prece

– músicas harmonizantes, suaves, que inspirem paz e acalmem as crianças ou jovens; de conteúdo que eleve ou instrumental de sopro ou corda, que agem no corpo emocional dos evangelizandos;

•No momento de integração

- músicas alegres, para liberar energia, favorecer a aproximação e o contato físico, para desinibir; com instrumentos de metal e percussão, para ativar o corpo físico dos evangelizandos; associadas a atividades recreativas;

•Na atividade introdutória ou motivacional, no desenvolvimento do conteúdo e/ou na atividade de fixação

– músicas de conteúdo pertinente, que introduzam o tema da aula, que concentrem a atenção, podendo, ou não, ser associadas a atividades lúdico -educativas; preferencialmente com instrumentos de corda, para alcançar o corpo mental dos evangelizandos.

 

Para que usar:

Importante é destacar que a música tem várias utilidades, independentemente de ser ferramenta valiosa no contexto da evangelização. A nova ciência da musicoterapia aponta inúmeras vantagens que justificam a sua adoção. Hal Lingerman, estudioso do assunto e autor do livro “As energias curativas da música”, aponta algumas coisas que a boa música pode fazer:

•atenuar a fadiga física e a inércia, aumentando a vitalidade física,

•acalmar a ansiedade e as tensões ou liberar a raiva,

•elevar os sentimentos e penetrar em estados de espírito

•concentrar o pensamento e ajudar a definir claramente metas,

•liberar a coragem e a persistência,

•aprofundar os relacionamentos e enriquecer amizades,

•fortalecer a caráter e o comportamento construtivo,

•expandir a consciência de Deus,

•estimular a criatividade e a sensibilidade.

 

E se eu não souber cantar:

Neste caso, utilize-se de gravador ou toca CD ou, na falta destes, peça às crianças que cantem e as acompanhe com palmas, animando, criando com elas uma coreografia ou movimentos sincronizados, de modo que o ato de cantar seja algo natural. Não passe para a criança ou para o jovem a sua timidez. Seja sincero, diga, se for o caso, que não é lá muito afinado, que não tem lá muito ritmo, mas mostre a elas que cantar é algo prazeroso. Brinque, implorando que não corram quando você começar a soltar a s suas primeiras notas musicais. Eles vão achar engraçado e vão participar ativamente (é possível até que alguns corram, de brincadeirinha).

 

Como ensinar as músicas:

        Tudo é um processo natural. Recomenda-se primeiro ensinar a letra. Quando estiver devidamente decorada, o ritmo inclusive (que pode ser marcado com palmas), aí você deve introduzir a melodia. Se tocar um instrumento, tenha o cuidado de ajustar o tom da música à voz das crianças (normalmente mais aguda que a dos adultos), para que, com a voz perceptível, a criança sinta-se feliz em cantar (que ouça a sua própria voz, pois isto é muito importante – até para perceber se está errando).

        Walter Oliveira Alves, no livro “Prática Pedagógica na Evangelização – Conteúdo e Metodologia”, recomenda:

        “Trabalhe iniciação musical e ritmo com a criança pequena. Se possível, forme uma bandinha rítmica. Com as maiores, procure formar um coral. Se houver possibilidades, explore a música instrumental:

        Flauta, violão, teclado, piano... Procure voluntários da Casa para trabalhar com as crianças. Associe a música ao teatro e à dança. Procure também utilizar música suave, especialmente a clássica, em conjunto com as artes plásticas”.

        Sobre a prática pedagógica propriamente dita, o autor sugere que dos 3 aos 7 anos, se utilize a música, especialmente o canto e as brincadeiras de roda cantadas e músicas de fundo suave, de preferência clássicas, para acompanhar as atividades de artes plásticas; dos 7 aos 11 ou 12 anos, recomenda trabalhar intensamente com o sentimento da criança, principalmente através da Arte - nessa etapa, o elemento musical (ritmo e melodia) pode atuar beneficamente na vida sentimental da criança, auxiliando o seu desenvolvimento psíquico harmonioso; e dos 13 anos acima, que deve-se propiciar oportunidade de participação nas atividades artísticas como teatro, coral, grupos musicais e de dança.

        Uma recomendação final do autor:

        “Cante com entusiasmo e amor. Coloque sempre muito amor em tudo o que fizer...”.

(Apostila: Curso de Preparação para Evangelizar.  Centro Espírita Mensageiros do Amor – C.E.M.A. Fonte Principal: CVDEE.ORG. BR)

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