DEVEMOS PUBLICAR TUDO QUANTO OS ESPÍRITOS DIZEM?

Allan Kardec disse:  "Esta pergunta nos foi dirigida por um dos nossos correspondentes.

Respondemo-la da maneira seguinte:

Seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?

Quem quer que possua uma noção do Espiritismo, por superficial que seja, sabe que o mundo invisível é composto de todos aqueles que deixaram na Terra o envoltório visível. Despojando-se, porém, do homem carnal, nem todos se revestiram, por isso mesmo, da túnica dos anjos. Há, portanto, Espíritos de todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade e de imoralidade. Eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que entre os Espíritos, assim como na TERRA, há seres levianos, desatentos e brincalhões; falsos sábios, vãos e orgulhosos de um saber incompleto; hipócritas, malévolos e, o que nos pareceria inexplicável, se de algum modo não conhecêssemos a fisiologia deste mundo, há sensuais, vilões e devassos que se arrastam na lama. Ao lado desses, assim como na TERRA, há seres bons, humanos, benevolentes, esclarecidos e dotados de sublimes virtudes. Como, entretanto, o nosso mundo não está na primeira nem na última posição, embora mais vizinho da última que da primeira, disso resulta que o mundo dos Espíritos abrange seres mais avançados intelectual e moralmente do que os nossos homens mais esclarecidos, e outros que estão em situação inferior à dos homens mais inferiores.

(...) De acordo com o caráter e a elevação dos Espíritos, as comunicações poderão ser levianas, triviais, grosseiras e até mesmo obscenas, ou marcadas pela elevação intelectual, pela sabedoria e pela sublimidade. Eles se revelam por sua própria linguagem. Daí a necessidade de não aceitar cegamente tudo quanto vem do mundo oculto, e de tudo submeter a um severo controle. " (Revista Espírita. Novembro de 1859.   Devemos publicar tudo quanto os Espíritos dizem? Allan Kardec)

De acordo com Allan Kardec, toda teoria revelada pelos Espíritos deve ser passada pela prova do Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos (CUEE).

Existem três regras principais para este Controle Universal, que estão descritas na obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec, na parte da introdução, sob o título de "Autoridade da Doutrina Espírita". Resumidamente, as três regras são:

- 1. Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possui, por mais respeitável que seja a sua assinatura, deve ser rejeitada.
- 2. As revelações espontâneas devem ser realizadas por um grande número de médiuns estranhos uns aos outros, de diversos lugares do mundo.
- 3. Deve haver uma concordância universal entre as revelações dos Espíritos que eles façam espontaneamente, ou seja, é necessário comparar as suas respostas e verificar se existe uma unanimidade da voz dos Espíritos.

Em 1866, quando houve a publicação das obras "Os Quatros Evangelhos" de J. B. Roustaing, o Codificador fez a seguinte advertência aos leitores sobre o seu conteúdo:

"Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e que, em todo caso, necessitam da sanção do  controle universal , e até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita." (Revista Espírita. Junho de 1866. Notícias bibliográficas. Allan Kardec)

Por causa dessas teorias falsas, que são publicadas por escritores ou médiuns desavisados, Allan Kardec havia feito a seguinte recomendação: "TODA TEORIA EM MANIFESTA CONTRADIÇÃO COM O BOM SENSO, COM UMA LÓGICA RIGOROSA E COM OS DADOS  POSITIVOS JÁ ADQUIRIDOS, DEVE SER REJEITADA, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura. (...)Uma só garantia séria existe para o ensino  dos  Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares. (...) Foi essa unanimidade que pôs por terra todos  os sistemas parciais que surgiram na origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. (...) Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um princípio da doutrina.  (...) Não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime  dos Espíritos." (O Evangelho Segundo o Espiritismo.  Introdução. 2. Autoridade da Doutrina Espírita. Allan Kardec)     

"O erro de certos autores é escrever sobre um assunto antes de tê-lo aprofundado suficientemente, dando lugar, assim, a uma crítica fundamentada. (...) Publicar sem exame, ou sem correção, tudo quanto vem dessa fonte, seria, em nossa opinião, dar prova de pouco discernimento." (Revista Espírita. Novembro de 1859.   Devemos publicar tudo quanto os Espíritos dizem? Allan Kardec)

Em sua época, Allan Kardec recebia muitas comunicações de diferentes grupos espíritas, pedindo conselho e julgamento  de suas tendências, porém o Codificador, após um rigoroso exame e classificação delas, dizia que não era possível publicar todas nas Revistas Espíritas, fazendo o seguinte esclarecimento:

"Entre elas encontramos algumas notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos com que as assinam. Publicá-las teria sido dar armas à crítica.  

(...) As publicações locais podem ter uma imensa utilidade, sob um duplo aspecto, o de espalhar nas massas o ensino dado na intimidade, depois o de mostrar a concordância que existe nesse ensino sobre diversos pontos. Aplaudiremos isto sempre, e os encorajaremos todas as vezes que elas forem feitas em boas condições.

(...) No mundo invisível, como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros. Tal Espírito é apto a ditar uma boa comunicação isolada; a dar excelente conselho particular, mas é incapaz de um trabalho de conjunto completo, que suporte um exame, sejam quais forem suas pretensões. Por outro lado, o nome com o qual ele se compraz em disfarçar-se, não é uma garantia. Quanto mais alto o nome, mais obriga. Ora, é mais fácil tomar um nome do que justificá-lo. Eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos, encontram-se, por vezes, ideias excêntricas e os traços menos equívocos da mais profunda ignorância. É nestas espécies de trabalhos mediúnicos que temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de fazê-los imprimir, e mais de um pensa equivocadamente que tal recomendação basta para encontrar um editor interessado no negócio.
(...)  A intromissão desses Espíritos nas  comunicações   é ─ e isto é um fato conhecido ─ o maior escolho do Espiritismo. Todas as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.  Em resumo, publicando   comunicações  dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem." (Revista Espírita. Maio de 1863. Exames das comunicações mediúnicas que nos enviam. Allan Kardec)

Por isso, segundo Allan Kardec, o ideal seria criar uma comissão central ou um conselho superior para que haja unidade dos princípios espíritas:  " Em vez de um chefe único, a direção será confiada a uma comissão central ou conselho superior permanente - pouco importa o nome - cuja organização e atribuições se definam de maneira a não dar azo ao arbítrio.        

Essa comissão se comporá, no máximo de doze membros titulares, que deverão, para tal efeito, preencher certas condições indispensáveis, e de igual número de conselheiros.  (...) Cada membro presidirá por sua vez durante um ano, e aquele que preencher esta função será designado por sorteio. (...) A comissão central, ou conselho superior, será, pois, a cabeça, o verdadeiro chefe do Espiritismo, chefe coletivo, que nada poderá sem o assentimento da maioria e, em certos casos, sem o de um congresso ou assembléia-geral. (...)Os congressos serão constituídos por delegados das sociedades particulares, regularmente constituídas, e colocadas sob o patrocínio da comissão por sua adesão e pela conformidade de seus princípios (...)A fiscalização dos atos da administração pertencerá aos congressos, que poderão decretar a censura ou uma acusação contra a comissão central, por infração do seu mandato, por violação dos princípios estabelecidos, ou por medidas prejudiciais à Doutrina." (Revista Espírita. Dezembro de 1868. Constituição Transitória do Espiritismo.  Comissão Central. Allan Kardec)

No entanto, essa comissão central, que no Brasil foi chamada de Federação Espírita Brasileira (FEB), não segue com fidelidade  os fundamentos do Espiritismo e nem as recomendações de Allan Kardec, além disso,  a fiscalização dos seus atos, na prática, não funciona.

Diante disso, Herculano Pires fez muitas críticas a FEB, dizendo:  "As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem, nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. "(O Centro Espírita.  Introdução. J. Herculano Pires)

"No Espiritismo não existe igreja, não existe clero. Existem apenas agrupamentos de pessoas, que constituem grupos espíritas, centros espíritas, ou sociedades espíritas de vários tipos. Mas essas sociedades são sociedades civis, devidamente registradas em cartórios. A filiação, por exemplo, a uma federação, não é nunca obrigatória. Filia-se a um Centro aquele que deseja beneficiar-se de seus favores, ou dos favores que as federações podem dar aos diversos Centros filiados. CADA SOCIEDADE ESPÍRITA É AUTÔNOMA E DEVE REGER-SE POR SI MESMA." (No Limiar do Amanhã. Os caminhos da salvação. J. Herculano Pires)

Portanto, diante da falta de uma Comissão Central séria e fiel a Doutrina Espírita e devido a venda indiscriminada de livros com falsos conceitos (antidoutrinários) ,supostamente "mediúnicos", cabe ao Espírita utilizar critérios rigorosos de seleção dos livros que serão usados para o estudo, rejeitando sem hesitação tudo o que for contrário à lógica e ao bom senso. O próprio Chico Xavier nos disse,  (...) "Que se um dia, Emmanuel aconselhasse algo que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que deveria permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo."  (Livro: No mundo de Chico Xavier. Elias Barbosa)

Em resumo: Os Espíritas deverão ter o trabalho de comparar as comunicações espirituais com as obras básicas do Codificador Allan Kardec, e tudo que estiver em desacordo com a base doutrinária, deverá ser rejeitado. 

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