AS COLÔNIAS ESPIRITUAIS EXISTEM?

No Movimento Espírita Brasileiro há muitas discussões acirradas sobre este assunto.  Há Espíritas rígidos que afirmam que as "colônias espirituais" não existem, alegando que as obras escritas por alguns médiuns Espíritas (tais como, por exemplo: Chico Xavier, Yvonne A. Pereira, etc..) são apenas ficção, pois, na realidade, Allan Kardec jamais se referiu em suas obras sobre a existência delas.

Ainda utilizam-se de trechos isolados das obras de Allan Kardec, para afirmarem que não seria possível a colônia de transição "Nosso Lar", descrita pelo espírito André Luiz, permanecer por mais 600 anos no mundo espiritual, pois o Codificador da Doutrina Espírita afirma que os objetos do mundo espiritual possuem apenas uma "existência temporária". Além disso, argumentam que os Espíritos não sentem necessidades, ou seja, não precisam de alimentos fluídicos, pois "não possuem orgãos", nem de proteção com muros e muito menos de armas para tentarem impedir a entrada de espíritos inferiores dos umbrais (regiões inferiores) nas colônias espirituais, pois os Espíritos Superiores afirmam que "não existe nunhum lugar circunscrito". Vejamos quais são os trechos das obras do Codificador no qual estes espíritas ortodoxos se baseam para afirmarem tal tese:  

"O Espírito atua sobre a matéria; da matéria cósmica universal tira os elementos necessários para formar, a seu bel-prazer, objetos que tenham a aparência dos diversos corpos existentes na Terra. Pode igualmente, pela ação da sua vontade, operar na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber. OS OBJETOS QUE O ESPÍRITO FORMA TÊM EXISTÊNCIA TEMPORÁRIA, subordinada à sua vontade, ou a uma necessidade que ele experimenta. PODE FAZÊ-LOS E DESFAZÊ-LOS LIVREMENTE." (Revista Espírita. Agosto de 1859. Mobiliário de Além-Túmulo. Allan Kardec)

"Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar. Um avarento manuseará ouro, um militar trará suas armas e seu uniforme, um fumante o seu cachimbo, um lavrador a sua charrua e seus bois, uma mulher velha a sua roca. Para o Espírito, que é, também ele, fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado material, para o homem vivo; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva quanto a deste." (A Gênese. Cap. 14. Item 14. Allan Kardec)

Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e sofrimentos físicos?

"Eles os conhecem, porque os sofreram, não os experimentam, porém, materialmente, com vós outros: são Espíritos." (O Livro dos Espíritos. 255. Allan Kardec)

E a fadiga, a necessidade de repouso, experimentam-nas?

"Não podem sentir a fadiga, como a entendeis; conseguintemente, não precisam de descanso corporal, como vós, pois que NÃO POSSUEM ÓRGÃOS cujas forças devam ser reparadas. O Espírito, entretanto, repousa, no sentido de não estar em constante atividade. Ele não atua materialmente. Sua ação é toda intelectual e inteiramente moral o seu repouso." (O Livro dos Espíritos. 254. Allan Kardec)

Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento?

"Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que todos os sofrimentos físicos." (O Livro dos Espíritos. 255. Allan Kardec)

Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos, segundo seus merecimentos?

"Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, NENHUM LUGAR CIRCUNSCRITO OU FECHADO EXISTEM ESPECIALMENTE DESTINADO A UMA OU OUTRA COISA. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme é mais ou menos adiantado o mundo em que habitam." (O Livro dos Espíritos. 1012. Allan Kardec)

"O QUE O HOMEM CHAMA PURGATÓRIO É IGUALMENTE UMA ALEGORIA, devendo-se entender como tal, NÃO UM LUGAR DETERMINADO, porém o estado dos Espíritos imperfeitos, que se acham em expiação até alcançarem a purificação completa, que os elevará à categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal."(O Livro dos Espíritos. 1013. Allan Kardec)

"Inferno se pode traduzir por uma vida de provações, extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor; purgatório, por uma vida também de provações, mas com a consciência de melhor futuro." (O Livro dos Espíritos. 1014. Allan Kardec)

AGORA VAMOS FAZER UMA ANÁLISE MAIS APROFUNDADA SOBRE ESTE ASSUNTO:

Apesar de Allan Kardec e os Espíritos Superiores nunca terem usado a expressão "Colônias Espirituais" em suas obras, existem outros trechos das obras do Codificador no qual são utilizadas palavras sinônimas para se referir às cidades espirituais.  Em "O Livro dos Espíritos", Allan Kardec faz a seguinte pergunta aos Espíritos Superiores:

Há, de fato, como já foi dito, mundos que servem de ESTAÇÕES ou PONTOS DE REPOUSO aos Espíritos errantes?

"Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, ESPÉCIES DE BIVAQUES, de CAMPOS ONDE DESCANSEM de uma demasiado longa erraticidade, estado este sempre um tanto penoso. São, entre os outros mundos, posições intermédias, graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que a elas podem ter acesso e onde eles gozam de maior ou menor bem-estar." (O Livro dos Espíritos. Questão 234. Allan Kardec)

Quando Kardec pergunta usando a expressão "mundos que servem de estações ou pontos de repouso aos Espíritos" e o Espíritos  Superiores afirmam que existem  "espécies de bivaques" ou  "campos onde descansem" não estariam se referindo as "Colônias Espirituais"? Não seriam expressões sinônimas? Percebam amigos, só mudaram as palavras, porém o significado é o mesmo, portanto, neste trecho da obra confirma-se que existem tais lugares.

Na Revista Espírita de Maio de 1865, o Espírito Mesmer faz também a seguinte afirmação: "O MUNDO DOS INVISÍVEIS É COMO O VOSSO. EM VEZ DE SER MATERIAL E GROSSEIRO, É FLUÍDICO, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do Espírito, haurido nesses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais palpáveis, tangíveis, materiais.  O mundo dos Espíritos não é o reflexo do vosso; O VOSSO é que É UMA IMAGEM GROSSEIRA E MUITA IMPERFEITA DO REINO DE ALÉM-TÚMULO. "(Revista Espírita. Maio de 1865. Sobre as criações fluídicas. Mesmer. Allan Kardec)

Com relação ao uso de objetos fluídicos, na Revista Espírita de Novembro de 1864, Allan Kardec faz a seguinte explicação: "Tudo deve estar em harmonia no mundo espiritual, como no mundo material; aos homens corporais, são precisos objetos materiais; AOS ESPÍRITOS, CUJO CORPO É FLUÍDICO, SÃO NECESSÁRIOS OBJETOS FLUÍDICOS; os objetos materiais não lhes serviriam, assim como os objetos fluídicos não serviriam aos homens corporais." (Revista Espírita. Novembro de 1864. Conversas Familiares de Além-Túmulo. Pierre Legay, o Grande-Pierrot. Allan Kardec)

Além disso, é importante ressaltar que não é possível fazer uma comparação do tempo de permanência destas colônias espirituais de trasição, assim como dos objetos fluídicos, com relação ao nosso tempo terrestre,  pois segundo os Espíritos Superiores,  "OS ESPÍRITOS VIVEM FORA DO TEMPO COMO O COMPREENDEMOS. A duração, para eles, deixa, por assim dizer, de existir. OS SÉCULOS, PARA NÓS TÃO LONGOS, NÃO PASSAM, AOS OLHOS DELES, DE INSTANTES que se movem na eternidade, do mesmo modo que os relevos do solo se apagam e desaparecem para quem se eleva no espaço."(O Livro dos Espíritos. Questão 240. Allan Kardec)

A respeito das necessidades e sofrimentos dos Espíritos, Allan Kardec esclarece que isto  dependerá do grau de evolução deles, isto é, quanto mais denso é o seu perispírito mais eles sofrem e sentem necessidades, pois ainda estão apegados aos bens materiais. Vejamos o comentário de Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos":  "A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor.

(...)Liberto do corpo, O ESPÍRITO PODE SOFRER, MAS ESSES SOFRIMENTO NÃO É CORPORAL, EMBORA NÃO SEJA EXCLUSIVAMENTE MORAL, como o remorso, POIS QUE ELE SE QUEIXA DE FRIO E CALOR.

(...) DIZENDO QUE OS ESPÍRITOS SÃO INACESSÍVEIS ÀS IMPRESSÕES DA MATÉRIA QUE CONHECEMOS REFERIMO-NOS AOS ESPÍRITOS MUITO ELEVADOS, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. OUTRO TANTO NÃO ACONTECE COM OS DE PERISPÍRITO MAIS DENSO, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos.

(...)A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semimaterial se eteriza.

(...)Os sofrimentos por que passa são sempre a conseqüência da maneira por que viveu na Terra. (...) VIMOS QUE SEU SOFRER RESULTA DOS LAÇOS QUE AINDA O PRENDEM À MATÉRIA; que quanto mais livre estiver da influência desta, ou, por outra, quanto mais desmaterializado se achar, menos dolorosas sensações experimentará. Ora, está nas suas mãos libertar-se de tal influência desde a vida atual. "(O Livro dos Espíritos. 257. Allan Kardec)

Portanto, faz sentido quando o Espírito André Luiz afirma que no Umbral (zonas inferiores) existam Espíritos inferiores com sensação de "fome e sede", enquanto na colônia espiritual Nosso Lar existam Espíritos que alimentam-se de "caldo reconfortante e frutas perfumadas, que mais pareciam concentrados de fluidos deliciosos" para se adaptarem a fase de transição. Além disso, relata ainda que há Espíritos mais elevados que alimentam-se  apenas através da "respiração e da absorção de princípios vitais da atmosfera", pois "a alma, em si, apenas se nutre de amor". (Nosso Lar. Cap. 2, 9  e 18. Espírito André Luiz.  Psicografado por Chico Xavier)

"Segundo a crença vulgar, o céu e o inferno são lugares  circunscritos de recompensas e punições. Segundo o Espiritismo, levando os Espíritos em si mesmos os elementos de sua felicidade ou de seus sofrimentos, são felizes ou infelizes em qualquer parte onde se encontrem; as palavras céu e inferno não passam de figuras que caracterizam um estado de felicidade ou de desgraça. (...)  À medida que os Espíritos avançam na perfeição, habitam mundos cada vez mais adiantados fisicamente e moralmente. Sem dúvida é o que entendia Jesus por estas palavras: "Na casa de meu Pai há muitas moradas."  (Revista Espírita. Abril de 1869. Profissão de fé espírita americana. Allan Kardec)

"DEPENDENDO O SOFRIMENTO DA IMPERFEIÇÃO, COMO O GOZO DA PERFEIÇÃO, A ALMA TRAZ CONSIGO O PRÓPRIO CASTIGO OU PRÊMIO, ONDE QUER QUE SE ENCONTRE, SEM NECESSIDADE DE LUGAR CIRCUNSCRITO.

O inferno está por toda parte em que haja almas sofredoras, e o céu igualmente onde houver almas felizes. "(O Céu e o inferno. Cap. 7. Allan Kardec)

Entretanto, no livro "O Céu e o Inferno" o Espírito de Claire, por exemplo, afirma que existem trevas vísiveis, dizendo:

" (...) sofri por muito tempo nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, EXISTEM AS TREVAS  VISÍVEIS DE QUE FALA A ESCRITURA, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou culpados, depois das provações terrenas são impelidos a fria região, inconscientes de si mesmos e do seu destino. Acreditando na perenidade dessa situação, a sua linguagem é ainda a da vida que os seduziu, e admiram-se e espantam-se da profunda solidão: trevas são, pois, esses lugares povoados e ao mesmo tempo desertos, espaços em que erram pálidos Espíritos lastimosos, sem consolo, sem afeições, sem socorro de espécie alguma." (O céu e o inferno. Segunda parte. Cap. 4. Claire. Allan Kardec)

Portanto, apesar de não haver necessidade de existir UM LUGAR CIRCUNSCRITO, conclui-se que pode haver DIVERSAS REGIÕES inferiores ou cidades espirituais onde os Espíritos se agrupam conforme o seu grau de evolução, pois os Espíritos Superiores afirmam que "TAMBÉM OS ESPÍRITOS SE  AGRUPAM   EM  FAMÍLIAS, FORMANDO-AS PELAS SIMILITUDE DE SEUS PENDORES, MAIS OU MENOS PUROS CONFORME A ELEVAÇÃO QUE TENHAM ALCANÇADO.  Pois bem: um povo é uma grande família formada pela reunião de Espíritos simpáticos." (O Livro dos Espíritos. Questão 215. Allan Kardec)

Na questão 87, de "O Livro dos Espíritos", temos a informação de que existem Espíritos inferiores que não podem entrar em qualquer local, portanto faz sentido haver "mulharas" (altos muros) e "emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum" (armas) para proteger a colônia espiritual "Nosso Lar" de invasores (Nosso lar. Cap. 9. Espírito André Luiz. Psicografado por Chico Xavier). Vejamos o que está escrito na obra de Allan Kardec:  

Ocupam os Espíritos uma região determinada e circunscrita no espaço?

"Estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Tendes muitos deles de contínuo a vosso lado, observando-vos e sobre vós atuando, sem o perceberdes, pois que os Espíritos são uma das potências da natureza e os instrumentos de que Deus se serve para execução de seus desígnios providenciais. NEM TODOS, PORÉM, VÃO A TODA PARTE, POR ISSO QUE HÁ REGIÕES INTERDITAS AOS MENOS ADIANTADOS." (O Livro dos Espíritos. Questão 87. Allan Kardec)

Diante do exposto, Cairbar Schutel faz o seguinte esclarecimento:  "De modo que, como foi dito pelos Espíritos que ditaram ensinos a Allan Kardec, o Mundo Espiritual é um reflexo aperfeiçoado do mundo material. Com efeito, os videntes veem esse reflexo assim como os poetas e pensadores, debruçados à beira-mar veem em suas águas retratados os astros e as estrelas dos céus.

Para os homens na Terra, essa visão não passa de miragem, de reflexo, mas para os habitantes do Mundo Espírita, esse reflexo é tão real, como é real, na Terra, o que o homem vê, observa e executa: as cidades, casas, veículos, etc..

(...)a vida Além do Túmulo não se cifra num  Inferno candente, num Purgatório de labaredas, num Céu de beatífica e nula contemplação, num mistério, numa abstração; lá existem cidades flutuantes...

(...)Os Espíritos, logo que partem da Terra, pela transformação da morte, acostumados às sensações grosseiras e às percepções que lhe são dadas exclusivamente pelos cinco sentidos, não veem logo as coisas espirituais, não as percebem, e então continuam a utilizar-se desses mesmos sentidos; mas, não tendo mais o corpo carnal que lhes servia de "periscópio", encostam-se às pessoas da Terra que lhes são similares, para, com o auxílio destes intermediários, satisfazerem seus desejos materiais, pelos sentidos psíquicos. (...)Com razão, pois, se diz, que ao lado de cada homem, de cada pessoa, existem muitos Espíritos. E esse fato tem sido verificado pelos médiuns videntes, que os enxergam até mesmo, tomando parte nos nossos negócios, viagens, diversões.

(...)Quando o indivíduo é perigoso, obstinado criminoso contumaz, irredutível, os governos da Terra, encerram-no num presídio, ou deportam-no para outra nação; no Mundo Espírita, em semelhantes condições, enviam o Espírito, ou para um presídio, onde receba instrução e fique preso, ou para outro Planeta mais atrasado..."(A vida no outro mundo. Cap. 19.  Cairbar Schutel)

"Ora, todos sabem, perfeitamente, como é difícil abandonar hábitos enraizados, e a morte vem suprimir, de uma hora para outra, os hábitos costumeiros, dando lugar à aquisição de outros costumes, visto serem diferentes as condições do meio para o qual somos trasladados.

(...) o Mundo Espiritual é provido de meios que fornecem à vida de além-túmulo as condições indispensáveis para a transição. Por exemplo, dizem as entidades do Espaço que lá existem hospitais onde são tratados aqueles que passam por longa enfermidade, e os quais, por suas condições de atraso, não percebem o Mundo dos Espíritos em sua realidade. Aí são curados, e, depois, instruídos sobre a nova situação até que se adaptem ao meio em que se acham.

  Os Espíritos dos que morrem quando crianças, são acolhidos carinhosamente por missionários, que se dedicam a essa tarefa, e são igualmente instruídos até que se lhes desponte a consciência integral e desapareça deles o traço infantil gravado na "consciência pessoal". Assim também sucede com a alimentação. Aos entes muito materializados, que chegam ao Mundo Espiritual sem compreenderem a transformação porque passaram, e têm ainda sensação de fome e sede, lhes são ministrados alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao meio em que iniciaram a nova vida, compreendam que não têm mais necessidades desses alimentos, que julgavam precisos para sua manutenção.  Naturalmente, os alimentos assemelham-se muito aos que lhes eram usuais na Terra, mas são feitos de matéria peculiar ao Mundo dos Espíritos e de acordo com o corpo fluídico, ou seja, o organismo perispiritual de cada um".(A vida no outro mundo. Cap. 13. Cairbar Schutel)

A médium Yvonne Pereira faz a seguinte explicação: "As construções do meio invisível são edificadas com as essências disseminadas pelo Universo infinito, para a realização dos desígnios da Providência a nosso respeito, isto é, para a criação de quanto seja útil, necessário e agradável ao nosso Espírito, quer se encontre este sobre a Terra, reencarnado, ou fruindo os gozos da Pátria Espiritual; trata-se do fluido cósmico universal, ou de certas modificações deste, de que se origina o fluido espiritual; do éter fecundado, fonte geradora de tudo quanto há dentro da Criação, inclusive os próprios planetas materiais e o nosso perispírito.

(...)No Espaço, como, aliás, na Terra, a vontade é soberana, o pensamento é motor, é produtor, é criador.  (...) Será tanto mais rápido quanto maiores forem as potências mentais criadoras reunidas.

Essas criações, tais como forem - belas, artísticas, verdadeiros trabalhos de ourivesaria fluídica, deslumbrantes, mesmo, por vezes - obedecerão, no entanto, às recordações ou gosto estético dos operadores, razão por que se parecem com as da Terra, sem que as da Terra se pareçam com elas, como afirmou algures a ilustre entidade espiritual André Luiz, pois que muito mais perfeitas são elas do que os homens julgam.

Não obstante, somos levada a julgar, graças às mesmas observações a que nos conduz a Revelação, que ESSAS EDIFICAÇÕES NÃO SERÃO PERMANENTES NEM FIXAS NUMA DETERMINADA REGIÃO. SERÃO ANTES MÓVEIS, TRANSPLANTANDO-SE PARA ONDE SE FAÇA NECESSÁRIA A PRESENÇA DA FALANGE QUE AS CRIOU. SERÃO PASSÍVEIS DE SE DISSOLVEREM SOB O DESEJO DOS SEUS CRIADORES, ou de se modificarem segundo as conveniências. Se essa falange receber em seu seio discípulos e pupilos, estes poderão tornar-se cooperadores, exercitando os próprios poderes mentais na criação de detalhes, sujeitos ao veredicto dos mestres, e assim progredirão em saber, desenvolvendo forças latentes, evoluindo e se engrandecendo, pois tudo isso é caminhar para a perfeição.

Tratando-se de entidades inferiores, dá-se idêntico fenômeno de criação mental, não obstante a diferença impressionante na direção criadora, uma vez que estes operadores ignoram sejam os ambientes que os rodeiam criações de suas próprias mentes, pois que o feito também se poderá operar à revelia da vontade premeditada e intencional, sob o choque emocional da mente exacerbada, bastando apenas que seus pensamentos trabalhem ou se impressionem com imagens fortes, como acontece com os suicidas, que vivem rodeados de cenas macabras de suicídio.

 (...) Nós mesmas, as criaturas encarnadas, estaremos dentro de "regiões" criadas pelo nosso pensamento, além de permanecermos na crosta do planeta.Nossos pensamentos estarão estereotipados, concretizados pelo poder motor das nossas energias mentais atuando sobre os fluidos sublimes em que mergulha o Universo criado pelo Todo-Poderoso, embora não se trate de movimento tão intenso nem tão real como os de um desencarnado.

Mas, ainda assim, é devido a isso que os desencarnados surpreenderão o que pensamos, o que são o nosso caráter e o nosso sentimento, as nossas intenções e tendências, pela natureza das "edificações" mentais que nos acompanham."O reino de Deus está dentro de vós", asseverou o Cristo. E nós outros certamente poderemos acrescentar: "E também o nosso Inferno! "(Devassando o invisível. Yvonne Pereira).

Segundo Herculano Pires, "Os religiosos que criticam as descrições mediúnicas do além não deixam de aceitar essa descentralização da vida, mas não admitem a sua interpretação ou explicação racional. Apegam-se a dogmas, a princípios rígidos de fé, mantendo-se no plano do mistério. Entretanto, se convivessem um pouco mais com os textos sagrados de suas próprias religiões, veriam que a existência de cidades espirituais no além-túmulo, de habitações, vegetais e animais, não é, como supõem, uma invenção dos espíritas. O Velho Testamento e o Novo Testamento, por exemplo, estão cheios de descrições dessa ordem. Basta lembrar-se o que diz Isaías (33:17,20) sobre "a terra de longe" e a "Sião da solenidade", e o Apocalipse de João sobre a Jerusalém celeste.

No tocante às revelações mediúnicas, as descrições de André Luiz não constituem novidade, a não ser quanto ao que trazem de pessoal, da maneira de ver do autor. Já em O Céu e o Inferno, Kardec apresenta descrições semelhantes. Na Revue Spirite, o codificador publicou numerosos relatos de além-túmulo no mesmo sentido." (O infinito e o finito. Cap. 32. J. Herculano Pires)

Sendo assim, conclui-se que não há nenhuma contradição entre os Ensinamentos dos Espíritos Superiores, publicados por Allan Kardec, e as obras complementares publicadas pelos médiuns Chico Xavier e Yvonne A. Pereira. O que existe, na realidade, são interpretações equivocadas de alguns Espíritas radicais que não fizeram uma comparação sistematizada das revelações espíritas conforme recomenda o Codificador para descobrir a VERDADE. 

As obras de Allan Kardec são base da Doutrina Espírita e ele fez a seguinte afirmação: "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. "(A Gênese. Cap. 1. Allan Kardec)

Segundo o Espírito Emmanuel, "Na Doutrina Espírita, não se dirá que Allan Kardec foi ultrapassado, de vez que os nossos princípios avançam com o fluxo evolutivo da própria vida e, à maneira da árvore que para mostrar a excelência do fruto não dispensa a raiz, tanto quanto o edifício vulgar para crescer em nova pavimentação não prescinde do alicerce, o Espiritismo não fugirá das diretrizes primeiras, a fim de ampliar-se em construções mais elevadas, com a segurança precisa." (Doutrina e vida. Em honra a Kardec. Espírito Emmanuel.  Psicografado por Chico Xavier) 

De acordo com Léon Denis, "Espiritismo não é uma ortodoxia no sentido de doutrina fechada, de doutrina rígida, é simplesmente uma representação livre do pensamento, é uma evolução, é uma etapa para a verdade integral, para o infinito. " (Congresso Espírita internacional de Paris  em 1925. Léon Denis)

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